segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

 

Por achar que é mais do que um comentário ao texto: “Ah! A Boa Escola!”; por considerar que de um texto se trata com uma abordagem distinta, da problemática das duas Línguas cabo-verdianas - o Crioulo e o português - aqui se publica um texto da Professora Maria Cândida Gonçalves, minha colega das lides do ensino e, além do mais, uma  amiga de longa data.

 

 

 

Querida  Colega e Amiga

Como sabes, eu tenho uma visão sobre a situação das línguas portuguesa e cabo-verdiana em Cabo Verde convergente com a tua, mas com uma abordagem diferente. Eu não creio que o foco deva ser posto apenas na preservação e valorização do ensino da língua portuguesa, mas sim numa abordagem holística que leve em consideração, por um lado, a importância desta língua para os cabo-verdianos e sua importância a nível global e, por outro, a importância e o lugar conquistados pela língua cabo-verdiana na sociedade cabo-verdiana atual. Penso que já não é suficiente denunciar a situação caótica a que chegámos em relação ao uso destas duas línguas em Cabo Verde. Não vale a pena “tapar o sol com a peneira”, pois a maioria dos cabo-verdianos já não usa a língua portuguesa em situações de comunicação informal ou formal. Vários fatores têm contribuído para este ambiente sociolinguístico. Penso, portanto, que precisamos de reformas profundas do sistema educativo, visando preservar e valorizar as duas línguas,  passando pelo esclarecimento e sensibilização da sociedade cabo-verdiana (jovens, sobretudo, que se recusam a falar português) para que ambas sejam aceites, cada uma com a sua importância própria. 

Penso também que o caso do Haiti é diferente do de Cabo Verde. Aqui, nenhum governo tem defendido a abolição da língua portuguesa, tampouco os defensores da oficialização da língua cabo-verdiana. 

E termino dizendo que não aprovo a anunciada decisão do Ministério da Educação de introduzir o ensino da língua cabo-verdiana no 10º Ano do Ensino Secundário, a partir do próximo ano letivo. Acho que se trata de mais uma “medida avulsa”, que não vai resolver a complexa situação linguística em Cabo Verde. Defendo que a implementação de novas medidas de política linguística deve começar pelo Ensino Básico, visando formar gradualmente uma sociedade cabo-verdiana bilingue num horizonte temporal definido dentro dum Plano Nacional de Desenvolvimento Curricular, que vise responder aos diversos questionamentos e inquietações dos cabo-verdianos residentes no País e na diáspora.

 

4 comentários:

José Fortes Lopes disse...

Continua o debate sobre a língua portuguesa em Cabo Verde na página da Dra Ondina Ferreira.
Um comentário meu colocado na página sobre um facto que considero sui-generis, como um 'amigo' escreveu:
"Não vale a pena “tapar o sol com a peneira”, pois a maioria dos cabo-verdianos já não usa a língua portuguesa em situações de comunicação informal ou formal."


Escrevi o seguinte
Não concordo com a sua colega e amigo(a) de "Não vale a pena “tapar o sol com a peneira”
Acho isso uma anomalia e um facto grave e ainda é tempo de corrigir esta situação com políticas de educação adequadas, em vez de demagogia, o facto dos cabo-verdianos terem cada vez mais dificuldades em usar a língua portuguesa em situações de comunicação informal ou formal. Cabo-Verde só não é um país bilingue por decisão política: tornaram erradamente a língua portuguesa estrangeira, inimiga dos africanistas, a brincar a revoluções. E a brincadeira foi levada a sério!!


Sendo Cabo Verde um país formalmente lusófono, espera-se que todos os cabo-verdianos devam exprimir, correctamente nesta língua.


Mesmo numa hipótese cada vez mais plausível (já que o Estado de Cabo-Verde, vêm dissimulando as fortes pressões de sectores fundamentalistas e irredentista africanos, para deixar cair formalmente ou informalmente a língua portuguesa, do ponto de vista estratégico (numa visão global do Mundo), todos os cabo-verdianos deveriam tendencialmente exprimir na língua portuguesa fluentemente, já que esta língua é a primeira de comunicação com o Mundo Lusófono, e ela serve também de excelente interface para as outras línguas. Desprezar este facto é de uma miopia total.


Portanto a comparação como caso Haiti que a Ondina fez é feliz, pois se os governos não têm formalmente defendido a abolição da língua portuguesa, as políticas de aprendizes de feiticeiro em relação a esta língua levaram a um resultado semelhante no Haiti.


O debate em Cabo Verde devia ser de como os cabo-verdianos poderão no futuro exprimir fluentemente na língua portuguesa. O resto são nacionalismos bacocos que vão levar a mais decadência!!

José Fortes Lopes disse...

Continua o debate sobre a língua portuguesa em Cabo Verde na página da Dra Ondina Ferreira.
Um comentário meu colocado na página sobre um facto que considero sui-generis, como um 'amigo' escreveu:
"Não vale a pena “tapar o sol com a peneira”, pois a maioria dos cabo-verdianos já não usa a língua portuguesa em situações de comunicação informal ou formal."

Escrevi o seguinte
Não concordo com a sua colega e amigo(a) de "Não vale a pena “tapar o sol com a peneira”
Acho isso uma anomalia e um facto grave e ainda é tempo de corrigir esta situação com políticas de educação adequadas, em vez de demagogia, o facto dos cabo-verdianos terem cada vez mais dificuldades em usar a língua portuguesa em situações de comunicação informal ou formal. Cabo-Verde só não é um país bilingue por decisão política: tornaram erradamente a língua portuguesa estrangeira, inimiga dos africanistas, a brincar a revoluções. E a brincadeira foi levada a sério!!

Sendo Cabo Verde um país formalmente lusófono, espera-se que todos os cabo-verdianos devam exprimir, correctamente nesta língua.

Mesmo numa hipótese cada vez mais plausível (já que o Estado de Cabo-Verde, vêm dissimulando as fortes pressões de sectores fundamentalistas e irredentista africanos, para deixar cair formalmente ou informalmente a língua portuguesa), do ponto de vista estratégico (numa visão global do Mundo), todos os cabo-verdianos deveriam tendencialmente exprimir na língua portuguesa fluentemente, já que esta língua é a primeira de comunicação com o Mundo Lusófono, e ela serve também de excelente interface para as outras línguas. Desprezar este facto é de uma miopia total.

Portanto a comparação como caso Haiti que a Ondina fez é feliz, pois se os governos não têm formalmente defendido a abolição da língua portuguesa, as políticas de aprendizes de feiticeiro em relação a esta língua levaram a um resultado semelhante no Haiti.

O debate em Cabo Verde devia ser de como os cabo-verdianos poderão no futuro exprimir fluentemente na língua portuguesa. O resto são nacionalismos bacocos que vão levar a mais decadência

Anónimo disse...

O problema é se haverá vontade política para mudar o rumo e adoptar medidas linguísticas visando transformar Cabo Verde num país verdadeiramente bilingue e deixar de pretender que o português é língua estrangeira mas sim a nossa segunda língua.

Adriano Miranda Lima disse...

Sobre este assunto, já não sei que mais acrescentar às opiniões que ao longo dos últimos anos exprimi publicamente.
Não possuo conhecimentos na área da Linguística, mas o meu instinto faz-me crer que será uma tarefa inútil impor uma gramática ao crioulo, uniformizá-lo entre as ilhas e torná-lo língua oficial e do Estado.
Registo a informação aqui transmitida de que os cabo-verdianos se recusam ou resistem até mais não a usar o português na comunicação formal e informal. Eu não tinha ainda adquirido essa percepção, pelo que fico surpreendido, e mesmo preocupado, com o futuro linguístico na nossa terra.
A razão só pode estar do lado do Prof. José Fortes Lopes ao afirmar que "Cabo-Verde só não é um país bilingue por decisão política: tornaram erradamente a língua portuguesa estrangeira, inimiga dos africanistas, a brincar a revoluções. E a brincadeira foi levada a sério!!".
Pois é, meter política no processo linguístico não resulta, é anticientífico. Basta ver o que está a acontecer com o actual Acordo Ortográfico relativo ao português.
A ideia que eu tenho do meu tempo de menino e moço é que só as pessoas profundamente analfabetas tinham dificuldade em exprimir-se em português. Mesmo assim lembro-me de que muitos o tentavam numa mistura de português e crioulo.
O que não me tem passado despercebido é a facilidade e espontaneidade com que as crianças da Escola Portuguesa em Cabo Verde falam o português, conforme me é dado ver em alguns programas de televisão. Donde é inevitável esta pergunta: afinal, não será apenas um problema de ensino e de prática oral estimulada?
Li num comentário do facebook que eu "não defendo a língua crioula. Desconheço a que propósito saiu essa afirmação, mas a verdade é que não defendo nem ataco a língua crioula. Falo-a escorreitamente como qualquer menino nascido em S. Vicente, e, mesmo não o falando assiduamente, guardo na memória todo o seu acervo vocabular, incluindo termos e expressões que já pouco usados. Mas a verdade que não acredito piamente na possibilidade da ascensão do crioulo ao estatuto que lhe querem impor. Mesmo que isso seja encarado como ingente tarefa nacional, passando a impor-se, à força de régua e palmatória, um crioulo gramaticado, domesticado e uniformizado, não prevejo qualquer sucesso. É próprio da sua natureza genética o crioulo sentir-se livre, solto, rebelde e informal.

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