Alguns
assuntos que aparentemente não têm interesse de maior ganham certa dimensão
quando observados de determinados ângulos.
Vejo
amiúde o PM do meu País na TV e desagrada-me a frequência com que aparece para
tratar de assuntos verdadeiramente menores em tom de voz nem sempre agradável e
amistoso. Parece que o governo é só ele e que não tem nenhum colaborador com
gabarito para ser porta-voz dos assuntos relativos a esse órgão de soberania.
Preocupante
foi mesmo, vê-lo a ler e a comentar as posições e as respectivas variações de
Cabo Verde no ranking do Banco Mundial expresso no seu Relatório Doing Business
2014. Embora o tom de voz não fosse “comicieiro”, nem o assunto fosse tão
despiciente, não me parece que merecesse uma conferência de imprensa do PM e
muito menos para justificar a ausência de uma ministra numa reunião da Comissão
Europeia, como acabou por acontecer, depois de a própria já o ter feito
publicamente. Não há um porta-voz?
Uma
moeda “comum” ancorada em economias com recursos, graus de desenvolvimento e
estruturas organizativas bem diferentes e inserida na mais pobre, desestruturada e militarmente intervencionista
comunidade económica do mundo com a agravante para o caso do nosso país, da
acentuada descontinuidade territorial (interpondo-se a UEMOA/EURO) factor que
dissipa uma eventual sinergia económica. O exemplo de Portugal e os debates
sobre o assunto poderão permitir, mutatis
mutandi, tirar-se as devidas conclusões.
Ao
estabelecer o horizonte de 2020 para a entrada em circulação dessa moeda ele
contradiz-se com o estudo que anuncia realizar que o poderá, estou convencido
disso, desaconselhar de todo. Ou então esse estudo é apenas um pró-forma, uma
vez que a decisão já está tomada. Seria muito grave.
De
todo o modo esperemos todos que o PM contenha o seu entusiamo e euforia, que o
bom senso prevaleça e que haja, pelo menos nesta questão, um profundo e
rigoroso respeito pelos limites do mandato de forma que nenhum compromisso seja
tomado em nome de Cabo Verde que venha a amarrar o País. É um assunto sério de mais
para ser tratado com ligeireza ou epifanias capciosas.
Só
queremos, e ficaríamos muito agradados, que o PM resolva os problemas e as
promessas para os quais foi eleito e que não se exorbite projectando-os para
além daquilo para o qual não está mandatado pelo povo.
Falando
de desenvolvimento, um outro assunto que deve ser revisto é esta lengalenga de
transformar o nosso País numa plataforma giratória ou “hub” como se tornou
chique dizer-se. É um discurso esgotado e já sem sentido. “Hub” de quê? Com o
continente aqui ao lado que vantagens competitivas podemos nós apresentar?
Porque será que a “South African Airways” nos deixou? Porque será que o porto
de Dakar é mais importante do que qualquer dos nossos grandes portos?
Não
obstante convivermos muito mal com a verdade e com a modéstia procuremos ser
minimamente honestos. Meditemos sobre o assunto e não criemos ilusões e falsas
expectativas.
Ninguém
sairá de um país africano – Guiné-Bissau, Guiné-Conacry, Côte d’Ivoire, Gâmbia
ou outro – para apanhar um barco ou um avião em Cabo Verde para o transportar, ou
a sua mercadoria, para o outro lado do Atlântico se pode inclusive viajar de
carro e transportar o seu produto em camiões directamente de e para o porto de
Dakar. Seria sempre uma duplicação de operações com todos os custos inerentes. Refiro-me
a países situados na mesma região e cito o nosso mais perto concorrente. Somos
ilhas. Não damos continuidade. Qual seria a vantagem? Ou a mais-valia como é
moda dizer-se?
Seremos
sempre, e por muitos anos, apenas uma escala técnica e um destino turístico se
o soubermos manter e preservar depois de outros ultrapassarem a crise de
segurança em que circunstancialmente se encontram. Nunca verdadeiramente uma
placa giratória.
Não
brandamos mais a bandeira do “hub”! Sejamos realistas e sérios.
Outra
declaração que não obstante merecesse uma análise, ainda que ligeira, mas sobre
a qual não me vou aqui sequer debruçar, é a anunciada, por parte do PM, linha
marítima para breve para o Senegal quando temos ainda ilhas sob este aspecto
completamente descobertas como é o caso de Maio e Brava e muito mal servidas
como S. Nicolau, Sal e Boa Vista. Mais uma fuga para a frente.
Começa
a ser fatigante e, na maior parte das vezes, sem qualquer pertinência, a
permanente presença do PM na comunicação social e chegou o momento de lhe
pedir, com todo o respeito, que tenha algum comedimento verbal e alguma parcimónia
em aparecer nos media.
Como
tem sido, até parece que disponibiliza muito mais do seu tempo para a
propaganda política do que para a efectiva governação.
E é
caso para se perguntar: Por onde andam os conselheiros do senhor
Primeiro-Ministro?
A. Ferreira