Caro Leitor, seguem-se mais duas crónicas de Maria Margarida Mascarenhas. São escritos inéditos que aqui se publicam, gentilmente enviados por Adriano Miranda Lima
BLOW UP
Resposta a Adriano
Não a esse que
construiu o Muro e delimitou as fronteiras do seu poder que dialogou com a
Yourcenar, também Margarida de nome, mas ao amigo dessas viagens ontológicas.
É que esse
convite chegado por power point convidando-me ao esplendor de uma viagem ao
cosmo, de escalas aumentadas ou reduzidas, em sentido inverso elevado à
potência n, teve sempre um ponto de partida e de chegada convencional. No power
point era a folha de uma árvore.
Mas nunca deixei
de sentir que eu era o passageiro no verdadeiro sentido de todas as viagens e
que o condutor do veículo não se via, mas lá estava no eixo do caminho
aleatoriamente escolhido. Logo, há uma escolha. Não sei se uma opção.
Mas alguém ou
algo propunha um diálogo dando-me a capacidade de interpelar. De interpelar o
universo em todos os sentidos cognoscíveis. Para ficar a saber que uma rosa,
não é uma rosa, não é uma rosa; mas que é a rosa. Enfim, para me levar nesta
viagem das ideias no meu microcosmo de cogitações e enigmas e deparar com a
interrogação de um Nietzsche aos gregos, que colocaram o homem como a medida de
todas as coisas porque precisamente eles tinham a necessidade da tragédia. E no
fim para me relembrar que é questionável a problemática da ciência como é hoje
entendida.
E o que explica a
coincidência de estar a preparar uma crónica sobre o blow-up precisamente
quando na noite seguinte assisto a um documentário sobre o nosso planeta e as
suas vicissitudes de milhões de anos, de cataclismos naturais, de separação dos
continentes, de degelos e desaparecimento de dinossauros? É tudo indiferente a
esta criatura que aqui debita e sente uma frisson ou calafrio por saber que de
30 em trinta milhões de anos acontecem as catástrofes quando, no seu trajecto
no universo, a Terra se encontra numa zona mais densa que provoca tempestades
solares e queda de meteoros e... que podemos estar agora nessa fase cíclica?
Todos estamos
cônscios da nossa finitude mas a tragédia faz-nos questionar e interpelar? E
recebo a interpelação do Adriano precisamente neste nó existencial. Alguém me
interpela.
Parece que no
universo tudo está escrito e imutável e que alguém brinca connosco num diálogo
socrático intencional fornecendo-nos pistas e chaves inseguras mas que nos vai
espiralando num vertiginoso crescente e decrescente blow-up. Ampliando ou
diminuindo, explodindo ou não, afastamo-nos sempre individual e colectivamente
porque quanto mais aumentamos mais desfocamos, embora recortando o objecto sem
encontrar a solução do enigma.
Lembram-se do
filme BLOW-UP?
Paço de Arcos, 30 de Novembro de 2006
Maria Margarida Mascarenhas
Amores-Perfeitos
Estamos na estação dos amores-perfeitos. Informação dada no
momento rural da manhã pelo engenheiro agrónomo Sassetti. E mais! Seguem o
ciclo da vida.
Não suportam o Inverno nem o Verão. Teremos de optar por guardar as
sementes ou comprá-las nos viveiros da Câmara e vê-las crescer pela raiz.
E vou-me renovando pelas raízes, plantando amores-perfeitos nas estações em
que se me oferecem em pleno, embora tenha em casa umas imitações de
plástico…como as fotografias que emolduram o meu espaço.
Paço de Arcos, 22 de Fevereiro de 2006
Maria Margarida Mascarenhas
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