Cabo Verde na CPLP? ou A interrogação da minha neta

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Recentemente, estando eu a ver o noticiário de um dos canais televisivos, este passava em rodapé a notícia de que Cabo Verde havia nomeado, ou designado Diplomatas para integrarem o quadro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, CPLP.

Perguntou-me de imediato a minha neta mais velha, vinda de Luanda em férias de Natal, e que assistia e ouvia também o mesmo noticiário:

«Vó Dina o que é que Cabo Verde faz na CPLP? aqui não se fala português! …»

A estranheza da Inês apanhou-me de surpresa. Pois até aqui não havia pensado a questão da “briga” oral do falante cabo-verdiano com a língua portuguesa, nos termos em que acabara de escutar postos pela Inês, e que, ipso facto, a fazia retirar a Cabo Verde o direito de pertencer à comunidade dos países que falam a bela Língua portuguesa. A minha mente naquele momento estava virada para os recém-nomeados para a CPLP e a desejar que eles fizessem alguma coisa positiva em prol da língua portuguesa em Cabo Verde.

Virando-me para ela e retomando o que ela acabara de sentenciar, acabei por concluir que alguma razão estaria com ela e assim se ter expressado.

 Afinal, este é um país da CPLP, onde não se ouve falar português.

A língua portuguesa quase que se reduziu da independência a esta parte vai para 39 anos, apenas à expressão escrita, infelizmente! Daí que falantes lusófonos, angolanos, brasileiros, entre outros, aqui chegados tenham dificuldades na comunicação com o falante ilhéu. Pois que, mesmo o escolarizado em língua portuguesa, oralmente não se expressa na língua comum.

 Olhei para ela e apenas pude responder: «Olha minha querida, és capaz de estar certa. Percebo-te bem. Aqui tu não ouves oralmente a língua portuguesa, excepto no teu ambiente familiar ou de amigos bem restritos. Só falam em crioulo».

 E a Inês continuou: «Mais estranho esta ausência aqui da língua portuguesa falada, uma vez que estão muitos cabo-verdianos jovens a trabalhar em Angola, e se lá não falarem em português, não se fazem perceber…».

 Pois bem, fiquei contente com este breve aflorar do assunto, por uma jovem de 16 anos que num sintético e expressivo raciocínio, expos a importância da Língua portuguesa nestas ilhas, que já a falaram e muito no passado, outrora que não agora, não só em ambientes domésticos, mas também nos serviços públicos e privados e, sobretudo em ambiente escolar. Por onde andará a Língua portuguesa em cabo Verde? Que é feito da nossa língua, nosso património, que nos faz aceder ao mundo do conhecimento, da cultura, do saber?

É a língua portuguesa que nos abre perspectivas de contacto com os demais falantes da comunidade em que estamos inseridos, a CPLP.

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