domingo, 3 de abril de 2016
Caro Leitor, seguem-se mais duas crónicas de Maria Margarida Mascarenhas. São escritos inéditos que aqui se publicam, gentilmente enviados por Adriano Miranda Lima
 
 
BLOW UP
 
Resposta a Adriano
Não a esse que construiu o Muro e delimitou as fronteiras do seu poder que dialogou com a Yourcenar, também Margarida de nome, mas ao amigo dessas viagens ontológicas.
É que esse convite chegado por power point convidando-me ao esplendor de uma viagem ao cosmo, de escalas aumentadas ou reduzidas, em sentido inverso elevado à potência n, teve sempre um ponto de partida e de chegada convencional. No power point era a folha de uma árvore.
Mas nunca deixei de sentir que eu era o passageiro no verdadeiro sentido de todas as viagens e que o condutor do veículo não se via, mas lá estava no eixo do caminho aleatoriamente escolhido. Logo, há uma escolha. Não sei se uma opção.
Mas alguém ou algo propunha um diálogo dando-me a capacidade de interpelar. De interpelar o universo em todos os sentidos cognoscíveis. Para ficar a saber que uma rosa, não é uma rosa, não é uma rosa; mas que é a rosa. Enfim, para me levar nesta viagem das ideias no meu microcosmo de cogitações e enigmas e deparar com a interrogação de um Nietzsche aos gregos, que colocaram o homem como a medida de todas as coisas porque precisamente eles tinham a necessidade da tragédia. E no fim para me relembrar que é questionável a problemática da ciência como é hoje entendida.
E o que explica a coincidência de estar a preparar uma crónica sobre o blow-up precisamente quando na noite seguinte assisto a um documentário sobre o nosso planeta e as suas vicissitudes de milhões de anos, de cataclismos naturais, de separação dos continentes, de degelos e desaparecimento de dinossauros? É tudo indiferente a esta criatura que aqui debita e sente uma frisson ou calafrio por saber que de 30 em trinta milhões de anos acontecem as catástrofes quando, no seu trajecto no universo, a Terra se encontra numa zona mais densa que provoca tempestades solares e queda de meteoros e... que podemos estar agora nessa fase cíclica?
Todos estamos cônscios da nossa finitude mas a tragédia faz-nos questionar e interpelar? E recebo a interpelação do Adriano precisamente neste nó existencial. Alguém me interpela.
Parece que no universo tudo está escrito e imutável e que alguém brinca connosco num diálogo socrático intencional fornecendo-nos pistas e chaves inseguras mas que nos vai espiralando num vertiginoso crescente e decrescente blow-up. Ampliando ou diminuindo, explodindo ou não, afastamo-nos sempre individual e colectivamente porque quanto mais aumentamos mais desfocamos, embora recortando o objecto sem encontrar a solução do enigma.
 
Lembram-se do filme BLOW-UP?
 
 
Paço de Arcos, 30 de Novembro de 2006
 
 
Maria Margarida Mascarenhas
 
 
 
 
 
 
 
Amores-Perfeitos
 
Estamos na estação dos amores-perfeitos. Informação dada no momento rural da manhã pelo engenheiro agrónomo Sassetti. E mais! Seguem o ciclo da vida.
Não suportam o Inverno nem o Verão. Teremos de optar por guardar as sementes ou comprá-las nos viveiros da Câmara e vê-las crescer pela raiz.
 E por essa magia com que pinto o meu quotidiano, abro o computador e descubro esse mimo de singeleza oferecido pelo amigo Adriano: Esse cartoon animado em simplicidade de traço Modigliani que me fala do mistério da renovação da vida e que me traz à ideia o nosso Nobel de literatura com as intermitências da morte. Esse desafio ao nosso desejo de perenidade. Num segundo que dura a nossa eternidade, passamos pelo prazer, pela alegria, pela união/afastamento e pelo desgosto não separado de uma liturgia necessária à citação do nosso destino.
 Desfilam como num filme os meus avós, pais, sobrinhos e netos nessa matrioska do nosso entendimento e dos nossos limites num ”never-ending story”.
E vou-me renovando pelas raízes, plantando amores-perfeitos nas estações em que se me oferecem em pleno, embora tenha em casa umas imitações de plástico…como as fotografias que emolduram o meu espaço.
 Plantemos amores-perfeitos e … que sejam perfeitos ”enquanto duram”
 
Paço de Arcos, 22 de Fevereiro de 2006
 
Maria Margarida Mascarenhas
 


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


 
 
 
 
 


0 comentários:

Enviar um comentário