Causa enorme preocupação a qualquer
encarregado de Educação, a qualquer cidadão, minimamente consciente, o que se
está a passar nas ilhas com a questão das máscaras e a sua não utilização generalizada
entre jovens em idade escolar.
É vê-los em grupos, agora que estão de
férias, nas ruas, muito próximos uns dos outros e sem máscaras ou outro meio de
protecção.
Se perguntados, quase todos responderão desta
forma, apenas com algumas variantes: “Sim, eu queria usar máscara...mas como
obter uma, se são tão caras!?”
Já se parou um momento para se questionar
sobre a exorbitância que passou a ser, em termos de preço, uma máscara
descartável, dita cirúrgica comprada nas farmácias?
O que surpreende e não se compreende é que
antes da pandemia, sem “doações”, sem subsidiação e sem grande procura de
máscaras – economia de escala – o seu preço era em média 15$00 por unidade e actualmente,
após o surto pandémico, em que a procura e a necessidade das máscaras terão, logicamente,
aumentado exponencialmente, elas passaram a custar em média, mais de 100$00 por
unidade, isto é, quase sete vezes mais. Atenção: 7 vezes mais!!!
Será que o Estado, através dos mecanismos
adequados não poderá pôr cobro a esse “lucrativo” negócio de máscaras?
Não estará a haver uma especulação visível e
consentida num momento tão frágil e tão delicado de Saúde Pública?
Quem poderá ter a coragem de tirar
escandalosa e oportunisticamente proveito da pandemia?
Quem estará a fazer negócio com a Saúde Pública
tolhendo os jovens e as famílias de parcos recursos o acesso aos meios de
protecção indo mesmo ao arrepio das grandes orientações das autoridades
sanitárias sobre a matéria?
Num
país em que a média da população é pobre e proveniente de família numerosa e monoparental;
em que o problema de habitação e alojamento – espaço de isolamento ou de
coabitação – se põe com grande acuidade; em que o risco de contágio e de
difusão do covid-19 é altíssimo; em que a faixa da população que não possui
condições económicas para usar os tais recomendados equipamentos de protecção
individual e social é muito significativa, não deveria o Governo, na sua
política de prevenção, procurar em primeira instância, soluções que colmatassem
essas situações? Que facilitasse a protecção e combatesse a disseminação?
E digam-me como exigir que os nossos
estudantes usem máscaras se os preços delas são incomportáveis com o poder de
compra da maior parte da população cabo-verdiana? O salário mínimo é de
13.000,00 CV, isto é, menos de 450,00 por dia! Acresce-se a isso o aumento do
desemprego, devido ao Covid-19.
Convém ter presente que em breve iniciar-se-ão
as insubstituíveis aulas presenciais.
Isto é, vamos ter Professores e alunos numa
sala de aula – com os cuidados profilácticos necessários – pois só assim é que
se realiza em plenitude, o acto didáctico/pedagógico a que damos o nome de aula.
Neste contexto, as aulas virtuais, a
telescola, serão sempre complementos/suplementos e como tal, funcionarão
subsidariamente.
Com efeito, nada substitui a aula presencial,
reitero. As outras formas lectivas são último recurso, com imensas
deficiências, entre as quais destacaria: as condições de residência do aluno, o
número do agregado familiar, geralmente numeroso; o acesso aos aparelhos receptores
das aulas tele-transmitidas; as condições de audição/recepção das aulas (meio
envolvente); o manter despertos o interesse e a atenção do aluno num tipo de
aula virtual e sem interacção professor/aluno; aluno/aluno; entre outros
factores que marcam enorme diferença
entre a aprendizagem e o saber do aluno,
resultantes de uma aula presencial face aos constrangimentos da aula totalmente
virtual.
Mas retomando a questão das máscaras, volto a
questionar, o que terá acontecido para que houvesse, após o surto da covid-19,
um disparar altíssimo no preço das máscaras? Logo agora que estão em maior
quantidade no mercado e serem quase consideradas produtos de primeira
necessidade?
Não quero com isso dizer, que as máscaras devam
ser de graça, sem custo ou, simplesmente ofertadas. Não, nada disso.
Mas é minha firme convicção de que no caso de
alunos e de crianças em idade escolar, a máscara devia ter um preço simbólico e,
em certos casos e com alguma ponderação – para ser obrigatório o seu uso – gratuitas
para famílias numerosas e que vivam no limiar da pobreza.
É que só assim poder-se-ia acreditar que
estavam a ser feitos esforços reais para tentar debelar ou reduzir os efeitos
perniciosos do tão maléfico vírus!
Não será a ausência de meios de protecção
individual e social, uma das razões que explica que Cabo Verde tenha chegado a
um dos mais altos rácios de contaminados – 78 por 100 mil habitantes? Cerca de quatro vezes do permitido (20 por 100
mil) para se viajar para o espaço europeu...
Convenhamos que é um número que merece uma
profunda reflexão e tomada de medidas consentâneas com a sua gravidade.
Não é por acaso que estamos a assistir e a
sofrer as consequências nefastas, com o aumento de casos infectados que se vem
verificando um pouco por cada ilha, com expressão maior na Cidade da Praia.
E se assim continuarmos, o atendimento
sanitário será cada vez pior, mais complicado, dada a penúria existente de
meios de atendimento hospitalar, das precárias condições dos albergues
provisórios e improvisados – devidos à urgência dos casos – para o isolamento
profiláctico dos contaminados.
Infelizmente, outras consequências nefastas,
espelham-se igualmente nas actividades económicas, na educação, na vida cultural
e social destas ilhas, com o aumento assustador da infecção viral.
Já se ponderou sobre a falta que faz uma
política social da aquisição e disseminação do uso das máscaras de protecção em
Cabo Verde?!
Minha gente, pensemos nos mais necessitados e
nos mais vulneráveis. É obrigação de todos e, sobretudo, daqueles que nos
governam.
Protejamos – tornando as máscaras acessíveis –
os alunos que brevemente iniciarão as suas actividades lectivas.
O Covid-19 não escolhe idade!...