A
fechar o chamado “Mês da Mulher,” gostaria de registar aqui, algo que de há
muito me vem preocupando e que diz respeito ao modelo de família em Cabo Verde.
Temos
vindo a ouvir de forma já esperada, reiterada e recorrente ao longo de anos, -sobretudo
quando chega o mês de Março - o elogio da mulher-mãe de família monoparental que
carrega sozinha nos seus ombros, a missão parental e a tarefa da criação e da
educação dos filhos, regra geral numerosos e sem a presença do progenitor deles.
Não nego que ela não seja merecedora de respeito e dos encómios que à volta
dela são tecidos. Isto tendo em consideração, a luta que ela trava no seu dia a
dia, para garantir a sobrevivência condigna do seu agregado familiar.
Ora bem,
uma coisa é a verificação desta realidade existente entre nós, e ela
infelizmente, nos conduz ao tipo de família monoparental - em que a mulher é a
chefe de família - como o modelo de família de significativa faixa da nossa
população - sobretudo a mais pobre e a menos escolarizada
Coisa outra
e bem diferente é igualmente verificar que este modelo familiar não deixa de
ser um mau modelo e, como tal, deve merecer a nossa reflexão crítica, no
sentido da sua minoração ou mesmo, da sua erradicação do tecido populacional futuro,
destas ilhas.
É minha
convicção de que estamos perante um dos problemas mais dolorosos e mais desafiantes
que este país tem por resolver a bem da criança e da família.
Mas
vamos por partes, e vamos tentar enumerar aquilo que se aproxima de uma família
nuclear, capaz de sustentar, de educar os filhos e de torná-los futuros cidadãos
cívicos, seguros e confiantes para a vida.
Para
isso, teremos de eleger alguns parâmetros, como ponto de partida para a
construção do núcleo familiar:
1-Toda
a criança precisa e quer ter a presença da mãe e do pai. Os dois são figuras referenciais
indispensáveis para o seu equilíbrio emocional e para a sua segurança física e
psíquica.
Esta
deve ser a premissa fundamental para os jovens quando pensam e desejam constituir
família. A presença e a responsabilização de ambos os progenitores, é a
fortaleza, mais segura e protectora da criança. Salvo, os casos imponderáveis que
infelizmente acontecem em que a criança é criada apenas por um dos progenitores.
Ressalvados aqueles casos, o modelo monoparental de família deve ser excepção e não regra
2- A
escola deve aprofundar e destacar no seu programa de Formação Pessoal e Social,
dirigido a alunos de ambos os sexos, as questões relativas à família e à
necessidade da responsabilidade parental num quadro equitativo de
responsabilidades distribuídas entre o pai e a mãe.
3 – Na
mesma linha mostrar a futuros pais, o negativo de a criança ser criada e educada
no seio de família monoparental. Os problemas disso advenientes. A pobreza
material e o déficit educativo que lhe estão adjacentes. Para exemplificar: os
casos de rebeldia e de marginalidade infanto/juvenil; o insucesso escolar
precoce, são fenómenos que ocorrem com muita frequência neste tipo de família. Teses
e estudos feitos apontam para os malefícios sociais que impendem sobre a
criança educada no seio de família monoparental, disfuncional e pobre.
4 – A
sociedade no seu todo, os parceiros sociais da família, as Associações da Família, a Igreja, a Comunicação
Social, os governantes, deveriam aproveitar o mês de Março, incluindo, o Dia do
Pai, para fazer ver que a família monoparental não é a melhor, e nem poderá ser
a desejável - nem de longe, nem de perto - para a nossa criança, porque
naturalmente disfuncional em termos de afecto e de cuidados que ela precisa dos
pais e, para além do mais, regra geral, à família parental está associada e
muito próxima, a ideia de pobreza. Por vezes, até é sinónima dela (a pobreza).
Todavia, para mal dos nossos pecados, é assim
que vive uma parcela muito significativa de crianças em Cabo Verde.
Para
terminar, tal como vem no título que encima este escrito, a Mulher
cabo-verdiana cantada e elogiada no mês de Março é normalmente mãe de família
monoparental em que não abunda nem afecto, nem cuidados e nem pão.
Concluindo,
esta forma de organização familiar, representa uma das maiores calamidades
sociais destas ilhas.
1 comentários:
Felicito a Dra. Ondina Ferreira pela pertinência e
objectividade da sua reflexão. É um facto que a mulher cabo-verdiana merece ser heroicizada, mas esbarra-se num paradoxo quando o que está em causa é "normalmente mãe de família monoparental em que não abunda nem afecto, nem cuidados e nem pão". E também não se pode ignorar que na maior parte dos casos ela cai com facilidade nas malhas do engano ou do logro, sem pensar nas consequências que advirão. É lastimável que o progenitor, mesmo que o seja numa situação ocasional, não assuma as suas responsabilidades. Por isso, ao mesmo tempo que se homenageia a mãe cabo-verdiana, tem de se execrar o pai cabo-verdiano que abdica completamente dos encargos que devia assumir. Ou que tinha obrigação moral de prevenir.
Por acaso, escrevi há alguns anos sobre este problema.
Mas admito que o problema não tenha as proproções que já teve outrora. É que numa entrevista que ouvi a alguém foi afirmado que a população cabo-verdiana está a decrescer, ou pelo menos a não crescer como antes. Contudo, desconfio que o fenómeno é mais resultante de uma menor natalidade entre famílias normais do que a expressão de um comportamento generalizado. A pobreza e a baixa escolaridade é que propiciam a procriação nas condições aqui subentendidas.
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