Bem dizer, bem escrever - ou o cuidado com a Língua –

domingo, 31 de maio de 2020



 Clarifico o leitor que o  título deste escrito foi tomado de empréstimo ao conjunto dos livros sobre esta matéria – Bem Dizer, Bem Escrever - publicados há já alguns anos por Edite Estrela, e que amiúde, consulto.
Ora bem, isto trouxe-me à memória umas férias passadas nos Mosteiros, ilha do Fogo, com as minhas duas netas mais velhas, a Inês e a Margarida, quando as levei para conhecerem a casa de infância da avó.
Remexendo e rearrumando cartas e documentos muito antigos, a Inês – com a minha permissão - releu algumas cartas que nós – filhos - escrevíamos aos pais, ora de Mindelo, ora da Praia, quando saímos da casa paterna em demanda de estudos liceais, exactamente nas duas ilhas do Arquipélago em que havia Liceus. Eram cartas as mais das vezes muito saudosas da falta que nós sentíamos dos pais, da casa e ao mesmo tempo lhes dávamos contas do nosso andamento escolar.
Assim situadas, vale dizer que uma das coisas que chamou atenção da leitora da ocasião - a Inês - pois que fazia a leitura em voz alta, para mim e para a Margarida, esta última também achou isso interessante, foram as correcções  que a mãe Celina, a bisavó, fazia às palavras e/ou às construções frásicas incorrectas por nós cometidas, (sublinhando-as) nas respectivas cartas.
Isso significava que nas chamadas férias grandes e uma vez retornados à casa, lá tínhamos nós de fazer com ela as correcções devidas.
Lembro-me que para alguns de nós (sete filhos) era um autêntico e desagradável corte no tempo  que o queríamos todo para gozar férias. Nadar, jogar e nada  fazer ...
Mas anos passados e relendo as cartas, acho que todos somos bem agradecidos à nossa mãe professora e cuidadosa educadora.




segunda-feira, 25 de maio de 2020

Notas de uma Afro-céptica

Tenho vindo a  assumir-me a cada dia que passa como  afro-céptica.
Mas nem sempre foi assim. Nos gloriosos anos sessenta e meados dos anos setenta do século XX tive muita esperança neste Continente, que hoje celebra o seu Dia - 25 de Maio, Dia de África.
Nessa altura acreditava que os países que iniciavam os primeiros passos pós-independência e que uma vez libertos do colonialismo europeu, se desenvolvessem de facto e que os seus habitantes tivessem com isso algum bem-estar económico, social e cultural.
Afinal falávamos de países ricos em minérios, abundantes em recursos naturais e que tudo isso haveria de ser posto ao serviço do progresso dos respectivos povos e do desenvolvimento de cada um dos países agora soberanos.
Olhem para o mapa e percorram os ditos grandes países africanos e digam-me honestamente o que observam:
v  Quase nenhum possui um Sistema Nacional de Saúde.
Não há qualquer investimento sério no combate às grandes  endemias como a malária, o ébola, a cólera e outras de semelhante teor e de igual desgraça.
Não se ouve falar de comunidades científicas ou académicas africanas investigar as doenças e os males que assolam o Continente.
v  o Sistema Educativo é outra desgraça em termos de estruturação, a começar pela  alfabetização básica e universal.
v  a habitação, o meio envolvente de grandes zonas onde está sediada parte  significativa da população, de vários países africanos, ou continuaram guetos ou são casebres ou bairros de lata, formando grandes cinturas urbanas, onde a saúde e o conforto não entram. Não coexistem com os moradores. Apenas a miséria e a sub-nutrição aí campeiam.
- A maior parte dos líderes ou governos dos países de África só nos envergonham  pela forma como conduzem os destinos do Estado e da Nação para que foram eleitos.
Quando fazem da governação uma autêntica cleptocracia, e para a manterem, sustentam-na no autoritarismo, na repressão, na violência e na ausência de democracia real no  país.
- os conflitos armados são o pão-nosso de cada dia em vários países africanos. E note-se, os conflitos são na generalidade dos casos, do tipo guerra civil com base em questões mesquinhas de carácter étnico e de luta pelo poder.
E o que dizer desta continuada e vergonhosa fuga/emigração em condições infra-humanas  de transporte, de crianças, (estas por vezes não acompanhadas) e  de adultos oriundos de países africanos numa procura desesperada da Europa, se não por mor, de apenas e unicamente, da má governação dos respectivos países?
 - A arte é representativa, reveladora e expressiva de sofrimento do povo. Nisso os artistas africanos são mestres, pois que se inspiram e o reflectem com imenso vigor, a partir de uma realidade que lhes é quotidiana.
Reparem nas letras das composições hodiernas, da maior parte dos canções oriundas de certos países do Continente em que os seus cantores não param de chorar, lamentar o estado actual dos seus compatriotas e a  indignidade de vida dos habitantes, sofrida e longe de alcançar algum bem estar dado o perfil da governação.
 Ainda no campo da arte, observem com olhos de ver, a figuração pictórica, os quadros, a pintura africana. São normalmente gritos sufocados de dor, de espanto, sem vislumbre de alegria e muito menos de alguma felicidade tranquila...
Neste quadro que peca por ser redutor, isto é, muito longe da exaustão, que esperar no presente e num futuro próximo do “índice de felicidade” (que hoje constitui um parâmetro para a medição ou a para a percepção do grau de bem-estar de cada comunidade) dos povos de cada um dos países africanos?
A terminar, um pedido: por favor não se fixem nessa espécie de obsessão de ainda lançar todas as culpas para cima do colonialismo. Estabeleçam um paralelismo com certos países da Ásia também saídos, mais ou menos, na mesma altura do colonialismo antes de atribuir culpas.  Não se esqueçam que muitos países africanos, se não a maior parte, já são independentes há  mais de cinco décadas.  Tempo mais do que suficente de se terem desenvolvido e, sobretudo,  libertado de fantasmas do passado.
 Já é tempo de se assumirem e de se auto-culparem pelos erros e pelos males que os próprios provocam nos seus países.

Façam à língua o mesmo que ao euro: igual na face, mas reversos diferentes

domingo, 17 de maio de 2020


Nuno Pacheco*

Como pedra lançada num lago, o Dia da Língua não cessa de produzir ondulações. Há dias, chegou-nos a mensagem que, a tal propósito, difundiu o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo. Disse ele: “A experiência humana não se narra num idioma global asséptico, invertebrado. Narra-se nas línguas específicas. Em cada qual a humanidade se articula em formas diferentes. Em cada língua há coisas que somente nela se podem dizer.” Pois. Já o primeiro-ministro português, António Costa, dissera à agência Lusa: “O português tem uma característica importante, tem-se sabido adaptar a diferentes territórios onde tem evoluído. […] Hoje é uma língua que pertence a muito mais pessoas no Mundo do que só a nós portugueses e isso traduz-se em formas diversas de escrever.” Impossível não pensar num dos poemas que o modernista brasileiro Oswald de Andrade (1890-1954) incluiu no seu livro Pau Brasil (1925): “Para dizerem milho dizem mio/ Para melhor dizem mió/ Para peor pió/ Para telha dizem têia/ Para telhado dizem teado/ E vão fazendo telhados.” (Vício na fala, pág. 33).
Porquê? Porque dizem “telhados”, mas fazem “teados”. Uma atitude coerente com declarações como estas seria olhar para a língua portuguesa como um património comum, sim, mas com pleno direito às suas diferenças: orais, vocabulares e ortográficas. E não insistir num acordo ortográfico moribundo que a ninguém aproveita. Um bom exemplo foi-nos dado pela moeda única europeia, o euro. Cada moeda de um euro tem o mesmíssimo valor e a mesma imagem numa das faces; mas na outra são todas diferentes, reflectindo cada qual o seu país. Assim podia ser a língua portuguesa: com o mesmo valor para cada uma das suas variantes nacionais, mas reservando cada qual os seus traços específicos, aplicáveis nos respectivos países. A insistência num acordo ortográfico que ignora tais diferenças, fingindo que não existem, já não fazia sentido em 1945 nem em 1990, mas hoje é cada vez mais obsoleta.
Um pequeno exemplo, retirado do inglês: escrevamos no programa de texto Word as palavras britânicas colour, centre, grey, mould, plough, theatre, traveller e as suas variantes americanas color, center, gray, mold, plow, theater e traveler. Se as sujeitarmos ao corrector ortográfico do Reino Unido, vemos que ele só valida as primeiras. Idem, com os correctores ortográficos (são 16, ao todo) da África do Sul, Austrália, Belize, Caraíbas, Hong Kong, Irlanda, Jamaica, Malásia, Nova Zelândia, Singapura, Zimbabwe e Trinidad e Tobago — aceitando, apenas esta última, o uso de dupla grafia em plow/plough. O corrector dos Estados Unidos só “chumba” as variantes britânicas colour, centre, mould e traveller, admitindo como aceitáveis as grafias das restantes; o das Filipinas idem, embora rejeitando a grafia theatre; e o Canadá aceita todas as variantes.
O que sucede no nosso idioma? Mesmo com o acordo “unificador”, há no programa Word duas variantes no corrector ortográfico: “Portuguese (Portugal)” e “Portuguese (Brazil)”. Onde estão os outros países? Optam, que remédio, por uma ou outra! Quem ousa falar em “colonialismo” a propósito da rejeição do acordo, devia reflectir nisto. Porque “colonialismo” é o que o acordo ortográfico veio reforçar, ao pretender impor uma norma “universal” que afinal… são duas.
De modo ínvio, o dito Vocabulário Ortográfico Comum (VOC) do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) acolhe vocabulários nacionais (cada um com a sua bandeirinha), mas para os despejar num “saco” comum que é uma misturada inqualificável. Feito com critério, o que não sucedeu no VOC (como já aqui se demonstrou), essa poderia ser uma base para a fixação das variantes nacionais e o seu uso posterior nos correctores de texto, trabalho que não dispensaria um dicionário normativo comum (que até hoje não existe), consagrando nele todas as variantes, mas indicando explicitamente a sua etimologia e os países onde se aplicam.
Recorrendo a dois paladinos do acordo ortográfico, Evanildo Bechara disse em 2014 no Congresso Nacional Brasileiro: “O problema educacional da ortografia, do ensino da língua escrita, não se prende rigorosamente à ortografia, prende-se ao bom ensino de língua, a um desenvolvimento pedagógico (…). As mais complicadas são a inglesa e a francesa, e sabemos que o índice cultural desses dois países mostra que não é por uma reforma ortográfica que o índice cultural de um país vai melhorar”; e João Malaca Casteleiro afirmou ao PÚBLICO, no ano seguinte, 2015, que “se não houvesse esta necessidade de um acordo com o Brasil, não era necessário estar a mexer na ortografia: os ingleses não mexem há muito tempo na deles, porque não tem sido preciso”.
Aqui, têm razão. O único pressuposto errado é a “necessidade de um acordo com o Brasil”. Porque o único acordo admissível é reconhecer as variantes nacionais e fixá-las como partes de um corpo comum, o da língua portuguesa. Que se tenha feito o inverso, não espanta; e há até no Parlamento uma iniciativa legislativa de cidadãos para corrigir esse acto abusivo. Mas porquê, ainda hoje, insistir nesta indescritível e tão inútil pantomina?
*Jornalista. Público de 14.05.2020 - nuno.pacheco@publico.pt

sábado, 9 de maio de 2020

Língua portuguesa: uns só sabem do sonho, outros é mais inquietação, inquietação
Nuno Pacheco[i]
António Gedeão, Manuel Freire e José Mário Branco não têm culpa nenhuma disto, mas se tivéssemos de traduzir em música as celebrações do Dia Mundial da Língua Portuguesa, o primeiro desde que a UNESCO fez mundial a data fixada em 2009 pela CPLP, só duas canções nos ocorrem: Pedra filosofal e Inquietação. A insustentável leveza do sonho e o peso do que nos inquieta.
É certo que, a esta hora, já todos viraram a página, até porque o fantasma da recessão que paira sobre as economias relegará mais uma vez a língua para segundo plano. Mas nas mensagens, nos discursos, nos artigos de opinião e nas celebrações que marcaram o dia 5 há um generalizado tom ufanista que só a custo encontra expressão prática. Dos arroubos poéticos da mensagem presidencial (Marcelo Rebelo de Sousa elogiou no português “o génio de ser uma língua do futuro, viva, diversa na unidade, que muda no tempo e no espaço, continuando a ser a mesma no essencial”) à euforia de António Costa (“Na língua portuguesa cabe o mundo inteiro. A língua portuguesa é, porventura, a nossa maior riqueza, colectiva, de todos nós”), passando pelo ufanismo matreiro do texto para o qual o ministro Augusto Santos Silva arregimentou três outros ministros que em matéria de políticas da língua só são chamados quando convém, vai um largo rol de cenários sonhadores e vacuidades. É possível escrever, como se faz neste último texto, sem soltar de imediato uma gargalhada, que “cresce o uso [da língua portuguesa] na economia, nas viagens, na informação”? Em que planeta vivem?
Falantes de português no mundo, hão-de ser 500 milhões no futuro, afiança Costa. Mas hoje há quem fale em 265 milhões, mais de 270 milhões ou cerca de 300 milhões. São números que só querem dizer alguma coisa se descermos à realidade dos países onde a língua é falada ou ensinada e aí veremos que há inúmeros problemas ocultos neste nevoeiro de sonhos. A imagem, idílica, de milhões de estrangeiros ávidos de aprender o português (pouco importa em que variante) esbarra na dura realidade de a língua enfrentar dificuldades no seu próprio terreno, seja no ensino em países africanos (as queixas são públicas e conhecidas), seja na insistência com que o português é facilmente substituído pelo inglês em várias instâncias. A orquestra “lusófona” internacional quer ser bonita, mas anda muito desafinada.
O embaixador de Portugal na UNESCO, António Sampaio da Nóvoa, deu recentemente uma entrevista à Renascença onde, a par de considerar que “temos que fazer mais” pelo ensino da língua no estrangeiro e em Portugal (e se temos de fazer mais é porque não fazemos ainda o suficiente),
No Dia Mundial da Língua Portuguesa houve um generalizado tom ufanista que só a custo encontra expressão prática
acenou com esta velha miragem: o português como língua oficial da ONU. Diz ele que hoje “estamos mais perto” de o conseguir. Estamos? Olhe que não. O secretário executivo da CPLP, Francisco Ribeiro Telles, também numa entrevista recente à Deutsche Welle África, reconhece “que existe de facto uma vontade de diferentes departamentos das Nações Unidas em poder desenvolver esforços no sentido em que o português venha a ser uma língua oficial”, mas constata que, “para além de uma vontade política, é necessário um enorme esforço financeiro, que obviamente levará o seu tempo a concretizar”. Um enorme esforço financeiro, aí está. Ora a CPLP tem um largo historial de contribuições em atraso e o nada recomendável Instituto Internacional da Língua Portuguesa está financeiramente nu. Portanto sim, há sonhos, planos, protocolos, promessas. Mas não há dinheiro. A isto, dá o sonhador uma singela resposta: “A língua portuguesa é, porventura, a nossa maior riqueza.” Ufanismo de bolsos vazios.
Como se não bastasse, há ainda o incómodo Acordo Ortográfico. Ratificado por quatro países, que só parcialmente o aplicam (com as incongruências a ele associadas e com uma trapalhada enorme nas datas de ratificação, como já várias vezes aqui se escreveu), vem agora Cabo Verde dizer que a atitude do país “é não entrar em posições fracturantes, neste momento”, ao passo que Angola, cujo ministro das Relações Exteriores, Téte António, diz “estar a trabalhar com vista à ratificação”, sublinha que ali o português apresenta “particularidades discursivas, pragmáticas, sintácticas, léxicas, morfológicas, fonológicas e prosódicas.” Concluindo: é uma variante e quer ser como tal reconhecida. A amálgama “unificadora” actual não lhe serve.
E a Portugal muito menos. Atente-se nesta passagem da já citada entrevista de Sampaio da Nóvoa: “O professor Adriano Moreira, num texto recente, dizia que tínhamos que acabar com a inquietação do Acordo Ortográfico. Julgo que é preciso, serenamente, fazer uma avaliação, pensarmos no que nunca aconteceu ao longo destes últimos anos e décadas. Pensar o que isso significa para as gerações mais jovens, o que significa para as gerações menos jovens como a minha e a partir dessa avaliação encontramos soluções de futuro. É uma resposta que lhe estou a dar a título pessoal, mas creio que está na altura de fazermos essa avaliação e, retomando as palavras do professor Adriano Moreira, acabar com esta inquietação.” É um ponto de partida tardio. Mas a inquietação só terminará quando for reconhecido o logro que este acordo é. Livremo-nos dele, que terminará a inquietação. E haverá paz ortográfica.


[i] Jornalista. Escreve à quinta-feira nuno.pacheco@publico.pt

Obs: A vénia devida ao autor para esta publicação do seu texto no Coral-Vermelho.
O assunto tem sido oportunamente recorrente em Nuno Pacheco e merece ser lido com atenção.
Obrigada.


terça-feira, 5 de maio de 2020

Com a devida vénia aos seus autores, aqui se transcreve mais um texto alusivo ao Dia Mundial da Língua Portuguesa - 5 de Maio.
Língua de cultura, da ciência e dos afectos, o português, nossa Língua comum.
Portugal (1175), Cabo Verde (1460), Guiné (1466), Angola (1483), Moçambique (1489), Brasil (1500) e Timor (1561). São datas simbólicas da fundação e da chegada da Língua portu-guesa aos países, em cujos territórios, habitam os falantes mais numerosos e os seus verdadeiros criadores, os inova-dores e os guardiães deste precioso e monumental patri-mónio comum.  


O valor global da língua portuguesa
Por Augusto Santos Silva, Graça Fonseca, Manuel Heitor e Tiago Brandão Rodrigues*
Se hoje é dia festivo, hoje aumenta também o dever de cuidar da projecção global do português. Não é um dever que nos seja exclusivo, antes e com gosto repartido
1. Cada língua tem um valor único: para os seus falantes e cultores, para a comunidade de que é traço de união e identidade, para a diversidade e o enriquecimento da humanidade. Mas as línguas podem ter também um valor próprio enquanto recursos de criação e comunicação internacional, que atravessam e aproximam pessoas, países e civilizações. Reteremos, aqui, esta dimensão da nossa língua, que o 5 de Maio passa a comemorar, a partir deste ano, como Dia Mundial da Língua Portuguesa.
Ele foi proclamado pela UNESCO, na sequência da ideia proposta pelo embaixador António Sampaio da Nóvoa e logo acolhida pelos representantes dos países de língua portuguesa aí acreditados; assim se conferindo alcance global ao Dia da Língua Portuguesa e da Cultura na CPLP, criado em 2009. Fica, portanto, bem afirmada a tripla pertença da nossa língua: nossa porque a falamos; nossa porque a partilhamos com os demais países e regiões que a escolheram como língua oficial; e nossa porque é do mundo que também a nós pertence.
Se hoje é dia festivo, hoje aumenta também o dever de cuidar da projecção global do português. Não é um dever que nos seja exclusivo, antes e com gosto repartido. Mas aqui cuidaremos, naturalmente, da parte que cabe às políticas públicas portuguesas. Os dados de base são conhecidos: a língua de Pessoa e Guimarães Rosa encontra-se entre as mais faladas e as que mais crescem no mundo; usa-se em todos os continentes e é a mais frequente no hemisfério sul. É uma língua pluricêntrica, com diversas variedades de igual valor. Como tem sido projectada internacionalmente e como pode sê-lo ainda mais, através de medidas sistemáticas e persistentes?
A resposta parece-nos simples: através da educação; da cultura; do conhecimento e da ciência; e do seu papel como língua de comunicação.
2. Os factores educativos mais poderosos de difusão internacional da língua portuguesa são as escolas portuguesas no estrangeiro (em Díli, Luanda, Macau, Maputo, Praia e São Tomé), como verdadeiros centros de formação e cultura; os cursos de ensino português no estrangeiro de nível básico e secundário (em 17 países dos cinco continentes) e a presença da disciplina de português, como língua estrangeira, em escolas secundárias de mais 16 países; e os estudos superiores, oferecidos através de cátedras, leitorados, centros de língua e protocolos com universidades e outras instituições superiores, que, no seu conjunto, existem em 76 países. A abertura, no próximo ano lectivo, da primeira escola bilingue português-inglês no Reino Unido representará um novo marco.
A CPLP constitui, enfim, a verdadeira expressão da identidade pluricêntrica, da concertação multilateral e da projecção global do português
Para reforçar esta estrutura, são quatro as direcções estratégicas que seguimos. A primeira é a densificação da malha de ensino presencial (com a futura escola portuguesa em São Paulo, o projecto em curso de escolas bilingues fronteiriças entre países de fala portuguesa e espanhola, ou a abertura de novas cátedras e centros de língua). A segunda é a melhoria dos sistemas de acreditação dos cursos e certificação das competências, e o aumento dos recursos educativos disponíveis, incluindo as bibliotecas físicas e digitais e os planos de incentivo à leitura. A terceira é a consolidação da educação, e em particular da formação de professores, como um domínio-chave da cooperação bilateral com os países africanos de língua portuguesa e Timor-Leste. E a quarta é o incremento da educação à distância e do ensino digital, que potenciam o alcance e a adequação, aos seus públicos, do ensino internacional em português.
3. Quando dizemos que a nossa é a língua de Vieira, ou Mia Couto, ou Luandino, dizemos duplamente bem: além de símbolos, os escritores são fazedores da língua. O que a língua é depende crucialmente do que os artistas fazem com ela.
Por isso, a acção cultural externa é um plano incontornável da projecção internacional do português. Desde logo, através da promoção da literatura e do livro. A presença em grandes feiras do livro, assim como nos encontros e festivais literários; o apoio às edições no estrangeiro; os prémios e outros incentivos à criação literária nos países de língua portuguesa: todas nos parecem ser medidas poderosas para a projecção global da língua, se desenvolvidas contínua e sistematicamente.
Coisa análoga se diga dos outros domínios artísticos e culturais, com realce para o audiovisual, em que há uma rica produção em português, para o teatro e as artes pluridisciplinares. E sem omitir o vastíssimo património literário e artístico em língua portuguesa, e os meios da sua salvaguarda, conservação e divulgação, nomeadamente arquivos, bibliotecas e museus.
4. Para ser plenamente viva, uma língua tem de ser também recurso de conhecimento e ciência. Isso quer dizer quatro coisas cumulativas. Primeiro, que é uma língua que se emprega na realização de pesquisas e na sua publicação, designadamente, mas não exclusivamente, nas áreas de humanidades e ciências sociais. Segundo, que é a língua de uso em instrumentos fundamentais na organização e difusão do conhecimento, como arquivos, repositórios e bases de dados. Terceiro, que é uma língua estudada cientificamente, pela linguística, e usada maciçamente nos sistemas digitais de tradução simultânea em linha. E, quarto, que ela informa a cooperação entre os diversos sistemas científicos e tecnológicos, porque nela se faz a formação avançada, porque através dela colaboram universidades e centros dos países que a partilham, porque é motivo para que se aprofunde o conhecimento e a inovação que têm por objectivo o desenvolvimento de tais países.
O Centro UNESCO “Ciência LP” para a formação avançada e outras instâncias de cooperação no mundo lusófono estão aí para mostrar o caminho. O qual é aproveitar o enorme potencial que o ensino superior e a ciência representam para os países de língua portuguesa. Quanto maior a colaboração recíproca, maior a capacidade de aproveitar esse potencial.
5. Já hoje, mercê sobretudo da influência do Brasil, o português é uma das línguas mais utilizadas na Internet. Cresce o uso na economia, nas viagens, na informação. É língua oficial ou de trabalho em múltiplas instâncias e organizações internacionais de África, Europa e América Latina, assim como em algumas instâncias das Nações Unidas — e é legítimo o objectivo de a estender, a prazo, a todo o seu universo. A CPLP constitui, enfim, a verdadeira expressão da identidade pluricêntrica, da concertação multilateral e da projecção global do português, como língua de europeus, americanos, africanos e asiáticos.
Esta projecção mede-se em todos os aspectos comunicacionais: na política, na diplomacia, na cooperação, na economia, na imprensa, no contacto entre pessoas e povos. Articulando-se com a educação, a cultura e o conhecimento, ela permite agir eficazmente em prol da afirmação internacional do português.
Eis uma tarefa de todos, e das políticas públicas em particular. Que o Dia Mundial da Língua Portuguesa sirva também para lembrá-lo!

*Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros; Graça Fonseca, ministra da Cultura; Manuel Heitor, ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior; Tiago Brandão Rodrigues, ministro da Educação


Salvé! 5 de Maio Dia Mundial, da Língua Portuguesa!
Este ano, celebra-se a data com uma marca especial, a consagração, a elevação da Língua Portuguesa como Língua Global, proclamada pela UNESCO.
Neste contexto, publica-se aqui a Entrevista do Professor António Sampaio da Nóvoa, Embaixador de Portugal na UNESCO, e um dos artífices deste importante marco da Língua comum.
O texto é do Jornal de Letras, JL  de 22 de Abril a 5 de Maio, do ano corrente.


António Sampaio da Nóvoa
“O reconhecimento do português como língua global”
  
“(...)Mensagens de escritores e artistas, mesas-redondas por videoconferência, um concerto online com músicos de vários países de expressão portuguesa são algumas das iniciativas, coordenadas pelo Instituto Camões, que agora vão assinalar, no espaço digital, dada a actual situação de confinamento decorrente da crise pandémica, o primeiro Dia Mundial da Língua Portuguesa (DMLP). António Sampaio da Nóvoa, 65 anos, durante dois mandatos reitor da Universidade Clássica de Lisboa e presidente do Conselho de Reitores, artífice da fusão da Clássica com a Técnica, que levou à criação da Universidade de Lisboa, de que é reitor honorário, especialista de Educação de projecção internacional e candidato a Presidente da República nas últimas eleições, em que obteve cerca de um milhão de votos, embaixador de Portugal na Unesco desde 2018 - diz ao JL que mais do que as comemorações oficiais “importa a criação de um movimento que vá muito além do dia 5 de Maio, que simbolicamente é apenas a data, o lugar onde inscrevemos a nossa vontade de uma promoção internacional da Língua Portuguesa”. E tem uma fórmula para a estratégia a seguir: EC ao cubo. Que é como quem diz: Ensino, Cultura, Conhecimento e Comunicação.
E se o reconhecimento do Dia da Língua Portuguesa (LP) é uma das marcas já visíveis da sua acção, lançou também duas ideias sobre as quais a Unesco actualmente se concentra: uma reflexão sobre o futuro do ensino, outra sobre a exigência de uma ciência aberta e da partilha de dados e de conhecimento. Dos trabalhos em curso para a elaboração de relatórios e recomendações poderão sair as directivas da organização nessas matérias, para as próximas décadas. Se os documentos forem aprovados na próxima Conferência Geral, no final de 2021, será, para Sampaio da Nóvoa, “uma grande alegria”, confessa. “Portugal deixará uma marca”, e a LP dará um “contributo importante para pensar o futuro”.
Jornal de Letras: Qual o significado de que se reveste o Dia Mundial da Língua Portuguesa?
António Sampaio da Nóvoa: Trata-se de uma decisão muito importante tomada pela Unesco, que deste modo reconhece o português como língua global e de comunicação internacional. Um gesto de grande valor simbólico e que abre muitas oportunidades para a sua projecção.
Como se traduzem na prática?
Desde logo, é uma oportunidade para o reforço de iniciativas conjuntas dos países da CPLP e estamos a trabalhar muito nesse sentido. Outra é o reforço da Língua Portuguesa (LP) no conjunto do sistema das Nações Unidas e do multilateralismo. Todos reconhecemos que Portugal está, hoje, numa condição excepcional para desempenhar um papel de primeiro plano, de grande destaque, na cooperação internacional. Isso depende muito da LP, do seu espaço e afirmação.
Em que iniciativas concretas já estão a trabalhar?
Nas relacionadas com a projecção internacional, com o ensino e a formação de professores, em particular nos países africanos. Algumas que pensávamos divulgar já no DMLP, mas infelizmente, pelas actuais circunstâncias, foi adiado o seu anúncio. Mas posso avançar que o governo, a partir do Instituto Camões, do Ministério dos Negócios Estrangeiros e do Ministério da Cultura, irá anunciar logo que possível um relançamento de uma estratégia de promoção internacional da LP. Isso é muito importante e foi, de algum modo, uma necessidade que se abriu com a proclamação do Dia Mundial da Língua Portuguesa.
UMA FÓRMULA ESTRATÉGICA
Em seu entender, o que é essencial nessa estratégia?
Se tivesse que a organizar, teria em conta quatro domínios absolutamente centrais, que poderia pôr numa fórmula: EC ao cubo. O “E” tem que ver com o ensino que é, para mim, a pedra basilar. Tudo o que se relacione com o ensino do português no estrangeiro e com a formação de professores é extraordinariamente importante.
E quais são os três “C”?
São aqueles em que a língua se baseia. O C da cultura e da criação, o que passa pelo apoio aos escritores, editores, tradutores, para uma maior circulação da LP através da dinâmica da criação, do livro. E o “C”, muito importante para mim, até pelo lugar de onde venho, de conhecimento, de ciência.
No sentido de afirmar a LP como uma língua de ciência?
Com a crise que vivemos, torna-se nítido que é preciso haver uma ciência aberta e de grande circulação e o português tem de ser realmente também uma língua de ciência. Não podemos deixar esse papel apenas ao inglês.
E o que pode ser feito para o conseguir?
É preciso haver uma colaboração muitíssimo maior entre espaço científico e espaço universitário. Claro que existe a Associação das Universidades de Língua Portuguesa, que há programas importantes que têm sido feitos, que recentemente foi criado um centro Unesco, de categoria 2, para a formação científica nos países africanos de LP, que temos a área do Camões do ensino superior, mas precisamos de passar a patamares de colaboração superiores,
Tratou-se de uma decisão muito importante da Unesco (criar o DMLP), um gesto de grande valor simbólico e que abre muitas oportunidades para a projeção da nossa língua.
porque evidentemente o futuro vai passar pelo conhecimento e pela ciência, tal como pela cultura. As universidades têm aí um papel determinante. E utilizar a presença da LP um pouco em todo o mundo para tentar construir uma possibilidade de pensar o futuro é certamente muito importante. E agora, pensar como será o mundo pós-coronavírus e de que forma vamos fazer as transições que há muito dizíamos serem necessárias.
Que transições?
Ecológica, digital, escolar. A LP, não apenas no nosso espaço, mas no mundo, pode dar um grande contributo nessa reflexão.
Pensa que o mundo vai mudar depois desta pandemia?
Essa não é a minha visão. Havia mudanças que já estavam em curso, esses temas já estavam em cima da mesa e esta crise só vai acelerá-los, torná-los mais urgentes e obrigar-nos a encontrar respostas mais imediatas.
Voltando à sua ‘fórmula’, o terceiro “C”, qual é?
Em termos genéricos, representa de uma forma alargada a comunicação, incluindo aí a presença da LP no mundo digital. E uma língua que também abre oportunidades de negócios, passando pela economia ou pela diplomacia. Julgo que, de uma maneira ou de outra, esses três “C” têm que estar sempre presentes numa estratégia de promoção da LP.
RENOVAÇÃO E PUJANÇA
A LP está, de resto, entre as cinco línguas mais utilizadas no espaço digital. Isso representa um especial desafio?
Sem dúvida. Deve-se sobretudo ao Brasil, que avançou muito no digital, mas essa presença da LP deve ser reforçada, até para projectar uma nova fase da língua.
Nova?
Estive a reler um texto de Rui Knopfli, de 1989, em que falava da língua como um denominador comum de vários espaços, africanos, asiáticos, brasileiros, europeus, de diferentes culturas, evoluindo e alargando por caminhos próprios, uma “pátria coincidente”. De facto, incorporou falares diferentes, novas expressões e verbalizações até uma nova sintaxe. É uma língua que se tem renovado e que continua a renovar-se. Temos uma geração de jovens escritores e um conjunto de editoras, algumas muito pequenas, que estão a dar vida à língua. Porque não basta haver dias mundiais e uma língua ser consagrada pelas instâncias internacionais, é preciso que seja capaz de dizer coisas fortes às pessoas. Isso deve-se muito também à circulação que o digital permite. A Unesco acaba, de resto, por reconhecer esse momento de grande pujança e criatividade da LP e da nossa posição geoestratégica no mundo.
A nível das instituições, a LP tem-se feito ouvir?
Tem havido aberturas. Vasco Graça-Moura disse que nenhum de nós quer uma língua única, totalitária. Não quer dizer que o inglês não prevaleça como essa espécie de língua franca, nas instâncias internacionais, mas deve-se abrir espaço para uma diversidade linguística central nos dias de hoje, podendo estabelecer pontes úteis entre os diversos idiomas. O português é, aliás, um dos que está mais bem situado em todos os cantos do mundo. Mas claro que não tem o número de falantes do chinês. Quando foi proclamado o Dia Mundial da Língua Portuguesa, o ministro Manuel Heitor, que representou Portugal, fez a sua declaração em português, porque já é uma língua oficial da Conferência Geral da Unesco, embora ainda não seja no conjunto dos órgãos. Estamos a dar passos num caminho que é importante também dentro das organizações internacionais.
A celebração, a primeira, do Dia Mundial da Língua Portuguesa vai ser no espaço digital, por força dos actuais condicionalismos. O que se pretende?
Tínhamos previsto muitas iniciativas, por exemplo uma exposição de Cruzeiro Seixas, que este ano faz 100 anos, em Paris, cidade das suas referências, homenageando também de certa forma Mário de Sá-Carneiro, que lá viveu. Mas não foi possível, tal como outras actividades que estavam programadas. Vamos ter uma presença por via digital, com celebrações virtuais, mesas-redondas por videoconferência, mensagens.
Como tem sido a receptividade a este dia?
Impressionante. E há muitas iniciativas que estão a ser tomadas também por escolas, por diferentes pessoas que se interessam pela língua. É a inscrição dessas pessoas e do que têm para dizer que realmente faz o Dia Mundial da Língua Portuguesa e não só as comemorações oficiais, formais. O que importa é a criação de um movimento que vá muito além do dia 5 de Maio, que simbolicamente é apenas a data, o lugar onde inscrevemos a nossa vontade de uma promoção internacional da LP uma língua extraordinária também na capacidade de pensar o futuro.
As duas grandes iniciativas que a Unesco lançou, nestas áreas, nos últimos tempos, foram propostas por Portugal.

Temos que ajudar os países africanos e acho que a Unesco, nos próximos anos, deve centrar-se na situação de África.
Em que sentido?
Vergílio Ferreira disse que não se pode pensar fora das possibilidades da língua em que se pensa. Pela sua história, por incorporar outras culturas, tradições, a LP tem possibilidades únicas. Se o Dia Mundial da Língua Portuguesa for um marco e uma marca da sua nova realidade, já deu um contributo extraordinário para o nosso futuro.
LANÇAR FUTURAS RECOMENDAÇÕES
A proclamação do Dia Mundial da Língua Portuguesa foi um momento-chave do seu trabalho como embaixador de Portugal na Unesco. Como o sentiu?
Naturalmente, com uma grande emoção, até porque estava a sala inteira a olhar para nós. Também lá estavam os embaixadores de Cabo Verde, Angola ou Brasil e representávamos um conjunto de pessoas e de culturas que se sentem reconhecidas nesta língua. E recebemos dezenas de mensagens de outros embaixadores, pelo que foi realmente um momento muito tocante.
E em geral, como está a ser a sua experiência na Unesco?
O funcionamento diário, os procedimentos, o peso das decisões, tudo isso nem sempre é fácil. E é um combate diário por outra agilidade, porque os problemas, as desigualdades do mundo não esperam por nós. Mas tem sido uma experiência fabulosa e estou muito grato a todos pelo apoio e simpatia que têm tido em relação ao meu trabalho. Tenho procurado agir, e julgo que foi nesse sentido que o governo português fez a minha indicação para representante de Portugal junto da Unesco, concentrando-me nas situações mais substantivas, em particular na educação e na ciência, além de outras iniciativas relativas ao património, à cultura. E acho que aí Portugal tem dado um impulso decisivo, como tem sido reconhecido pela directora-geral da Unesco.
De que maneira?
As duas grandes iniciativas que a Unesco lançou, nestas áreas, nos últimos tempos, foram propostas por Portugal.
Apostas pessoais?
Lancei essas ideias praticamente quando cheguei à Unesco, há um ano e meio. Refiro-me à comissão internacional para pensar o futuro da educação, que está a trabalhar muito bem e já deu muitas orientações nesta altura da crise do coronavírus. E, por outro lado, a iniciativa Open Science, uma ciência aberta e não fechada em revistas a que ninguém tem acesso, mais democrática e pública, para o bem da humanidade. Muitos até nos perguntam por graça se já estávamos a pensar antes no que está a acontecer. Essas iniciativas, em que estamos muito empenhados, ganham, na verdade, uma pertinência, um sentido novo nesta altura e podem ser fundamentais para pensar o que será a sociedade no pós-crise. Porque se inserem na dinâmica de transformação que se vai acentuar depois desta bolha de confinamento em que estamos a viver e que não será certamente o nosso novo futuro. E é possível que tentemos já agora uma iniciativa da Unesco.
Com que objectivo?
Reforçar o papel e o apoio aos professores, sobretudo em África e nos países com mais dificuldades, uma vez que se estão a sentir alguns problemas nesta crise, por parte dos docentes, na resposta à actual situação. Temos que ajudar esses países e acho que se alguma coisa a Unesco pode fazer pelo mundo, nos próximos anos, é centrar-se na situação de África.
Porquê?
África é um problema imenso e não só para os africanos, mas para o mundo inteiro E a LP está também aí bem situada, através de Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde. E dá-nos muito prazer sentirmos que pudemos dar o nosso contributo à Unesco, que tem uma matriz muito centrada sobre o bem comum, sobre os valores humanistas, e nesse sentido é uma organização imprescindível. JL
MARIA LEONOR NUNES  -JL nº. 1293 de 2020.