Pequenos acasos em grandes vidas?...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014


Veio isto a propósito da recente atribuição do Prémio Nobel da Paz ao benemérito médico indiano, Kailash Satyarth, incansável activista pela causa do trabalho escravo infantil, e das crianças em risco na Índia.
Outra laureada com o mesmo galardão da Paz é a nossa conhecida Malala Yousafsi, uma adolescente extraordinária e fora de série, por quem tenho uma admiração enorme, que defende a educação de milhões de crianças sem escola. Dois rostos, que agitam afinal, uma grande bandeira – a integridade do ser infantil – que deveria ser a prioridade da chamada humanidade.
Pois bem, a historieta que a seguir narrarei tem a ver com o patrono dos prémios, Alfred Nobel.
Conta-se ou melhor, registaram os biógrafos de Alfred Nobel, famoso químico e inventor sueco (1833 – 1896) um facto assaz interessante e que transformou quase por completo a memória que a humanidade havia dele guardar.
Aconteceu que em 1888, faleceu o irmão mais velho de Alfred, Ludvig Nobel igualmente engenheiro químico, inventor e homem de negócios. No obituário que apareceu nos grandes jornais franceses, confundiram os manos e deram como falecido, o mais famoso deles, Alfred Nobel.
Um dos jornais mais lidos em França, trazia inclusivamente, em grande cabeçalho a seguinte notícia: “Morreu o mercador da morte».
Alfred Nobel pôde ler o seu obituário em vida e rapidamente apercebeu-se de como ficaria conhecido para a posteridade, como o inventor de dinamite que na realidade foi.
Produto bem conhecido, que embora seja ou, tenha sido grande auxiliar em notáveis obras de engenharia, foi também utilizado em larga escala, em guerras para a destruição de vidas e de bens…
Daí que o seu inventor, tenha reflectido e pensado bem. A humanidade iria lembrar-se dele como o “mercador da morte” tal com preconizado no jornal francês…
Então resolveu criar a Fundação Nobel com a instituição de cinco prémios, a saber: Química, Física Medicina, Literatura e Paz Mundial.
Algo grandioso que começou a funcionar na realidade, a partir de 1900.
Hoje, Alfred Nobel é de facto mais conhecido pelo prémio Nobel, instituído por ele, do que como inventor do “famigerado” dinamite que tantas vidas e património destruiu nas guerras e nos conflitos mundiais de então …
Para finalizar o meu escrito, volto ao título: pequenos acasos em grandes vidas. Foi sorte dele ter lido em vida, (perdoem-me o aparente pleonasmo) a própria notícia da morte.

2 comentários:

Adriano Miranda Lima disse...

Desconhecia este episódio da morte em vida do senhor Nobel. Registe-se a curiosidade do acaso que lhe permitiu emendar a mão a tempo de dourar a sua eternidade. Teve é o azar de a sua invenção reforçar a letalidade das armas de uma guerra que havia de rebentar pouco depois da sua morte. É que foi uma guerra em que se utilizaram tácticas do tempo de Napoleão (formações compactas) com armas muito mais mortíferas. As formações tácticas seriam revolucionadas na guerra seguinte em conformidade com a letalidade dos meios bélicos, para minimizar a mortandade.

Adriano Miranda Lima disse...

Ontem, inseri um comentário neste post, mas que tarda a aparecer, pelo que desconfio deve ter havido algum incidente, sendo certo e sabido não se tratar de censura, até porque era um comentário sem qualquer conteúdo ofensivo.
Dizia que desconhecia este episódio da “morte em vida” do senhor Nobel, o que teve a vantagem de lhe permitir uma iniciativa que o haveria de consagrar para a posteridade. Estamos sempre a aprender, por mais avançada que seja a idade, e a minha já tem que contar.
Dizia também que o senhor Nobel, como se tivesse tido um pressentimento, acertou em cheio com o seu acto de redenção, já que, poucos anos depois da sua morte, haveria de estalar na Europa e no mundo uma guerra violenta que parecia estar mesmo à espera da descoberta do Nobel. Pois, a dinamite emprestou uma letalidade sem precedentes ao material bélico usado nesse conflito, e as consequências foram terríveis e inimagináveis, porque se usaram ainda as formações tácticas do tempo de Napoleão (compactas e para maximizar o chamado princípio da massa), quando o armamento muito mais mortífero do que dantes recomendava outros princípios tácticos (dispersão, movimento e mobilidade). O resultado foi uma insana e inútil carnificina que ainda hoje faz arrepiar os cabelos. Sobretudo por causa da sua perfeita inutilidade. Claro que na II Guerra Mundial se corrigiu o erro e os primeiros a aprender foram os alemães com a sua “blitzkrieg” (emprego de forças móveis em ataques rápidos).

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