Um Grande Apelo!

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
Antes de mais peço encarecidamente aos caros “bloguistas,” companheiros da “blogosfera” que difundam este apelo, ou escrevam outro de teor similar, pois é grave o problema.
Pertenço ao grupo de cidadãs que vive hoje em dia, com medo de sair à rua a pé, para ir às compras, para visitar familiares e amigos, ou simplesmente, para fazer a marcha bem recomendada a favor da saúde.
E digo isto porquê? Porque vivo numa cidade de alto risco – a cidade da Praia.
Faço parte de um significativo grupo de cidadãs que sai de casa temerosa, receosa e preocupada com a integridade física; se a trará intacta de volta ao lar, ou se não será maltratada; ou não ficará nas mãos de marginais e de bandidos que pululam com um à-vontade simplesmente espantoso, por qualquer rua ou esquina da Capital.
Raros são os dias em que se não tem notícia de mulheres amigas, conhecidas ou não que são assaltadas e magoadas, por vezes severamente, ou mesmo mortas por marginais em plena via pública!
Os bandidos, os assaltantes, os chamados “thugs” tomaram conta dos bairros residenciais desta cidade. São eles os que assaltam sobretudo, as mulheres.
Ferem-nas, matam-nas, deixam-nas com sequelas para o resto da vida para sacar-lhes insignificâncias – carteira, telemóvel, dinheiro, jóia ou outros objectos.
Sim, todos os bairros da cidade – capital são de alto risco! Do Palmarejo, a Achada Santo António, passando pelo Ténis, Monteagarro, indo até à Fazenda, a Achadinha, ou centrando no “Plateau”. Em suma, todas as ruas são de risco para qualquer mulher que ande a pé nesta cidade, infelizmente com igual relevo para qualquer sítio que ela pise.
Faço este apelo às autoridades policiais desta cidade que elejam como prioridade das prioridades, a segurança dos cidadãos, no caso, das cidadãs – os alvos preferenciais dos delinquentes que andam à solta nas ruas da cidade! Que reforcem a chamada polícia de “giro” que a gente a veja a circular perto dos nossos bairros, das nossas ruas. Que saiam dos gabinetes, quanto antes!
Um grande Basta! A esta triste estatística que coloca o homicídio como uma das primeiras causas de morte na cidade da Praia e nos seus arredores.
Infelizmente, pelas minhas contas, e a cada fim-de-semana nesta cidade corresponde a dois ou três homicídios. Para onde vamos?!
Por último, um apelo aos Políticos nacionais: não façam demagogia com bandidos.
A reinserção social, que é coisa outra, ela é muito necessária e fortemente desejada na nossa sociedade de tantas carências. Mas atenção, só surtirá efeito num quadro próprio e adequado.
Isto é, com trabalho técnico específico e direccionado ao objectivo, nomeadamente, com o envolvimento de Assistentes sociais e religiosos, de Psicólogos, entre outros. De contrário, qualquer intromissão demagógica de confraternização com delinquentes, soa mesmo a demagogia muito, muito óbvia e sem qualquer efeito transformador ou positivo para os transgressores ou para a sociedade.
A terminar mesmo, reitero e agradeço antecipadamente aos caros companheiros da blogosfera, que façam a difusão deste ou, de outros apelos similares no sentido de conseguirmos uma voz maior e indignada contra este flagelo que se está a alastrar-se na cidade da Praia.

P.S. : E não me venham dizer que não é possível ou que é muito difícil. Rudy Giuliani, numa cidade de quase 20 milhões de habitantes – Nova Iorque – reduziu a criminalidade em 57% e os homicídios em 65% tornando-a durante o seu reinado numa das cidades mais seguras do mundo. Podem argumentar que ele possuía meios. Concordo. Mas se os responsáveis políticos nacionais, a comunidade, elegerem esta tragédia citadina chamando-lhe isto mesmo, estou certa de que se conseguirá uma estratégia eficaz de combate à criminalidade de rua e de segurança dos cidadãos.

Agustina Bessa-Luís – uma Autora de peso…

terça-feira, 29 de novembro de 2011
Ler Agustina Bessa-Luís é sempre um prazer renovado.

Isto dito assim, serve-me de pretexto, não para falar do último livro desta imensa e excelente autora portuguesa – de uma escrita profundamente reflectida e filosófica – mas sim, para trazer aqui o que me fica da revisitação feita, volta que não volta, aos romances dela.

Desta feita a vez coube ao «O Princípio da Incerteza – Jóia de Família» editada em 2001.

Um fabuloso enredo, um luxo de recriação sociológica da região e da cidade do Porto, e uma extraordinária capacitação psicológica conseguida na construção comportamental das personagens que a intriga do livro comporta e que deixa o leitor extasiado.

A verdade é que a tensão, a polifonia e a dramaticidade desta narrativa adensa-se, aprofunda-se também, à medida que se dão os encontros e o conhecimento mais completos do leitor com toda a panóplia bem urdida das acções e das personagens do livro.

Um pouco na esteira daquilo de que ela mune muitos dos seus romances, a autora reconstituiu também neste, memórias – ficcionando-as é certo – memórias de um tempo histórico em que o passado ganha maior espaço, num Porto cheio de brios, de tradições, de secretismos, do insinuado (nas falas das personagens) mais do que o enunciado; dos seus sítios, das suas quintas e dos altos muros que protegem a sua gente. Alguma, de ascendência afidalgada; outra parte, burguesa abastada em vinhas e em culturas agrícolas; outra ainda, industrial e industriosa, de fábricas prósperas algumas e também dona de algumas decadentes; e também de homens e de mulheres do povo pobres do Douro imenso, em que alguns destes últimos reconhecem e distinguem nos seus patrões aqueles que são ou não, possuidores daquilo que definem como uma alma cívica e de valores (…).

Sobre a cidade informa-nos o narrador do romance: «Conhecer o Porto não é coisa de agências de viagens. Nem de escritores também, Camilo Castelo Branco fez muito mal ao Porto mostrando-o como uma fortaleza de brasileiros e um alegrete de mulheres vestidas de seda cor de pulga e apaixonadas por uma sobrecasaca. Não é assim…O Porto teve cidadelas, bairros, demarcações e verdadeiros círculos de cultura (…)»

Trata-se de uma história de “procura de caminhos na vida,” de maldição, de expiação, de redenção, de amor/desamor/ódio, de paixões, de vícios, de lealdade por vezes canina, por que passam as diversas personagens que encarnam as diferentes franjas sociais da cidade e dos seus arredores.

A família como esteio social mais forte, para o bem e para o mal, da sociedade nortenha no geral, e portuense em particular, simboliza quase sempre na obra de Agustina e com muita acuidade em «O Princípio da Incerteza – Jóia de Família» – tal como o fora em «Os Meninos de Ouro» «A Corte do Norte», «Vale Abraão» ou, mesmo anteriormente, em «Sibila» – o que de mais telúrico, de mais permanente e de mais transcendente, urde e cimenta a narrativa desta autora.

E muitas vezes, são elas, as famílias, as verdadeiras detentoras de poder na sua globalidade e do Poder na sua especificidade político/económico.

Tanto assim é, que mais do que o protagonismo singularizado nas personagens: António Clara, Camila, Vanessa, Touro Azul, ou na perspicaz governanta Celsa Adelaide. É o colectivo familiar de cada uma delas (os Matos Albergaria, os Roper, os Aurelianos) é que, de facto, protagoniza o romance.

Para além disso, e sobre tudo o resto, Agustina sabe contar história (s) de forma enleada, entretecida em sequências que prendem, seduzem e encantam o seu leitor.

No fundo, os livros de Agustina Bessa-Luís “assumem” em pleno, “a atitude narrativa” - como caracteriza Maria Alzira Seixo, conhecida ensaísta portuguesa – da verdadeira história ficcional.

Foi desta plena e assumida atitude e construção narrativa que emergiu: «O Princípio da Incerteza – Jóia de Família» o livro de Bessa-Luís que voltei a ler com redobrado prazer.

O Parlamento do nosso Descontentamento

quarta-feira, 23 de novembro de 2011
Ontem o nosso Parlamento deu-nos mais uma boa oportunidade de maldizer legitimamente a classe política. E, por favor, não apontem o dedo apenas ao deputado do MpD que com clareza e veemência saiu em defesa do seu líder. Foi excessivo. Mas não foi menos indigno, deselegante e vil o líder parlamentar do PAICV que em reacção e defesa do seu presidente de partido, o atacou. E que dizer do PM que espoletou o problema, quiçá como intencional manobra de diversão (que lhe teria resvalado) para desviar o cerne da questão – discussão do Orçamento do Estado?

É neste contexto mais do que em qualquer outro que se insere a conhecida citação de Bertholt Brecht: "Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem" o que na Física significa tão-somente que a qualquer acção corresponde uma reacção de sentido contrário e, na política, acrescente-se, de intensidade proporcional à natureza do telhado (vidro, betão ou outro material) do ignitor da acção.

E foi assim. O PM é useiro e vezeiro em dirigir insultos aos adversários. É um hábito que mantém e que lhe vem dos tempos em que era oposição (vide actas da Assembleia e jornais da época). E quando se confronta com uma resposta a altura, encolhe-se, faz-se de vítima e recolhe à sua “concha” apresentando-se logo como o paradigma do político brando, tolerante, impoluto, honesto, ingénuo e puro. E as pessoas que o rodeiam absoluta e selectivamente amnésicas, ávidas de mostrar serviço, saem em sua defesa qual alcateia ferida.

Não sou, nem de perto nem de longe, defensor de incursões pela vida privada de quem quer que seja. Mas o “homem público” não o é só quando está em actividade efectiva, em algumas horas do dia. A sua conduta deve ser em todos os momentos uma referência da ética e da moral vigentes para toda a sociedade e um exemplo para os jovens.

Se é certo que o que se passou no nosso Parlamento é condenável não é menos certo que não é singular nem invulgar em Parlamentos de países com muito mais tradição democrática, como o são p.e. o inglês, o italiano e muitos outros da Europa, da Ásia e das Américas. E não nos armemos em virgens puras como se fosse a primeira vez. Dirigentes e deputados do PAICV na oposição, muitas vezes ultrapassaram a barreira do pessoal para entrar na esfera directa da família o que foi, é e será sempre simplesmente execrável. Como disse Agustina Bessa-Luis “as palavras voam, o que não é escrito é perdido”. Felizmente está tudo escrito e registado.

Mas será que o deputado do MpD faltou à verdade? Se assim foi, ele deve com toda a hombridade e coragem que inegavelmente demonstrou, levantar a sua imunidade parlamentar e submeter-se à justiça. É grave a acusação que fez e fere a imagem, o prestígio e o carácter de um governante digno desse nome. E aqui depende se o PM tem verdadeiramente moral para o incriminar. É é nisto é que está o busílis. Não é na retórica que se seguiu nem no eventualmente, sublinho, eventualmente, politicamente “incorrecto”. Costuma-se dizer que “quem não quer ser lobo que não lhe vista a pele”.

Há uns tempos atrás o PM falava muito pomposamente dos seus pergaminhos da defesa da “família”. A ser sustentável a acusação, (ninguém a contradisse) será que ele tem mesmo moral para falar de família? A acusação não é de poligamia que, quer se goste ou não, (embora ilegal no nosso País) quando institucional assenta numa certa concepção de família solidária. É "multigamia" (não sei se o termo existe) que é como diz, ter muitas famílias com diferentes mulheres, uma perversão da família estruturada e solidária como a conhecemos na cultura cristã.

Já que insistimos e gostamos tanto de fazer comparações com outros países, será que o nosso PM com a sua dita serôdia volubilidade – não se trata de uma desculpável, distante e esquecida “tara” de juventude – teria alguma pequeníssima hipótese de ser político nos Estados Unidos?

Há dias vi um filme de Michael Douglas (já não me lembro do título) que versava sobre um problema de assédio sexual. O protagonista (Michael Douglas) queixava-se de ser alvo de assédio sexual por parte da sua chefe mas não sabia como apresentar isto em tribunal uma vez que se entende como tal, apenas do homem para a mulher e nunca no sentido contrário. Perante o facto, a advogada depois de o ouvir, respondeu-lhe peremptoriamente: vamos avançar com o caso. O assédio sexual não reside no sexo mas na autoridade de quem o faz. E ganhou a causa. E isto em altas esferas de uma grande instituição. Meditemos!...

Pois não deixa de ser intrigante o momento a partir do qual a pessoa do PM ganhou a fama de “garanhão”.

A. Ferreira

Ah! A D. Crise!...

sábado, 19 de novembro de 2011
Crise, crise, crise, deve ser a palavra mais ouvida, escutada e escrita, nos últimos tempos. Ela está aí na grande ordem da nossa vida.
E nem é necessário ser-se economista ou afim, para se perceber como, e de que forma, a crise se instalou entre nós.
A dona-de-casa mais atenta ou, minimamente perspicaz, apercebe-se disso no seu cabaz diário ou semanal das compras para a satisfação das necessidades domésticas.
Não há ninguém que não tenha verificado, que aquilo que comparava, há uns tempos atrás, com um determinado montante, diminuiu em muito e, algumas vezes, até para metade. O que significa que os produtos encareceram extraordinariamente.
Para além do mais, as prateleiras dos nossos super-mercados e mercearias de bairro, uma vez terminado o último exemplar da caixa, do pacote ou do frasco, o «stock» do produto terminado, não é reposto com a mesma prontidão, ou mesmo, já não é reposto de todo. O que poderá significar – continuando com a perspectiva de dona-de-casa consumidora – que o comerciante ou empresário, não está a importar em ritmo normal devido à crise instalada e quiçá também por causa do cada vez mais baixo poder de compra do seu cliente.
Note-se, não se trata de produtos “supérfluos,” ou de menor procura. Não, não se trata disso. Está a acontecer com os produtos ditos básicos, tipo: leite, bolachas, farinhas, entre outros do mesmo género, para a nossa alimentação.
Se isso não é crise, que outro nome dar-lhe?
O bom senso e a lógica das coisas levam-nos a pensar que se a crise chegou aos países europeus da grande economia em relação a nós, mormente a uma nano-economia, como é a deste pequenino país que pouco ou nada produz?
Para terminar e tal como comecei, a crise está aí, sem disfarces, a preocupar e a apoquentar – de forma directa ou indirecta – a vida de cada cidadão.

Imprevistos agradáveis…

domingo, 13 de novembro de 2011
Recentemente na ilha do Fogo, mais exactamente na Vila da Igreja (peço desculpas, mas custa-me mesmo chamá-la “cidade”) nos Mosteiros, decidi oferecer um conjunto de livros a uma turma do 12º Ano e cujo professor da disciplina de Literatura cabo-verdiana que fora antigo aluno meu e muito estimado – aliás, são-no todos os meus antigos alunos pois que assim os recordo – no ISE, me havia convidado para que também conversasse um pouco com os seus alunos sobre a modernidade literária nacional.
Dirigi-me à Escola Secundária no Laranjo para cumprir a agradável missão e eis que me é comunicado que os planos haviam sido alterados. Em vez de estar à conversa com uma turma de vinte alunos apenas e oferecer a cada um deles um livro, os professores das restantes turmas do 12º ano - de que também fazia parte um outro antigo aluno - do (extinto) Instituto Superior da Educação, mas que eu não estava a par. Daí ter sido igualmente bom revê-lo - quiseram do mesmo modo que os seus alunos participassem da espécie de palestra não prevista e convidaram-me para falar para duas audiências - dividida em turma e meia para cada hora e meia - na sala maior que a escola possuía.
E mais, também haviam decidido que os livros seriam para “premiar” os alunos que melhores notas obtivessem nos próximos testes de literatura.
Claro que a tudo anuí e dispus-me a aceder a totalidade do pedido de todo inesperado.
E foi assim que passei essa tarde quase toda com os estudantes do 12º Ano da Escola Secundária dos Mosteiros a falar-lhes sobre os temas que haviam escolhido e que calhou naquilo que corresponderá a um modernismo e a um post-modernismo da nossa escrita literária.
Mas mais do que falar de literatura, foram as pequenas e muito agradáveis descobertas que fui fazendo ao longo das horas que aí estive. Desde da aluna do 8º Ano que bate à porta e pede timidamente para assistir à aula, segundo ela, especial, e que posteriormente me confessa que havia lido numa semana, a colectânea: «Elas Contam» no exemplar da Biblioteca da escola, passando pelo aluno que me perguntou se os temas para a poesia cabo-verdiana se haviam esgotado actualmente e que ao mesmo tempo me ofereceu um texto poético por ele feito recentemente, para a celebração do dia Mundial da Água indo até – e esta foi a melhor de todas as descobertas da tarde – verificar que alguns alunos gostavam de ler mais do que muito de nós, os da velha geração, julgam e criticam-nos por lerem tão pouco.
Por fim, os aplausos e os abraços e muitas fotografias com as máquinas dos próprios alunos que entenderam desta forma registar a agradável tarde passada. Para mim foi de facto, bem agradável.
Tive ainda a oportunidade de fazer uma rápida passagem pela Biblioteca da escola. Achei-a muito insuficientemente apetrechada.
Daí que, e para finalizar, tomo a liberdade de fazer um pedido dirigido não só a foguenses, mas a todos os que puderem que contribuam com livros para a Biblioteca da Escola Secundária (bem periférica) dos Mosteiros, na ilha do Fogo.

Pequeno-almoço Comemorativo…

segunda-feira, 7 de novembro de 2011
A propósito de mais um aniversário do Instituto Internacional da Língua Portuguesa – IILP, recentemente comemorado, foi pretexto para o seu actual Presidente oferecer um simpático Pequeno-almoço ou um Café da manhã, que foi igualmente ocasião para, à volta da mesa, os convivas conversarem e, dialogarem sobre o passado e o presente do IILP.
Para mim, sobressaiu desde logo, a notícia – que achei muito interessante – de que se está a criar algum consenso entre os Estados membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, igualmente países integrantes do IILP, de denominarem as línguas escritas e faladas em cada um dos países com um registo nacional.
Assim, serão Línguas angolanas, o português, o Umbundu, o Kimbundo, entre outras línguas vivas angolanas. Situação idêntica para o Brasil, ao chamar os seus idiomas (que se descobriram numerosos, a par do português) de Línguas brasileiras. Em Portugal já se sabia que o português e o mirandês são línguas nacionais.
Na mesma linha, fomos informados de que Cabo Verde pretende passar a denominar o português e o crioulo como Línguas cabo-verdianas.
Creio que esta solução é sensata e que servirá talvez melhor os interesses dos seus falantes. Para além de – acredito – apaziguar muitas das polémicas e dos constrangimentos de vária ordem que têm surgido em matéria de definir a língua nacional, a(s) língua(s) materna(s), a língua oficial, quer nas Constituições de cada Estado, quer em outros documentos especializados dos países falantes “oficial” da língua portuguesa.
Refiro-me particularmente e sobretudo, às dificuldades nesta matéria, dos países do chamado PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) os quais conheceram novas e, por vezes, complexas situações linguísticas após a independência, e que querem preservar e consagrar esse imenso património linguístico encontrado.
É minha convicção também de que a Língua Portuguesa continuará a ser a língua de união e a língua fundamental para se veicular o ensino aos cidadãos da CPLP.
Parabéns ao IILP, por mais um ano de funcionamento, de percurso algo trabalhoso e por vezes mal compreendido, mas também de afirmação paulatina e positiva em prol da língua comum.

Com que então blindados contra crise?!...

sexta-feira, 4 de novembro de 2011
Há já algum tempo alguém com muita responsabilidade na governação, dizia, não me lembro já em que contexto, que Cabo Verde estava blindado (o termo é dessa pessoa) contra a crise.

Fiquei surpreendido porque a afirmação provinha de uma pessoa por quem nutria (e ainda nutro) muito apreço; e também um pouco apreensivo porque a conclusão não coincidia com a percepção que eu tinha (e ainda tenho) da realidade cabo-verdiana e da fragilidade dos seus sistemas económico e financeiro. Na expectativa, em vez de me posicionar como S. Tomé – “ver para crer” – fui obrigado por força das circunstâncias a postar-me como um jogador de póquer – “pago para ver”. E há muito que venho pagando bem caro esta minha curiosidade.

Mas o grave é que, se calhar, é esta posição que deu asas aos disparates e devaneios megalómanos do PM e às suas insensatas promessas. Tinha respaldo…

O caricato agora da situação é a proposta repentina do PM de "reunir consenso para o combate à crise" quando se esperava da parte do Governo, em primeiro lugar, um pedido de desculpa formal e público pelo tremendo e grave logro em que nos fez cair e acreditar. É que a crise não é de hoje e os nossos défices orçamentais continuam a apontar de forma sistemática para o despesismo pondo em perigo o Acordo Cambial com o Euro.

Como nunca é tarde, cá estamos nós prontos a sacrificarmos, pelas imprudências e imprevidências, ou mesmo incompetência, deste governo. Mas o governo se quer austeridade e contenção tem que dar exemplo. E este exemplo passa pela racionalização das suas instituições, a começar pela estrutura do governo.

Assim como ficou provado que o Ministério do Desenvolvimento Social e Família foi um “job for a boy”, portanto dispensável e consequentemente inútil como tal, poder-se-á encontrar ainda outros porque também criados com o mesmo propósito – satisfazer a clientela.

Serão mesmo necessários 3 (três) ministérios para tratar da nossa Educação, Ensino e Cultura? Não estará a mais o Ministério das Comunidades, cujo conteúdo funcional foi sempre assumido pelo Ministério dos Estrangeiros? E quantas direcções gerais têm como dirigente apenas o director-geral? E os vários conselhos de administração com administradores “fantasmas” que só aparecem para receber os salários (normalmente são depositados na conta dispensando as suas presenças) e pôr a cruzinha (assinatura) duas ou três vezes por ano nos “programas”, “orçamentos” e “relatório e contas”?

Comece já por aí porque amanhã poderá ser tarde, Senhor Primeiro-Ministro, e nós então acreditaremos que na realidade quer combater a crise…

AF

Austeridade ou Cosmética?

segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Alguém comentou comigo que a Ministra das Finanças anunciou fusões de instituições com vista a “emagrecer” – não teria usado esta estafada palavra – as “gorduras” (outro termo igualmente desgastado) do Estado. Falou na necessidade de austeridade e contenção com a coisa pública.

Não me surpreendi uma vez que sei tratar-se de uma pessoa lúcida num governo completamente desnorteado por falta de uma equipa preparada e de um verdadeiro timoneiro capaz de traçar com rigor um rumo e indicar o “caminho certo”.

Aliás, amiúde ela, a ministra, vem corrigindo as fantasias do nosso PM que ora parece não conhecer o País que tem; ora por vezes, deixa a impressão de não saber situar-se.

E isto, quer no contexto nacional com o anunciado – imagine-se! Pós-eleições e com a crise da Euro-zona e dos Estados Unidos já quase no apogeu – aumento de regalias sociais e 13º mês; quer em contexto internacional como aconteceu recentemente nas Nações Unidas com a leviandade do uso do crioulo esquecendo-se de que Cabo Verde pertence a duas organizações internacionais (PALOP e CPLP) criadas especificamente com base numa língua comum – a portuguesa – em busca de afirmação e reconhecimento global como tal.

Voltando à anunciada fusão das instituições, é bom que não se esqueça a Ministra das Finanças de lhes associar um novo paradigma de gestão. Poderá não ter peso nenhum, mas é uma questão de moralização e de alguma indicação de “austeridade”.

Existem muitos conselhos de administração com administradores “fantasmas” e inúteis. São apenas “jobs for the boys” pois auferem, os administradores, não senhas de presença mas salários mensais sem uma efectividade para os merecerem.

É o modelo sustentado e generalizado por este governo, num gesto mimético em relação às congéneres estrangeiras, sem uma análise séria e honesta da dimensão de cada instituição e das características específicas das respectivas actividades, (vide instituições que dantes eram geridas com um presidente ou director-geral ou mesmo director e hoje são dotadas de um relativamente oneroso mas pomposo, inócuo e virtual conselho de administração).

Trata-se também de uma importação deliberadamente acrítica para o sector público de figurinos do sector privado com intenção de iludir a população com medidas “legais” mas visando objectivamente satisfazer uma boa franja partidária que é preciso alimentar para calar e fidelizar.

Só que no sector público somos nós os contribuintes que pagamos as despesas dos sonhos, devaneios e “compromissos”, com alguma incompetência de permeio, dos dirigentes do Estado.

Que venham pois, e já, essas medidas de austeridade e de contenção e que não fiquem só em anúncios e em fusões de instituições e não sejam apenas cosmética para iludir os “parceiros” de desenvolvimento que vêm contribuindo de forma generosa para alimentar alguns disparates e o permanente eleitoralismo dos nossos governantes.

A. Ferreira

Destino!?...

sexta-feira, 28 de outubro de 2011
Antes de entrar no tema que faz supor o título deste escrito, abro um parêntesis para contar o seguinte: o Armindo costuma, dizer-me a brincar, que eu escrevo por qualquer pretexto, «pronto, lá vai ela escrever!» comenta ele. Quem dera que assim fosse! E respondo-lhe também meio a brincar, meio a sério, que algumas vezes, os meus escritos são para “despistar” o terrível “senhor alemão” e mantê-lo o mais afastado, tanto quanto me for possível. Fecho o parêntesis.
Mas o assunto que aqui me traz nem é feliz, bem pelo contrário, faz-nos ver a vulnerabilidade humana e a sua degradação conduzidas algumas vezes pelo próprio sujeito.
Foi assim: aqui há dias a minha Empregada, acabado o trabalho, despediu-se e ouvi-a fechar a porta após um: «até amanhã, se Deus quiser!» Passados nem dois segundos, volto a ouvir um toque da campainha da porta, pensei com os meus botões: «Deve ser o David! mal pressente que estou sozinha, vem bater-me à porta!». Desço para a abrir e era de novo a empregada que se havia esquecido do telemóvel. Digo-lhe: «Ah! Julguei que fosse o David!» resposta dela: «Ah! D. Ondina! Esqueci-me de lhe dizer, o David foi a enterrar no fim-de-semana. Morreu numa valeta de uma rua qualquer. Diz-se com ataque de coração».Fiquei meio perplexa, que é como se fica normalmente com uma notícia desta e apenas comentei: «Coitado! Paz à sua alma!»Hão-de me perguntar quem é ou, quem era o David?
Ora bem, comecemos pelo princípio. Conheci o David na década de oitenta, meados ou finais, já não posso bem precisar, só sei que ele era então ainda um jovem homem, artesão e que me vinha bater à porta para vender as suas peças acabadas de fazer. Eles eram candeeiros de casca de coco, quinquilharias de tartaruga (ainda não havia a boa proibição da caça a esta espécie marinha) ícones de barro, entre outros objectos. Eu comprava-lhe as peças mais para o incentivar a continuar com o ofício do que propriamente porque as queria. Embora seja apreciadora de um bom artefacto.
A determinada altura, apercebi-me de que o artesão já não andava bem, bebia ou drogava-se, não posso afirmar, mas que me parecia isso, parecia. Falava alto, sozinho, alterado. Passou a vir bater à porta quase todos os dias. Por vezes mais do que uma vez por dia. Gritava pelo meu nome quando lhe diziam que eu não estava ou estava ocupada.
Por fim já trazia peças inacabadas, e algumas que me pareciam não serem dele, mas sim subtraídas por ele a algum colega.
Enfim começara a sua degradação, a desgraça e a sua queda. Deixou de trabalhar a sua arte. A desleixar-se no vestir e na higiene pessoal. Passou a pedinte, a vagabundo de rua, parecia mesmo um quase sem-abrigo. Vinha já pedir comida e, sobretudo, dinheiro. Dava-lhe ou, mandava dar-lhe algum leite, pão, bolacha, ou sopa, pois que me parecia que cada vez mais se reflectia no corpo muito debilitado, os efeitos devastadores da bebida e da droga. Igualmente pelo Natal, oferecia-lhe sempre uma prenda em dinheiro. Mas o seu comportamento piorava de dia para dia em termos de boas maneiras. Passou a exigir em alta briga (como se fosse um direito adquirido) à empregada, a todos da casa, dizendo que eles não estariam a cumprir as minhas ordens em dar-lhe o que estava a pedir. O que é certo é que tantas fez que já ninguém tinha paciência para o ouvir quando cá vinha à porta de casa. Numa palavra: passou a “abusar” da dita “bondade do próximo.”
Voltando ao passado do David, do tempo em que ainda novo e artífice (promissor); do tempo em que participava com as suas peças em feiras e em pequenas exposições de artesanato e em que ele estava enquadrado no Centro de Artesanato. Era um tempo de intensa cooperação com países (sobretudo europeus) que ajudavam Cabo Verde. Havia cooperantes de várias nacionalidades. Eles e elas, franceses, suecos, suíços, italianos, portugueses -embora estes últimos não fossem considerados propriamente “estrangeiros” – entre outros. Mas que os havia em notável quantidade e de diversas nacionalidades, era então um facto.
Contaram-me – não posso garantir a veracidade disso – que ele se envolvera numa relação amorosa com uma cooperante e que quando esta terminou a missão – assim se denominava na época, o serviço prestado pela cooperação dos países que ajudaram Cabo Verde nos primeiros anos após a independência – quis “levá-lo” com ela de regresso ao país de origem. Ela estava no ramo e saberia como enquadrá-lo no seu ofício. Segundo a minha relatora, ela pediu, suplicou-lhe, lágrimas pelo meio, mas David ter-se-á recusado, pois começara a beber e a usar alucínogenios (?). Enfim!...
Conta-se que, inclusivamente, isso foi mote de uma coladeira muito em voga nessa época. Ficou na terra e não tardou a processar-se (não por este motivo) a auto-destruição do homem.
Um dia em que ele me pareceu mais sóbrio, perguntei-lhe timidamente, pois sabia que estava a “invadir território muito pessoal” o porquê dessa recusa, que certamente lhe teria mudado – para melhor – quem sabe! O rumo da vida? Ele apenas me respondeu: «Destino!?...Olhe nem sei! …»E ao saber a notícia da sua morte, veio-me à memória esta espécie de presságio/sentença de vida, dita pelo próprio.

Isolacionismo Linguístico?

domingo, 23 de outubro de 2011
Quando num dos meus escritos aqui publicado, me referi à forma descontextualizada e sem mesura com que o nosso Primeiro Ministro usou o Crioulo no seu discurso na Assembleia-Geral da ONU, fi-lo com os dados que tinha no momento em que escrevi o texto.
Posteriormente, em contacto com entidades ligadas à CPLP, nomeadamente de Angola, Brasil e Portugal, pude perceber o porquê da reacção pouco positiva dos nossos parceiros deste grupo.
Se não vejamos:
1 – Depois de muitas “batalhas” do grupo CPLP, para que a Língua portuguesa seja de facto – ela já é de há muito, e oficialmente, uma das línguas desse grande fórum mundial – um dos idiomas realmente assentes no plenário das Nações Unidas;
2- Não vá sem acrescentar que esta vontade cada vez mais reiterada da CPLP relativamente à Língua comum, tem vindo a acontecer igualmente em muitas outras organizações e em outros fóruns internacionais, com alguns resultados muito encorajadores;
3 - No momento em que os “holofotes” da ONU estavam virados para Dilma Rousself, a Presidente do Brasil, que fez um globalizante discurso de abertura em português, o que fez que acontecesse, de alguma forma, o “momentum” da Língua Portuguesa;
4 - Quando na mesma direcção se seguiram os discursos de Angola, Moçambique, e outros, eis que surge isoladamente, como que “caído de uma galáxia distante” Cabo Verde a discursar em Crioulo o que configurou uma contrariedade a essa afirmação.
Ora bem, quem já andou em fóruns internacionais, conhece as regras – os diplomatas e os políticos fazem concertações constantes ao longo das sessões, entre si e com os grandes ou, pequenos grupos de países a que estão ligados por diversos motivos, ou interesses, para atingirem determinados objectivos. Normalmente giza-se uma estratégia de grupo. E desta vez com o brilharete da Presidente do Brasil, seria a hora da consagração, da afirmação e da consolidação da nossa Língua comum. E parece ter sido a isto a que faltou e falhou precisamente ao nosso representante orador na Assembleia-Geral da ONU. Ficou isolado. Daí que alguns da CPLP tenham abandonado a sala, seguramente descontentes com a prestação de Cabo Verde no contexto.
Na verdade o PM cabo-verdiano não cometeu nenhum “crime” com isso. Nada disso se tratou. Mas que foi inoportuno e descontextualizado e que configurou algum menosprezo, ou alguma menos valia pelos termos de pertença de Cabo Verde à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, creio que dúvidas não sobram. Igualmente, não existem dúvidas, de que ele não soube reger a finalidade importante da nossa língua segunda que é exactamente para a comunicação exterior /internacional.
Como defensora acérrima do bilinguismo, faço votos que da próxima vez, saiba o nosso PM distinguir o espaço e o contexto para a utilização de cada uma das nossas duas línguas.

A História é por vezes interessantemente irónica!...

domingo, 16 de outubro de 2011
Por vezes ocorre-me pensar sobre as ironias e os paradoxos e, quiçá, as “partidas do destino” que o curso da nossa História nos prega!
A este propósito vieram-me à mente alguns acontecimentos recentes. Sobre eles vou já e antecipadamente, pedindo desculpas aos visados, pois que de ausência de saúde se tratou, o que é sempre um problema delicado e complicado. Só quem não passou por ele...
Mas não deixa de ser irónico verificar que os Dirigentes – das ex-colónias ou ex-Províncias Ultramarinas de Portugal, conforme a óptica – à mínima “dor de dentes, ou de cabeça,” zarpam ou, para a antiga Metrópole, pátria do malfadado colonialismo, (à qual ainda rotulam quando lhes convém, desde que sirva o discurso para confundir os portugueses com o antigo colonialismo) mas que, no entanto e quando doentes, não dispensam os seus bons médicos, os seus bons hospitais, etc., etc. (vide as notícias relacionadas com a recente operação do PM cabo-verdiano em Lisboa.
Por sinal, e ironicamente, o mesmo governante que aqui há uns tempos os havia convidado (os portugueses da Electra/EDP) a saírem pela praia da Gamboa, (?)
Mas isto é outra história que mostra como é bonita a boa educação!
Igualmente, o corpo do antigo e primeiro PR de Cabo Verde veio de Coimbra de um dos seus melhores Hospitais em que esteve em tratamento.
Tal como também por lá ficou o do primeiro PR da Guiné-Bissau, anos largos a viver na antiga Metrópole, (a quando do Golpe de 1980) com pensão e casa conferidos pelo Estado português.
Tudo isto não deixa de ser bizarras ironias das nossas independências (?)...
Em resumo, concluo e estou eu em crer, que teríamos melhor sistema nacional de saúde se, de vez em quando, os nossos governantes fossem também tratados num dos hospitais destas ilhas e/ou nos do país de origem… Aí sim, aí haveriam de se dar conta das nossas reais e gritantes carências.
Quando no ano passado, estive no Hospital de Bissau (outro país em que os seus mais altos Dirigentes vão directo para a Europa, ao mínimo mal-estar) para assistir a um familiar querido, pude verificar o estado lastimoso e indigente em que as instalações se encontravam, e pensei com os meus botões: «Aqui não entra de certeza, nenhum governante do país para se tratar…Isto, é para o “nosso povo” – como gostavam ou gostam de dizer – que eles não!»

Volto a repetir que não gostaria que isto fosse entendido como qualquer escrito de menos respeito a qualquer paciente. Longe de mim semelhante atitude! Sobretudo, porque toca a saúde.
Trata-se apenas de uma brevíssima reflexão sobre algo que não deixa de ser intrigante se o entendermos como vindo de “patriotas e nacionalistas” que por vezes até exageram isso «chauvinisticamente» nos seus inflamados discursos de auto-suficiência, quando bem lhes convier.
Como cantou Chico Buarque de Holanda em celebração ao “25 de Abril de 1974”: «Portugal ainda seria um imenso império colonial!» Estaria o poeta compositor brasileiro a profetizar?...Quem sabe!
Eu terminarei, citando a velhíssima máxima: «Nunca digas: desta água não beberei!».

Malfadadas energia e água (I)

quarta-feira, 12 de outubro de 2011
Não existem super-homens, nem super governos. Este governo do Paicv vive tempo de mais a anunciar coisas bonitas, num ritmo frenético e imparável, mas quando se vai ao fundo das coisas, aos resultados, em muitas áreas essenciais o governo falha clamorosamente. A maior bette-noir deste governo é o sector da energia e água. É onde tem passado as maiores agruras ao mesmo tempo que nos acena com milagres futuros.

O povo cabo-verdiano clama por um mínimo de cada um desses bens essenciais – energia e água. No entretanto, vive-se uma situação caótica numa empresa pública detida a 100% pelo Estado. Ao mesmo tempo que a sociedade se manifesta – ainda que timidamente – o governo fixa novo prazo: Fevereiro de 2012. Para uma dita, prometida há muito, resolução do problema.

E o mesmo governo parece esquecer-se do seu pecado original cometido em 2007 com a re-nacionalização da empresa e com a saída da EDP. Claro que encontrar razões atrás é sempre muito fácil e é outra forma de a culpa morrer solteira, que é outro nome para um comportamento corriqueiro em CV.

Este governo, o governo do Paicv que caminha para 11 anos de governação ininterrupta, é o primeiro e principal responsável pela situação de carência em que vive a população à cata desses dois bens básicos. São bens em que importa o Estado garantir mínimos, no acesso e no fornecimento. E são uma evidência as dificuldades, os problemas, as complicações, o descaso em que temos vivido neste últimos longos anos.

Em momento mais oportuno, poder-se-á revisitar o que para alguns terá sido a fonte de todos os males actuais da empresa: a privatização. É visto como se a partir de uma palavra mágica – privatização – todos os males do mundo pudessem esvair-se. Neste momento e analisando a realidade mais próxima, importa ver o trajecto de 2007 até ao final deste ano da graça de 2011. E este período, para não ser exagerado, é um período de uma confusão total. Diga-se que os erros cometidos antes de 2007 no processo EDP, cujos donos foram convidados a abandonar o país através de uma das nossas muitas praias, também contribuíram e muito para a difícil situação em que vivemos.

O Estado ao assumir a empresa, recebeu-a em difícil situação económica e financeira com o agravante da assunção de um aval a um empréstimo obrigacionista de 4Mcontos, cujos juros têm sido pagos desde então e cuja 1ª prestação de capital de 1,3Mcontos vence no inicio de 2012. Ao mesmo tempo o Estado “comprou” problemas futuros graves tendo ficado com a responsabilidade de fazer os investimentos necessários na produção e distribuição, que são de grandes e elevados montantes.

Por este ser um tema recorrente e de sofrimento permanente, aparecem sempre muitas vozes. E como se sabe cada cabeça sua sentença. Mas convenhamos, ele há cada argumento: uns é porque somos nós, a sociedade, que não pagamos as facturas; outros são porque fazemos ligações clandestinas; outros ainda porque furtamos energia. São comportamentos condenáveis, sem dúvida, mas esconder-se atrás deles para não se assumir as responsabilidades em termos da condução da política energética e de água, é de uma tremenda desfaçatez … Fala-se por exemplo que a Electra precisa de 150mContos por semana para combustível. Ah é? E porque é que a empresa de logística prevista desde 2004 ainda não saiu do plano das intenções? Ou seja, nem chegou ao papel. E isto representaria economias importantes na estrutura de custos da empresa. E tendo o peso que tem nos custos, o preço do combustível é fixado administrativamente pelo próprio governo (não mencionar a ARE é deliberado), o que quer dizer que essa responsabilidade também lhe cabe.

E mesmo nas algumas boas ideias que também existem, em abono da verdade, como p.ex. a introdução das energias renováveis, a situação complica-se com as opções feitas – o caso mais gritante são os parques voltaicos de Santiago, Sal e Boavista, em que se escolheu uma tecnologia não madura e ainda por cima menos eficiente. E porque entrou na sua própria armadilha quando re-nacionalizou a empresa em 2007, cujo maior beneficiário foi a EDP que se libertou do compromisso de investimento de 18Mcontos e ainda encaixou 4Mcontos num negócio onde poderia perder 7Mcontos. E aí o governo ficou com a “criança nos braços”. Enfezada, debilitada, sem estrutura, quanto mais músculo financeiro. Enfim, uma dor de cabeça daquelas! E podemos concluir hoje que o governo não teve consciência do que tinha em mãos. Se calhar ainda não a tem na totalidade.

E nós outros? Os que parecem mais se indignar, pelo menos em certos fóruns, na verdade são uns privilegiados. A maioria da população sofre, e muito, com a ausência de luz e água, principalmente este último bem básico que chega ainda de forma racionada, a conta-gotas, a essa maioria. E como é que fazemos para que em 1º lugar o governo assuma as suas responsabilidades porque elas vão também desabar sobre nós, através dos impostos ou de divida futura do Estado? É que só depois disso, só depois do governo assumir os seus erros enormes e a totalidade das suas responsabilidades, poderemos aceitar que se trata de um problema complexo, difícil de resolver, e não com passes de mágica, como tem este governo do Paicv tentado fazer. Necessitará pois, por muitos anos, de investimentos públicos significativos. Só então aceitaremos datas que sejam razoáveis para atenuar o problema, ao mesmo tempo que deveremos conhecer resposta às seguintes questões:

1. Quais são os capitais necessários para fazer a reestruturação económica e financeira da Electra?

2. Quanto capital vai ser preciso injectar?

3. Como vai o governo criar, a jusante, as bases de operação da empresa em termos do ambiente regulatório, do preço de combustível, da empresa de logística…?

4. Depois de conhecer resposta aos três pontos anteriores há que fazer com que a gestão da empresa se ponha a fazer pela vida, a tratar do seu trabalho de casa em minimizar avarias, em conseguir distribuir o que produz e em cobrar o que distribui.

E só isso poderá trazer alguma luz ao fim do túnel na resolução deste grave problema que Cabo Verde atravessa. Mas não queremos mais manipulações nem queremos mais mistificações. Dizemos um veemente BASTA! Queremos respeito, transparência, verdade e trabalho. Muito trabalho!

Paulo Figueiredo

Registo sem glória?

sábado, 8 de outubro de 2011
Contaram-me, não ouvi e nem vi. Andava eu na pátria de Dante Allegheri em turismo histórico pela bela Itália.
Contaram-me que o nosso PM terá discursado em crioulo, em língua cabo-verdiana na sessão de Outubro das Nações Unidas.
Não sei os motivos que o terão levado a usar a sua língua materna de uso interno, no plenário internacional, quando ele possui, sobretudo para essa finalidade, a nossa também língua portuguesa que é pertença de uma vasta comunidade.
Se foi para “colocar” Cabo Verde, em algum roteiro exótico, não tenho tanta certeza que ele o terá conseguido, visto que hoje o investimento e o turismo procuram destinos que falam algum idioma mais global…
Resultado: as delegações presentes de Angola, Brasil, Moçambique, Portugal, numa palavra e ironicamente, a CPLP, saíram da sala, pois nada entendiam da fala do orador, com a agravante de não ter sido providenciado qualquer serviço da tradução do crioulo para o português.
Duma assentada o PM cabo-verdiano criou alguns anti-corpos com o seu exotismo. Pois o facto de a CPLP o não ter percebido é no mínimo bizarro, pois ele (o PM cabo-verdiano) é portador da língua comum, base da fundação da grande instituição que historicamente une os países e os povos que a falam, a escrevem e são nela escolarizados.
Será que ao PM cabo-verdiano faltou a noção de escala e de contexto da língua cabo-verdiana ou do crioulo ao nível global? Será que ele incluiu também a tremenda e a estrutural dependência deste pequenino país?
Fica aqui este registo … sem glória.

Uma tarde diferente na Assembleia Nacional…

terça-feira, 20 de setembro de 2011
Decorriam os finais dos anos 90. Havia sido decidido em Conselho de Administração da Assembleia Nacional, prover o edifício de estruturas adequadas que permitissem a entrada e a circulação no interior da casa parlamentar de cidadãos portadores de deficiência.

Ora bem, rampas exteriores e interiores prontas e colocadas, acordou-se com a Associação Nacional dos Deficientes de que a partir da tarde desse dia, já poderia informar os seus associados de que a Assembleia Nacional estava já em condições de os acolher para uma visita.

E foi assim que - nessa tarde a que chamei “diferente” no título deste escrito - ao entrar na Assembleia Nacional para me dirigir ao gabinete, vejo um movimento desusado até aí, de muitas cadeiras de rodas e de caras alegres dos seus ocupantes e algumas agradavelmente surpreendidas pelo à-vontade com que se movimentavam pela primeira vez, no interior do Parlamento de que apenas conheceriam o exterior.

Descarregados os documentos na secretária e verificados os mais urgentes a tratar, saí do gabinete e dirigi-me ao balcão para contemplar o movimento em baixo, no grande hall, por onde circulavam os visitantes especiais desse dia em direcção ao salão nobre. Debrucei-me para melhor contemplar, quando senti uma mão atrás de mim que apertava a minha mão em silêncio. Virei-me e deparei-me com o Presidente da Associação Nacional dos Deficientes, o Eng. David Cardoso, que continuava a apertar-me a mão sem pronunciar palavra alguma e os nossos olhares encontraram-se. Senti que uma espécie de emoção muito forte inundava-me e que as lágrimas já estavam a espreitar…

Lá ficámos uns segundos sem conseguir articular qualquer som de parte a parte e pensei comigo própria sem conseguir expressá-lo: “Como pequenas coisas feitas com determinação para bem servir, conseguem fazer uma enorme diferença!”

Daquela forma tinha a casa parlamentar cabo-verdiana dado um passo importante no cumprimento da lei das acessibilidades que seria proximamente ou, fora então recentemente aprovada, já não me recordo exactamente a ordem dos procedimentos. Só sei que essa tarde ficou-me memorável por ter presenciado a satisfação estampada nos rostos desses visitantes que pela primeira vez puderam penetrar no interior do Palácio da Assembleia Nacional.

A minha ira contra a Electra e o Bilinguismo entre nós…

sábado, 10 de setembro de 2011
Reparando no título do meu escrito, ele mais parece resultado de alguma insanidade lógica do que outra coisa.
Sim, o que tem a ver o bilinguismo com a falta de energia de que a nossa cidade capital vem sendo vítima? Sim, que tem a ver uma coisa com outra?...
Ora bem, aparentemente nada de semelhante os aproxima, os dois temas. O problema, ou melhor, o dilema foi meu; se havia de desabafar a minha ira vulcânica sobre o incómodo, o desconforto e os estragos que me vêm sendo provocados devido aos cortes frequentes de energia, para não dizer já sistemáticos, com “picos” de 13 (treze) horas seguidas, na minha zona; ou, se havia de discorrer um pouco sobre o bilinguismo no contexto actual das duas línguas cabo-verdianas.
Mas se me permitem, abro um parêntesis para o desabafo contra a Electra, correndo embora o risco, de ficar a meio do texto…se faltar a electricidade neste ínterim.
Sempre vou dizendo que chega a ser uma forma de violência cívica exercida sobre o cidadão que paga religiosamente as suas contas de luz, esta justificação já estafada e com contornos de círculo vicioso de que a Electra é “obrigada” a cortar a energia aos que têm as suas contas em dia, aos que cumprem com as suas obrigações, por causa da falta de receitas para comprar combustível, dada a percentagem elevada dos habitantes da Praia que roubam electricidade (os quais nunca sofrem cortes de luz e que até se gabam e se ufanam disso para quem os quiser ouvir)?!
Convenhamos que isso chega a ser simplesmente insuportável!
E então? Meus senhores? Não conseguimos resolver isto?
Interrogo-me sobre o que fazem os responsáveis? Será que estão a trabalhar? A gerir? A inspeccionar? A procurar solucionar os problemas? Ao menos os do dia-a-dia? Não há uma programação para os “cortes” na qual o cliente da Electra ficasse ou fosse minimamente avisado?... A exemplo do que fazem no Mindelo? Por onde param na capital os engenheiros/gestores que determinam os momentos, as horas de corte ao fornecimento de energia às diferentes zonas da cidade da Praia? Os aparelhos eléctricos domésticos estragam-se com a violência desse selvático processo de interrupção de energia e ninguém é por isso responsabilizado!?
A sensação com que infelizmente se fica, é que pouquíssimo se está a laborar neste particular, para se resolver tão grave problema! Que é a falta de luz e também de água em alguns bairros, no maior agregado populacional das ilhas.
A impressão que o cidadão tem de grande parte dos altos responsáveis do país (as excepções, se as há, já são uma espécie em extinção rápida) é que eles, uma vez chegados ao gabinete, sentam-se pachorrentamente em frente do computador (têm energia assegurada pelos geradores do serviço) – desligam-se do resto que é a sua obrigação primeira – a ver, a escutar, a jogar, a ouvir programas outros, do que realmente a trabalhar para o fim para que foram nomeados, a tentar soluções para o sector sob sua tutela e responsabilidade. E sobretudo, sem corresponder (o trabalho produzido) à proporção do que ganham mensalmente, com o dinheiro dos Contribuintes que somos todos nós!
Não pode ser! Vamos exigir que trabalhem! É o mínimo que se lhes pede! Que trabalhem! Por favor! Trabalhem para este país! Este país que não é auto-sustentável e que tem gravíssimos problemas estruturais e de subsistência!
Tentem, mas tentem mesmo, resolver, solucionar de vez, este gravissímo problema.
E não é que com esta conversa toda acabei por me alongar e me desviar do tema que o título do texto anunciou?
Fecho o parêntesis e se calhar o escrito também e voltarei com o próximo, desta feita versando alguns aspectos do fenómeno bilingue entre nós.

Droga em casa; venda à porta do Liceu…

domingo, 4 de setembro de 2011
Esta é uma pequena e trágica história – que ouvi contar, não há muito tempo – de uma mãe de família (monoparental e disfuncional) do Bairro da Várzea na Praia
Vou narrá-la de forma curta e sem floreados, pois que, por mais volta que eu lhe pretenda dar ela é cruel de mais para que a sua narração comporte qualquer eufemismo.

Pois bem, a senhora tinha ou, ainda tem como actividade de sustento familiar, a venda de substâncias alucinogénias (droga) à porta do Liceu. Guardava o produto em casa, escondido dos filhos, de idades próximas das dos seus clientes…

Mas chega um dia em que dois dos filhos mais crescidos, um rapaz e uma menina adolescentes, descobrem o que a mãe vendia diariamente à porta de um estabelecimento de ensino. Resolvem provar o produto. Tomam-lhe algum gosto e passam a roubar e a usar em casa alguma porção da destinada à venda.

Nesse ínterim, a mãe foi-se apercebendo de que algo andava mal com os filhos pois que revelavam preocupantes alterações comportamentais tanto em casa, com na rua. Além do mais, ela já tinha intuído também que o produto para venda estava a ser domesticamente subtraído.

Descoberto tudo, entre gritos, zangas e ralhos, acudiram alguns vizinhos aos quais, – em grande pranto e berreiro – a vendedora de droga a adolescentes contou a desgraça que lhe caiu em casa.

Ora bem, entre comiserações e palavras de circunstâncias ditas por alguns dos presentes, sobressaiu uma vizinha que – sem papas na língua e bem colérica – lhe atirou:
- Bem feita para ti! Não andas a desgraçar os filhos dos outros? Ou não pensaste que o que estás a fazer podia cair também nos teus filhos?... - (traduzido do crioulo em que foi originalmente dito)

Sem mais comentários!

Moral da história? A existir e se é que se pode dizer assim, cada um retire a que achar correcta.

UM SUSPIRO DE ALÍVIO

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Há mais de uma semana que terminaram as eleições presidenciais. Muito se tem escrito… E com alguma oportunidade e uma certa clareza, na minha óptica, é claro. O assunto está praticamente exaurido. Pouco há a dizer. Deixo aqui o registo muito breve da minha perspectiva.

Todos nós, os que nos consideramos democratas, respirámos de alívio com a eleição de JCF. O espectro de um regime totalitário com máscara democrática perfilava-se no horizonte. O que estava em causa não era um presidente, uma maioria, um governo. É natural e legítimo que qualquer partido político queira ter essa pretensão. Não está a ser honesto o militante que diz o contrário. Quando se disputa é para ganhar. Mas, parece-me, que não é recomendável, em democracia, que tal aconteça, o que só por si, é uma forte razão para que as presidenciais não sejam partidarizadas.

E ainda mais quando a personalidade que encarna o regime é politicamente sufocante, vaidoso e arrogante, como é o nosso caso. Com a agravante de ser, intelectualmente, pouco honesto.

A experiência que vínhamos vivendo, por culpa dos dois protagonistas – PR e PM – de modo algum era encorajadora. De tal forma a não era, que com a vitória expressiva e inequívoca de JCF muita boa gente celebrou mais a derrota do seu adversário do que a sua própria vitoria.

E perante os factos, não me venham agora dizer que o povo mostrou maturidade quando há escassos seis meses esse mesmo povo patenteou uma confrangedora infantilidade da qual iremos pagar não só ao longo dos próximos cinco anos como através de várias gerações mais novas. É que a maturidade não se ganha com um estalar de dedos. Nem é fruto de uma única eleição. Tenhamos pois paciência que havemos de lá chegar. É preferível dizer-se que, desta vez, o povo votou bem, acertou.

JCF e o MpD ganharam a primeira volta das eleições. É esse o seu fiel eleitorado. Não nos iludamos querendo fixá-lo no da 2ª volta. Os resultados “adicionais” da segunda volta são um misto de rejeição, de raiva, de medo e também, naturalmente, de algum apoio. E foi, como obviamente se depreende, para uma boa parte dos eleitores, uma segunda escolha que não há nas outras eleições – legislativas e autárquicas.

É esse eleitorado flutuante, normalmente maduro, que acorreu à segunda volta e cuja dimensão é uma incógnita, é que é necessário conquistar, ao mesmo tempo que se fidelizam os simpatizantes convictos – os da 1ª volta. Para isto é necessário muito trabalho no terreno, muita verdade no discurso e muita seriedade nos actos, para os quais, espero, a oposição se terá despertado.

Nós, os menos jovens, temos ainda bem presente as eleições presidenciais em Portugal de 1986, em que Mário Soares foi vencedor na segunda volta com 50,7% dos votos. Na primeira volta registava-se 25,1% para Soares e 45,8% para Freitas do Amaral. Ficou célebre, na altura, a recomendação de A. Cunhal aos militantes do PCP: “Tapem a cara ao homem, e ponham um X à frente” (leia-se Soares). E quando foi confrontado com o voto do seu partido em Soares, respondeu: ”Não, não votámos nele, votámos contra a direita”. Isto é, num mal menor.

Não quero de maneira nenhuma diminuir o mérito de JCF e do MpD, que pela primeira vez em mais de dez anos saboreia uma vitória nacional. Que ambos bem mereceram. O primeiro pelo seu esforço e pelo seu querer e crer e o segundo pelo trabalho de formiguinha e de empenhamento desenvolvido no terreno, sobretudo pelo seu incansável líder. Curiosamente, foi na diáspora, que JCF considera o terreno de vocação específica das eleições presidenciais – chegou a escrevê-lo – que ele foi derrotado a par desse caso estudo que é o Fogo.

Estamos todos muito contentes e felizes, mas não nos devemos embandeirar em arco. Foi uma grande vitória e, pela primeira vez, desde há mais de uma década não paira no Palácio de Plateau o fantasma da fraude, o que confere ao novo PR moral e autoridade para o combater com a veemência que o "fenómeno" exige, nobilitando a política e a classe política que carecem de ética e de seriedade e, como consequência, de credibilidade.

O que estas eleições também trouxeram de importante é o reconhecimento público pelos próprios militantes do PAICV da fraude por eles “instituída” e instalada com que convivemos e da qual impunemente usufruíram (Covoada, Baluarte, Mãe Joana, entre os casos mais emblemáticos) ao longo desta última década. E quando alguém lá de dentro farisaicamente e com muito oportunismo diz que só agora tomou consciência da ocorrência é para se lhe perguntar onde é que andou estes anos todos? Se não escuta rádio, não lê jornais nem vê televisão?

Ninguém duvida que JCF fará uma boa presidência. Tem todas as condições se for coerente e consequente com as suas próprias palavras e se subordinar ao rigor disciplinar dos julgamentos políticos (e não só!) das suas análises enquanto analista político e social em que se subentendia a velha máxima da “Mulher de César” e que agora esperamos venha a estar presente em todas as nomeações, designações que partam dele ou venham a carecer do seu aval. Não queremos ver mais no nosso País em altos postos da hierarquia do Estado, por nomeação, gente acusada de imoralidade, com processos judiciais de fraude, roubo, falsificações e outras falcatruas.

De momento, a fasquia está baixíssima e não pode servir de referência. JCF herda uma presidência para esquecer – pálida, medíocre e folclorista. E para o cúmulo, acusada de ser a principal instigadora ou, no mínimo, a eminência parda geradora, dos enormes conflitos que grassam no interior do PAICV.

Pior, não era possível…

A. Ferreira

A Língua em tempo de Campanha Presidencial…

domingo, 28 de agosto de 2011


Poderá parecer óbvio e um pouco “banal”, (relevem-me esta vulgaridade expressiva) o tema que aponta o título deste escrito. Embora saiba que em tempo de campanha “tudo se joga” na saudável “caça ao voto” – quando ela é saudável – ou no convencimento do eleitor.

Tudo isto para dizer o seguinte: foi interessante ver escrito e escutar nas quatro candidaturas – nos discursos dos seus candidatos, nos tempos de antena, nas entrevistas, nos cartazes expostos – duas variantes do crioulo ou da língua cabo-verdiana e a língua portuguesa.

Sobre esta última foi notório que todos os candidatos a falam e a dominam com muito à-vontade e fluência. Não vá sem acrescentar que essa mesma fluência e à-vontade em língua portuguesa foram igualmente visíveis e extensivos aos mandatários respectivos e a todo o “staf” das candidaturas que esteve mediático durante o período referido.
O que apreciei positivamente foi a naturalidade com que – em circunstâncias que a pediam – se expressavam na nossa língua segunda.
Nota positiva e merecida vai também para os Jornalistas que fizeram a cobertura – em língua portuguesa – da noite da votação na televisão nacional. Expressaram-se sem ambiguidades, sem confusões e com bom ritmo para os telespectadores, quer para os das ilhas quer para os da Diáspora, com clareza, que acredito que foram bem entendidos por todos os que os escutaram.

Outra curiosidade foi a comunicação em crioulo feita na comunicação social – durante o período eleitoral presidencial – foram maioritariamente utilizadas duas variantes, a de Santiago, quando a comunicação era dirigida às populações das ilhas do sul e a variante de S. Vicente quando essa mesma comunicação eleitoral era destinada à comunidade de eleitores das ilhas do norte. E isto, quer sob forma oral, quer sob forma escrita.

Podem-me ripostar: “Ora isso é óbvio e se calhar de La Palisse...”

Pois bem, não contrariarei o vosso raciocínio. Apenas acrescentarei que na minha opinião, isto revela uma vez mais que os falantes cabo-verdianos são depositários de uma variedade linguística, de uma riqueza comunicativa que vale a pena preservar sem tentar forçar qualquer tipo de homogeneização quer escrita, quer oral, o que acabaria por ser redutora e empobrecedora das variantes de que se compõe a língua cabo-verdiana ou o nosso crioulo.
A finalizar, faltou-me anotar o interessante que seria observar as variantes do crioulo – com “empréstimos,” quer de vocábulos, quer de construções frásicas, das línguas do país de acolhimento respectivo – e das línguas desses mesmos países, através dos quais se teriam comunicado os activistas e os eleitores da nossa Diáspora, durante a campanha eleitoral presidencial. Mas a isso não me abalanço, pois que tal não presenciei.

A casa da infância…

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Tal como diz a personagem «Chiquinho» personagem do romance homónimo de Baltazar Lopes da Silva, «vivi em muitas casas…» umas muito boas, outras, nem tanto, mas nada como a casa da nossa infância! As palavras não serão exactamente as mesmas do romance, daí a dispensa das aspas na frase restante. Mas o conceito, a ideia e o sentimento nelas inscritos serão estes que retive e apreendi do romance citado.
Ora isto, em escala variável, acontece comigo e com esta casa dos Mosteiros.
Todas as vezes que nela entro é um regresso a um passado rico de memórias, de vozes, de preceitos, de regras, algumas rígidas mas que nos guiaram na vida, e de muito afecto também. Memórias de tanta coisa!
Não me canso de a admirar na sua velhice e na sua vetustez respeitáveis. Venero-a como a um templo.
Há qualquer coisa de sagrado nestas paredes grossas, nesta volumetria imensa de telha, de cimento e que já foi de madeira também. O interior da casa convida ao silêncio. A velha sala de visitas não tolera uma telefonia em altos berros. Tudo aqui convida ao murmúrio para que a paz interior seja parte da estada nela.
Da mesma forma, cada peça que nela está - da maior à mais pequena - grande parte dela, é mais, ou quase centenária. É o velho filtro de água, é o velho relógio de corda da parede, são as velhas camas de ferro forjado, o vetusto guarda-loiças, o antiquíssimo e pesado cofre, o guarda-vestidos (por rearmar) a antiga secretária e a escrivaninha dos meus “velhos,” assim também alguns antigos quadros que ainda emolduram as paredes e fundos de bandejas pintados pela minha mãe, sei lá! …
Enfim, tudo ou quase tudo, vem do tempo dos avós, dos pais e chegaram até nós carregados de histórias de família de grandezas e de fraquezas, de coisas íntimas e de afectos que se destinam a ser preservados.
O valor dela (a casa) reside nisto: Tem alma! Tem raça! E tem classe!
Por favor, conservemo-la!








A Candeia de Diógenes

domingo, 21 de agosto de 2011
Terminada a primeira volta das presidenciais e dada a troca de mimos havida entre as duas candidaturas do PAICV sempre esperei encontrar alguma dignidade entre as hostes, sobretudo na que viesse a ser derrotada.

E perante os factos que eu acabaria por verificar, lembrei-me de Diógenes no longínquo século V – IV AC e da sua candeia e associei-o, naturalmente, aos magníficos versos de Sá de Miranda (Séc. XIV – XV ) que transcrevo:

Homem d’un só parecer
D’un só rosto e d’ua só fé
D’antes quebrar que volver
Outra cousa pode ser
Mas de corte homem não é.


Interrogo-me, julgo que com alguma legitimidade, se os interesses partidários deverão sobrepor-se à dignidade e à honra dos militantes enquanto indivíduos ou se é o carácter e a integridade que ditam o comportamento.

É certo que os partidos não pertencem aos seus dirigentes. Estes são transitórios e circunstanciais e são detentores apenas de um mandato circunscrito aos estatutos, regulamentos e outras deliberações. Mas os partidos são uma organização de voluntários. Só lá está quem quer… Não quer isto significar que alguém se demita só porque é contra determinadas directivas. Não, de maneira nenhuma, não obstante a disciplina partidária e a democracia mandem acatar, em qualquer assembleia legítima, a vontade da maioria.

O que não compreendo é como alguém que se considere "Homem" possa dar o dito, durante largos meses, e o não dito, em apenas 24 horas.

Tenho que concordar com JMN quando disse que o seu PAICV estava infestado de ratos e ratazanas e achar que ele só pecou por defeito, ao se ter esquecido de acrescentar alguns invertebrados que por lá rastejam e de ele próprio se incluir no Zoo.

Só assim se compreendem as declarações públicas de apoio ao MIS de alguns dirigentes da candidatura de ARL e as farisaicas de JMN de apelo à união do partido.

A. Ferreira


A Psicose das “Cidades”…



O assunto deve ser recorrente e se calhar, já várias vezes abordado, uma vez que não é já tão recente. Mas acabada de regressar do Fogo, decidi inscrevê-lo no meu “Blog.”
Não sei e nem consigo compreender até hoje o que se passou nas ilustres cabeças do governo, dos legisladores e dos Deputados deste país e desta nação, para transformarem quase todas as vilas e algumas ainda povoados sede de Concelhos, em cidades!
Será que não tiveram ou não têm a noção do que é uma cidade? Isto chega a ser causa de gozo e de gáudio, esta espécie de “loucura colectiva,” qual toque do rei Midas, em tudo transformar em cidade! “loucura colectiva”, repito, embora selectiva, porque oriunda da classe política.
Falo disso com imenso espanto e perplexidade! E mais, falo disso pois tenho muito afecto e respeito à minha antiga Povoação de Igreja nos Mosteiros, ilha do Fogo que “sem mais e nem porquê” se viu da noite para o dia e por força de uma lei esquisitíssima, elevada à categoria de cidade!
Convenhamos que é desprestigiar um antigo povoado que estava a fazer a sua caminhada – em termos de equipamentos e de infra-estruturas – para ser uma vila razoável, sede do Concelho e que sem o mínimo de condições e de critérios urbanísticos para tal, se vê alcandorada em cidade!
Francamente! Não brinquem com a inteligência e o conhecimento do cidadão, meus senhores! A isto chama-se falta de visão urbana e urbanística. Gostaria de realçar que tais atributos vão directamente endossados àqueles que tal determinaram.
Para terminar, volto a repetir: não devem ter noção e não fazem «a mais pálida ideia» do que é uma cidade!

Toda a vigilância é pouca!...

segunda-feira, 15 de agosto de 2011
A união do rebanho obriga
o leão a deitar-se com fome.

Provérbio Africano

“Zangam-se as comadres dizem-se as verdades”. A primeira volta destas eleições presidenciais foi o exemplo mais acabado deste aforismo popular. As acusações de fraude por parte da candidatura de Aristides Lima contra a de Manuel Inocêncio são simplesmente escandalosas e levariam, de imediato, à realização de um inquérito, no mínimo, sumário, com eventuais demissões de membros do Governo, em qualquer País de regime pluralista medianamente sério. A dar crédito à imprensa – muito tímida, inconsistente e parcialmente desmentida – não estariam envolvidos apenas cidadãos comuns, nem os chamados “jagunços”, mas nomes de altos dirigentes do País.

E se é o próprio Chefe de Estado no seu discurso relativo a estas eleições que lança a suspeição, sob a capa de aviso, ao falar de “ambiente de liberdade e livre de quaisquer formas de pressão ou condicionalismos extra-eleitores” numa antevisão do cenário eleitoral, que podemos nós esperar?

Mas também quando o próprio PR, a mais alta autoridade do País, sede da moral institucional, se estribou silenciosamente na mais escandalosa e vergonhosa fraude eleitoral de que há provas no País, assumindo, para o cúmulo dos cúmulos, a posição de vítima – não acredito que não conheça o enquadramento semântico do aforismo – ao dizer que não vale a pena chorar sobre o leite derramado – quem o podia ter dito seria Carlos Veiga – que podemos nós esperar?

Quando o PM deste País numa confrontação directa às leis da República pronuncia-se levianamente junto a uma assembleia de voto em plena decorrência do acto eleitoral ao caso (que nunca provou) de “dinheiro sujo” e fica impune, que podemos nós esperar?

Quando o famigerado ex-director-geral da DGAPE é acusado publicamente de uma estrondosa e vergonhosa fraude eleitoral e, não só fica impune como é sucessivamente promovido faltando apenas a vulgarizada condecoração – o que admira – para a consagração total, que podemos nós esperar?

Quando um juiz do STJ não declara incompatibilidade (moral/ética) num caso de julgamento eleitoral em que ele é implicitamente parte, que podemos nós esperar?

Quando os insuspeitos observadores da CEDEAO recomendam (Que vergonha!)às autoridades (quais?) medidas “contra práticas de intimidação e pressão exercida sobre os eleitores, em particular, no dia da votação” para além de referências a “compra de votos” na Praia e S. Vicente, que podemos nós esperar?

Todo este edifício político-institucional do poder actual em busca de uma total hegemonização (leia-se “ditadura” em democracia) que só as lutas internas não permitiram a sua total consagração, está alicerçado num gigantesco sistema de fraude que estas eleições acabam de confirmar e, quiçá, poderá vir a ratificar.

Perante a máquina montada, muito pouco há a fazer. Não há instâncias que se possam considerar impolutas para se recorrer. Está tudo “corrompido”. O PR não tem moral porque usufrui sem rebuços. O PM não tem também nem moral nem distanciamento porque ele próprio responsável político, moral e material. A justiça auto-mutilou-se: não tem olhos, não tem mãos, nem tem voz. O Parlamento com a maioria silenciada pelos tachos e amordaçada por corrupção é, globalmente, cúmplice. Resta-nos apenas as mal sucedidas manifestações de rua e uma abrangente vigilância dos que querem democracia no País ou uma punição nas urnas (voto em branco ou contra) aos prevaricadores. Ninguém pode abster-se à participação e a uma vigilância permanente. Somos todos responsáveis.

A. Ferreira

A Minha Amiga Firmina

sábado, 13 de agosto de 2011
Há vidas que sem serem propriamente heróicas, merecem ser contadas. Se não no todo, pelo menos parte dela; pois que contém episódios interessantes e ao mesmo tempo reveladores do carácter e da forma de estar na vida da pessoa, não só consigo própria, mas também com os outros.
Assim foi e tem sido a vida da minha amiga Firmina, quem nos verdes anos, emigrou para a Itália, país onde permaneceu durante mais de três décadas.
Hoje ela considera a língua de Dante e a Itália como sua língua e sua segunda terra.
Aí trabalhou como empregada doméstica continuadamente até à reforma numa casa de família – onde ela viu crescer e como acrescenta: “ajudou a criar” os dois filhos do casal – que com ela manteve uma relação amistosa, de tal modo que após o regresso definitivo a Cabo Verde a convidam de dois em dois anos para passar um mês de Verão com eles e retribuem nos intervalos, vindo eles até Cabo Verde visitá-la. De modo que mutuamente as relações são já na actualidade, quase familiares.
Conheço alguns episódios da vida dela, pois que ela mos contou, numa aproximação de amizade já que Firmina e eu frequentamos a mesma paróquia.
Contou-me ela que em criança frequentou uma instituição dirigida por Irmãs religiosas em Santa Catarina, interior da ilha de Santiago. Aí fez a escolarização básica e aprendeu os lavores e a culinária.
Em meados dos anos 60 do século XX, emigrou para Milão com contrato feito com os patrões, os únicos que teve até deixar definitivamente a Itália.
De entre historietas e factos interessantes acontecidos durante a estada no país de acolhimento, reporto um devidamente autorizada para tal fazer pois, longe de mim querer aqui imprimir qualquer sentimento negativo em relação a uma vida laboriosa e honesta como foi e é a da minha amiga Firmina que tanto a orgulha! E isso, na minha opinião, vinda de alguém que me parece ser portadora de uma modéstia e de uma generosidade naturais, sem artifícios.
Recém chegada a Milão, tratou de frequentar um curso nocturno para aprender italiano o que aconteceu com sucesso.
Levava na sua “bagagem” ética, valores que lhe recomendavam que devia cumprir bem as suas obrigações, sem nunca esquecer os seus direitos. Segundo ela, guardou isto como lema que a guiou ao longo dos anos que esteve no estrangeiro.
Ora bem, havia em Milão à época, uma significativa comunidade imigrada, jovem feminina cabo-verdiana (sobretudo oriunda das ilhas de Barlavento) – que tal como a Firmina – era maioritariamente empregada doméstica. Normalmente quase todas se encontravam aos Domingos em locais habituais o que naturalmente acabou por criar laços de forte solidariedade, de amizade entre patrícias que aí se conheceram.
Algumas consideravam-se exploradas pelos patrões que não lhes pagavam o ordenado estipulado no contrato. E mais, até chegavam a reter-lhes os documentos tais como o passaporte e demais papéis para que elas não pudessem reclamar.
Aqui entra a nossa Firmina, que cumpridora das suas obrigações, mas igualmente ciosa dos seus direitos e mais instruída do que a maioria das colegas; transformava-se em perfeita “sindicalista” e numa persistente e acérrima defensora dos direitos das colegas prejudicadas.
Segundo ela, várias vezes foi bater à porta da casa, onde trabalhava a colega mal paga e pedir satisfações aos patrões da patrícia, informando-os de que eles não estavam a cumprir com o que a lei italiana que estipulava em relação ao montante mensal devido. Contou-me que fez isso várias vezes e em algumas delas, foi chamada a polícia que chegou a levá-las (a ela e à colega que defendia) para a esquadra sendo queixosas as patroas. Mas a Firmina que se expressava bem em italiano fazia-se entender muito bem e relatava para o agente policial que ela fora em defesa de uma cidadã estrangeira cujos patrões, não estavam a cumprir com o que assinaram em documento. Acabava quase sempre por ganhar a causa e uma amiga devotada em cada colega que assim defendia.
Fazia isso de forma generosa e arrojada, pois que não devia ser nada fácil a uma empregada doméstica, estrangeira, imigrada e naquela época, ter a ousadia de confrontar patrões da forma como ela o fazia. Alguns chegaram a proibi-la de se abeirar da porta da casa deles para acompanhar a colega que aí trabalhava.
Com tantas intervenções a favor de colegas de trabalho, a minha amiga Firmina ganhou experiência e sabedoria nessa matéria que no fim se tornou conhecida não só dos serviços da emigração, como também dos da segurança social da cidade que já quase a consideravam como uma sindicalista “vera” tal era o empenho com que tratava os assuntos que diziam respeito às cabo-verdianas empregadas domésticas em Milão.
Pois é, tal como disse no início deste escrito há vidas que sem serem heróicas no sentido clássico do termo merecem – com igual mérito – serem reconhecidas como tal.

«Mão à palmatória» …

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Afinal, devo ter sido confiante ou crédula demais no escrito anterior, quando disse que: “pela primeira vez, nesta década,” iria votar sem o fardo de pensar que a “dona fraude iria imperar nos resultados.” Embora o tivesse feito e escrito de boa fé e crente de que tal ia finalmente suceder, tenho de confessar que me enganei. Infelizmente, ainda não foi desta.
Para mal desta democracia e deste país, já são muitas as denúncias insuspeitas vindas a lume, os manifestos indignados, as cartas e os artigos da mesma “família partidária” a denunciar a compra de votos, o que tem sido elucidativo de que vamos continuar com este “pecado capital” que é o de tentar alterar ou impor o que o cidadão tem mais sagrado, que é votar sem qualquer tipo de coacção.
Note-se: desta vez não é apenas a Oposição a queixar-se. As vozes mais ouvidas são oriundas dos que são, eram (?) altas patentes do regime no poder.
O que é certo é que tudo isto confrange e faz-nos sentir envergonhados perante nós próprios e perante a comunidade internacional.
Imaginem o embaraço sentido com um forte “puxão de orelhas” que o relatório dos Observadores nos deu!
Pois bem, o paradoxo de tudo isto é que a maioria dos membros observadores pertencem a países da CEDEAO, onde uma significativa parte vive de golpes e de contra-golpes, onde Chefes de Estado alteram ou mandam alterar leis para se perpetuarem no poder, onde existe na república instituída, quase que explicitamente, o direito de sucessão de pai para filho, como se de monarquia se tratasse. Enfim, onde os Direitos humanos longe estão de ser totalmente respeitados.
Ora bem, foram eles que, com a autoridade adveniente de Observador, escreveram que cá se “compram votos”! Meu Deus a que ponto chegámos! Uma vergonha do tamanho do cosmo…


Desabafo!

domingo, 7 de agosto de 2011
Pela primeira vez, nesta década, fui votar sem a enorme suspeição, sem o pesar antecipado de que a “dona fraude” iria imperar!

E porque é que digo isto? Porque os “mestres” da compra de consciência de eleitores pobres, semi-analfabetos e da diáspora mal esclarecida, os “catedráticos” do voto forçado, não livre, cindiram-se. Hoje estão espalhados entre as duas candidaturas fracturadas. Vão estar atentos e de olho uns nos outros. É que para além de se auto-conhecerem nesta matéria, conhecem-se uns aos outros do tempo em que eram unidos.

Sim, é verdade, desde há muito que não sabia já o que era votar no meu país sem pensar em fraude, em votos de mortos, em votos de ausentes, em duplas inscrições, em rasuras e omissões de nomes nos cadernos eleitorais, em compra de votos, em tomada de bilhetes de identidade, em dinheiro e outras mil formas de vil e de vergonhosa “compra” daquilo que o cidadão tem de mais sagrado, que é a livre escolha do seu candidato e nele votar, sem pressão.

Bem sei que não vai ser a 100%, mas que o nível de fraude desta vez vai diminuir, disto não tenho qualquer dúvida! Só isso, já é um factor de tranquilidade para o cidadão consciente dos seus direitos e deveres.

Como alguém já o escreveu, “a crónica ingenuidade do MPD” estará – nestas eleições presidenciais – desta forma mais salvaguardada pelo adversário. É que desta vez, as reclamações das mesas de voto ou de suspeição de fraude, irão dar entrada, na CNE e/ou nos tribunais em tempo, para serem – esperemos que sim – devidamente apreciadas e julgadas.

Para terminar direi que – se nada de inédito acontecer – qualquer que for o candidato eleito dar-me-ei por satisfeita!

Haja transparência eleitoral!

Jogo Limpo

domingo, 31 de julho de 2011
1. Assistimos – aqueles que tiveram o privilégio de ter, no momento, energia eléctrica – na passada 4ª feira a mais um sensaborão “debate” televisivo sobre as presidenciais. Debate não, porque só em escassos momentos ele se esboçou, mas sim às respostas dos candidatos a determinadas questões. Com o devido respeito e consideração que nos merecem os jornalistas presentes questionamos seriamente o seu papel único – cronometristas. Nada mais fizeram do que dizer aos candidatos que o tempo havia esgotado. Mesmo acerca do tempo Aristides Lima estava completamente perdido e poucas vezes utilizou na íntegra os dois minutos e meio a que tinha direito e que devia saber, porque fruto do acordo entre eles. Os jornalistas não foram sequer capazes de centrar as respostas dos candidatos às questões levantadas (lidas). É o caso (não único), por exemplo, da resposta evasiva de Aristides Lima à pergunta crucial, directa e concisa formulada por um telespectador/internauta sobre a sua participação na reunião do Conselho Nacional do seu partido que elegeu Manuel Inocêncio.

2. A tentativa por parte de Jorge Carlos Fonseca (JCF) de animar o debate através de um “fait divers” – as declarações de José Maria Neves acerca da morte de Cabral – não me pareceu muito feliz, e foi pouco pertinente. Primeiro, porque se trata de uma mensagem directa e exclusivamente dirigida para o interior do PAICV com destinatário identificado; segundo, porque fora desse contexto, o assunto nada tem a ver com as presidenciais; terceiro, porque os pergaminhos – políticos, profissionais, intelectuais e de cidadania – de JCF não se coadunam com o recurso a argumentos e situações menos elevados e descontextualizados; por último, porque desta vez JMN não disse nenhuma inverdade.

3. Amílcar Cabral é uma figura da História Universal e não pertença, “amigo” ou “familiar” de quem quer que seja. E sob este ângulo, falar da morte de Cabral é, por exemplo, como falar da morte de John Kennedy, Patrice Lumumba, Olof Palm ou de outros homens famosos da História barbaramente assassinados. Haverá ao longo dos anos inúmeras teses sobre Amílcar Cabral e a sua Obra, que se diferenciam umas das outras por uma vírgula a mais ou a menos ou uma palavra diferente… Não compreendo a sanha que suscitaram as declarações de JMN.

4. A morte de Amílcar Cabral é tabu (ou trauma) para aqueles que a viveram directamente e não para o apuramento histórico onde o véu se vai desvendando tese após tese. De tal forma é tabu (ou trauma) que nem Aristides Pereira, companheiro e adjunto de Amílcar Cabral se atreveu a “contar” a sua verdade no seu livro endossando-a, imagine-se, ao cubano Óscar Oramas. Como se diz na Guiné: é segredo de barraca de fanado. Aliás, a morte de Amílcar Cabral é hoje, tido como monopólio intelectual de Óscar Oramas, Oleg Ignatiev e José Pedro Castanheira entre poucos outros, e, estranhamente, ninguém de Cabo Verde, da Guiné-Bissau ou do PAIGC não obstante os seus “historiadores” militantes.

5. Não é preciso ser Sherlock Holmes para saber que JMN desta vez até tem razão. Basta lembrar, na sequência da morte de A. Cabral, do número incalculável de “camaradas” que foram fuzilados ou barbaramente espancados até à morte para se inferir que o assunto era fundamentalmente interno. E não se circunscreveu aos assassinos materiais. Portanto dizer que derivam da falta de lealdade e que constitui uma traição é de La Palice. Aliás, é o próprio A. Cabral que numa profética premonição disse:

Se um dia eu for assassinado, sê-lo-ei, provavelmente por um homem do meu povo, do partido, talvez mesmo, da primeira hora.

6. E o que espanta é mais a reacção que veio da oposição. E, francamente, JMN tem aberto tantos flancos para atacar que não vejo necessidade nenhuma de o fazer por figuras gradas da oposição, neste que considero um falso facto político. E não acredito que a nossa classe política, nomeadamente a oposição, tenha sido impulsionada por mimetismo com o “caso Camarate” em Portugal que volta e meia abre processos, para proceder de forma pouco consentânea com a realidade do assassínio de A. Cabral. Ponhamos os pés no chão. Com problemas sérios na agenda do País, empolgar ou mesmo falar da morte de Amílcar Cabral nesta “altura do campeonato”, para além de uma citação histórica, é revelador de uma oposição sem rumo e sem ideias, com pouquíssima capacidade de avaliar o estado real em que nos encontramos e que se agarra a qualquer “fait divers” para simular que está activa e vigilante.

7. Amílcar Cabral foi assassinado em Conacry, há cerca de quatro décadas, e não em Cabo Verde… A sua morte é já, há bastantes anos, um caso de investigação histórica e não criminal. E pode ser referência de qualquer conversa política. Basta situá-lo no seu espaço e tempo para o saber. Pedir contas pela sua morte ou solicitar uma investigação criminal é de uma insensatez política confrangedora. Ou um grotesco farisaísmo. Dissipar energias trazendo a sua morte para o debate político fora do contexto meramente histórico e/ou ideológico é de uma ligeireza assustadora quando o País se confronta com inúmeros problemas graves e determinantes para a sua sobrevivência, bem-estar e futuro.

8. Penso que não devemos dissipar energia entrando na guerra dos outros quando precisamos dela para as nossas batalhas. Devemos escolher criteriosamente os alvos. Por exemplo, a nossa participação na Comissão Permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas não é uma mais-valia a ostentar. Todos os países da CEDEAO já lá estiveram – da Gâmbia à Nigéria passando pela Guiné-Bissau, Serra Leoa ou Burkina Faso. Alguns até duas e três vezes e ninguém viu o prestigio que daí adveio a não ser para determinadas pessoas atingirem os seus fins.

9. Preocupante, e não tive ainda ecos sobre o devido tratamento do assunto, é o grito de alerta dado por Felisberto Vieira:”Só peço jogo limpo”. E di-lo quem tem autoridade para o fazer. Ele conhece muito bem os meandros e o funcionamento do seu partido. Tem sido “general de campanha” de todas as eleições ganhas pelo PAICV, designadamente, as duas últimas presidenciais de triste memória. Jorge Carlos Fonseca que se cuide. Eles conhecem-se e defendem-se. E até pode acontecer que da sua vigilância mútua JCF se beneficie, desenvencilhando-se da crónica “ingenuidade” do MpD neste particular.

10. Voltando ao “debate” não é a resposta àquelas questões que nos levaria a escolher os candidatos. As respostas não significam de per se capacidade, carácter, integridade e descomprometimento político para as cumprir. Temos que ir para além das simples declarações. Temos que analisar cada um dos intervenientes e situá-los. E dos três candidatos elegíveis – o Jack que me perdoe a franqueza – Jorge Carlos Fonseca é aquele que melhor se posiciona para um desempenho com contornos de maior isenção. Não é da oposição formal nem é da situação. E não tem com o Governo nem com o PM qualquer afinidade ou animosidade. Tem portanto distanciamento e posicionamento necessários para ser um bom árbitro e conhecimentos para intervenções cirúrgicas quando necessárias. Dos outros dois, Manuel Inocêncio de Sousa é completamente alinhado. É ele que o diz sem qualquer titubeio. É um candidato integrado no projecto hegemónico do seu partido. Quanto a Aristides Lima é sabido que tem uma guerrilha aberta com o PM. É a essência da sua candidatura. Não hesitou em cindir o seu partido para o benefício do seu projecto político pessoal sem sequer ter exaurido os mecanismos de recurso. Ninguém acredita que ele possa ser um factor de união do País tão necessário para os tempos difíceis que aí vêm. Num quadro absolutamente lógico, com ele na presidência, não é expectável um ambiente de estabilidade, o que seria mau até para a oposição. Contudo, os políticos são como os melões…

A. Ferreira

Carácter e Coerência precisam-se!

segunda-feira, 25 de julho de 2011

"Para conhecermos os amigos
é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça.
No sucesso, verificamos a quantidade e,
na desgraça, a qualidade."

Confúcio



Com a mini, mas importante, revisão Constitucional verificada em Setembro de 1990 visando não a democracia propriamente dita – esta foi construída de facto pelo MpD e Mascarenhas Monteiro – mas a queda do artigo 4º para “abolir” o primado do Partido sobre o Estado mas mantendo substantivamente toda a ideologia e estruturas de poder autoritário, na plena convicção de que a “abertura” não passaria de formalidade para legitimar o poder instituído – tal a presunção – arrastou consigo a imprescindibilidade das eleições presidenciais serem um acto de cidadania, ao consagrar que a apresentação da candidatura presidencial seria da responsabilidade de um número de subscritores/cidadãos-eleitores e não de grupos políticos organizados quer sob a forma de partidos políticos quer sob a forma de outros grupos formalmente organizados ou associações.

Vou ser conciso e breve.

Em 1991, quando se candidataram à presidência da república, Aristides Pereira e Mascarenhas Monteiro, pessoas muito próximas deste último escusaram-se a apoiá-lo sustentando-se não nos perfis dos candidatos para o desempenho do cargo nem no interesse nacional mas na disciplina, lealdade e militância partidárias.

Com alguma dificuldade, mas talvez por pensar que não adiro a partidos políticos por disciplina, coerência e liberdade de consciência, acabei por compreender e aceitar, confesso, com muita relutância, a posição dessas pessoas. O que nunca consegui justificar é a agressividade, a ostentação do apoio ao outro candidato, e a ostensiva e desnecessária animosidade que algumas dessas pessoas então manifestaram. Registei tudo com muito desagrado e, em alguns casos, com grande estupefacção. O tempo passou e tudo acabou… A magnanimidade e a nobreza de carácter de Mascarenhas Monteiro vieram ao de cima e fizeram-no “passar uma esponja” sobre tudo, não obstante a força advinda da expressiva votação – mais de 70% dos votos.

Vinte anos volvidos, olho para a candidatura de Aristides Lima e vejo perfilados a seu lado, muitos, se não a maior parte, desses “amigos” de Mascarenhas Monteiro que na altura alegaram a disciplina, a lealdade e a solidariedade partidárias para o não apoiarem.

Mais tarde, em 1996, quando Mascarenhas Monteiro se submeteu sozinho ao veredicto popular, não porque assim o quisesse mas por cobardia do PAICV sob a liderança de Aristides Lima, este e o seu partido não só não deram qualquer orientação ou mesmo indicação de liberdade de voto – tenho autoridade para o afirmar uma vez que era o mandatário nacional de Mascarenhas Monteiro – como “declararam guerra” ao candidato único, tentando “boicotar” as eleições com a promoção de abstenção, fazendo “boca de urna” nesse sentido, organizando almoços gratuitos e outras actividades no dia da votação com o fito de diminuir a participação e a expressão dos votos assente na filosofia de que era “preciso fidelizar” os militantes. A questão presidencial era para o PAICV um assunto essencialmente partidário.

O que é muito estranho é que esses mesmos “amigos” de Mascarenhas Monteiro, hoje, continuando militantes do mesmo partido e até dirigentes, já não respeitam as orientações desse seu partido, nem se submetem às decisões do seu órgão máximo e, pior, até já dizem que as presidenciais nada têm a ver com os partidos. Eram homens maduros e responsáveis quando utilizaram os argumentos partidários para ostracizar politicamente Mascarenhas Monteiro e até, alguns deles ou quase todos, já tinham sido governantes, dirigentes e responsáveis políticos.

Onde estará a causa de uma rotação de 180 graus na argumentação justificativa? Onde estará a honestidade e a seriedade dos verdadeiros propósitos? Com toda a sinceridade não me atrevo a dizer que é oportunismo e falta de carácter. Ou que seja o cúmulo do fingimento e da hipocrisia política. O certo é que, são “dois pesos e duas medidas”. E não acredito que seja pelo envelhecimento, eventualmente, precoce das artérias!

De todo o modo é preciso ter memória muito curta para despudorada e desavergonhadamente assumir conscientemente tamanha incoerência. Ou então…

A.Ferreira

P.S.: Refira-se, tempestivamente, que, paradoxalmente, toda a campanha contra a candidatura de Mascarenhas Monteiro ao primeiro mandato (1991) assentou-se na sua cordata, pacífica, assumida, já então longínqua e transparente “dissidência” do PAIGC e foi conduzida pelo PAICV com a cumplicidade dos que ontem não o apoiaram com base em fidelidade e lealdade partidárias e hoje estão com ARL sem o mínimo respeito pelas orientações e decisões do seu partido. Haja Coerência e Viva o Carácter!
AF

VOTO EM BRANCO – UMA VIA PUNITIVA E DE RESGATE

domingo, 17 de julho de 2011
O tema do fornecimento da energia eléctrica na Praia é recorrente e não cansamos de o abordar. O que actualmente se passa na Praia com o fornecimento da energia eléctrica é absolutamente vergonhoso e já ultrapassou os limites da decência e da razão. Parece que estamos a pagar a soberba e a arrogância de tantas desdenhosas críticas à nossa vizinha irmã Guiné-Bissau.

E, seguramente, as nossas impassibilidade e abulia não são muito dignificantes para a nossa sociedade civil. Não é crível que uma população inteira da nossa cidade-capital e todas as suas organizações profissionais e da sociedade civil estejam tão amordaçadas e temerosas que não reajam de forma efectiva a esses apagões frequentes e aleatórios que põem em risco os seus patrimónios pessoais - electrodomésticos e outros aparelhos eléctricos e electrónicos - para além de condicionar toda a sua vida doméstica e profissional e de os privar da iluminação eléctrica durante a noite e, por vezes, por arrastamento também de água.

Toda a gente ainda se lembra da colérica e quase grotesca decisão do PM em expulsar os administradores portugueses da ELECTRA e mais tarde das negociações ingénuas para a renacionalização da Empresa. A EDP, a anterior proprietária da ELECTRA, é simplesmente uma das mais cotadas empresas do mundo na produção e distribuição de energia. Prescindimos dela como parceira com a exteriorização de um acto mais ideológico – óptica socialista – de um nacionalismo estreito e primário contra o mercado e o privado do que de gestão.

Hoje não temos bodes expiatórios para endossar a responsabilidade. E o PM − José Maria Neves − tem que a assumir por inteiro. Não foi bonito vê-lo endossar a culpa, para os gestores da ELECTRA. Foi uma vergonhosa e indesculpável desresponsabilização. Os dirigentes da ELECTRA perante esta prova de deslealdade, de abandono pela retirada pública do apoio deviam em bloco pedir a sua demissão. Não o fizeram. Cada cabeça sua sentença, diz o povo. Ao aceitarem silenciosos o endosso do PM assumiram eles também a responsabilidade de uma evidente e perniciosa má gestão com conhecidos reflexos não só nos resultados financeiros da empresa que todos suportamos como no péssimo serviço prestado aos clientes consumidores de que todos somos vítimas. Já não podem apresentar desculpas nem acusar o governo de não lhes dar os meios necessários à prossecução dos seus objectivos. Se a ELECTRA não fosse um monopólio do Estado há muito que tinha declarado falência e os seus gestores impedidos de exercer.

Afinal, o que os administradores portugueses pediram e que então lhes foi recusado e que foi objecto da indecorosa intervenção do PM já foi em boa parte consentido – a subida da tarifa em 20%. A outra parte – seguramente a mais importante porque representa uma fatia grande das eventuais receitas - o apoio do Governo para uma intervenção vigorosa no combate aos clandestinos, e “não pagantes” não foi ainda atendida devido a frouxidão do Governo, a sua incapacidade para tomar medidas correctas e necessárias de autoridade, aliás, em plena sintonia com o seu exacerbado populismo e demagogia. É um Governo que se mostra neste particular covarde, temeroso, desleixado e incapaz; que prefere recorrer às medidas cegas de criar uma taxa para a iluminação pública, como já se anuncia, no pressuposto que os nossos impostos não chegam para cobrir as suas obrigações quando é sabido que pagamos uma das mais altas tarifas do mundo do que abrir combate àqueles que prevaricam e o desafiam e provocam directamente. Paga o justo pelo pecador. Isto é, aqueles que cumprem com as suas obrigações. E são eles, e só eles, que a nova taxa quer castigar porque, ao que se diz, incidirá sobre o consumo.

A população já tomou consciência de que foi um grande erro ter dado ao PAICV um novo mandato – um direito a governar por mais cinco anos. Os erros corrigem-se. Não é possível nem aconselhável impedi-lo de cumprir o mandato. É anti-democrático. Mas felizmente ainda estamos a tempo de mostrar o nosso grande desagrado. Não só com simbólicas mas absolutamente necessárias manifestações de rua que denunciam os desmandos e mexem na imagem, mas também com actos de efeitos práticos e marcantes.

Todos aqueles que são senhores dos seus votos; que não têm compromissos partidários; que votam ou votaram PAICV nas legislativas, não votem agora nos candidatos presidenciais desse partido. Ambos – Aristides Lima e Manuel Inocêncio Sousa – são cúmplices activos deste Governo incompetente, falso, covarde e negligente. Devem ser punidos COM UM VOTO EM BRANCO. É a única resposta válida, uma advertência aos políticos desonestos, que servirá de exemplo e de alerta para as próximas eleições. Temos que mostrar a nossa maturidade política e usar a única verdadeira força que temos – o voto. Abstenção não é solução porque pode reflectir desinteresse e preguiça. Vamos às urnas e exerçamos o nosso direito de voto. Se o seu candidato não é Jorge Carlos Fonseca ou Joaquim Jaime Monteiro que nada têm a ver com a (des)governação do PAICV e não tiver o dever de disciplina partidária, vote em branco. Só assim será respeitado e o seu voto útil. É também uma via de resgate do nosso voto nas legislativas.

A.Ferreira