Quem Guarda a Cidade?...

sábado, 18 de fevereiro de 2023

 

Sim, é isso mesmo o que me pergunto: Quem Guarda a Cidade? Quando não vejo “guarda” algum, leia-se polícia na rua, no Bairro, aquele polícia que se chamava antigamente,” polícia de giro,” (de ronda pelas ruas) e, ao invés disso, o que vejo mesmo – e creio que toda a gente a vê - é a impunidade do ladrão, do assaltante que manda na cidade da Praia.

Abro aqui um pequeno parêntesis para esclarecer que o que pretendi com o título que encima o texto, foi o de parafrasear a célebre parábola de Salomão, no versículo que diz mais ou menos isto: “Se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela” Qual a relação deste versículo com o conteúdo deste escrito? Mutatis mutandi e com o devido respeito à palavra bíblica e ao seu alcance que é outro e é religioso, diria que se fôssemos minimamente bem defendidos pela nossa Polícia, a cidade capital seria outra. Seria talvez, um pequeno paraíso para se viver…

 Mas ao contrário, o que vivenciamos nós, os residentes da cidade da Praia no dia-a-dia, denomina-se: Medo. Medo de sair à rua e ser assaltada à porta de casa ou, no virar de esquina; medo de estar em casa e os assaltantes entrarem, derrubando todas as defesas - grades, arame farpado, fechaduras, alarmes, câmaras, muros altos circundantes entre outras formas de defesa - a que fomos obrigados a acrescentar à nossa residência, estragando-lhe toda a estética – e que de segurança apenas nos dão uma ténue ilusão.

O medo habita na nossa mente. O medo tomou conta de nós e expressa-se em cada movimento que fazemos quer seja em casa, quer seja na rua.  É este, infelizmente, o quotidiano do residente da cidade.

Mas pior do que isso tudo, é a impressão com que se fica  de que o ladrão aqui na Praia, está e sente-se à-vontade nas ruas da cidade, pois que se considera “dono e senhor” delas. De facto, nós os residentes, suas vítimas, não vislumbramos polícia algum,quando somos assaltados. Aliás, só iremos ter o privilégio de os ver - os agentes - horas depois do roubo feito, de longa espera na polícia para materializar a queixa  e do bandido se ter banqueteado e rido à custa, não só da polícia que ele sabe  que nada descobre, mas também, de nós, os espoliados. E quando digo que nada descobre, falo com conhecimento de causa; a minha residência e a da minha filha juntas já foram assaltadas mais do que meia dúzia de vezes e a taxa de sucesso na procura do ladrão e dos objectos roubados, é zero. Nunca apareceu um singular objecto roubado. Reitero a afirmação, uma vez que apresento queixa formal todas as vezes, sem nunca ter falhado uma. Tenho ido à Esquadra, embora saiba de antemão de que não vai resultar em nada. A minha contribuição será apenas para a estatística. E espero que figure quando, um responsável governamental ou outrem, apresentar contas no Parlamento não diga que a criminalidade na Praia diminuiu. Não, ela não diminuiu. Bem pelo contrário a percepção que temos é que a onda de assaltos às pessoas e às casas vêm crescendo, dia após dia e com mais violência - leia-se o que sobre isso denuncia o Provedor da Praia, com uma frequência a todos os títulos indesejável. 

De facto, o que tem diminuído são as queixas (estatisticamente) uma vez que o processo policial conjugado com a expectativa de sucesso não é apenas um autêntico convite à desistência e ao silêncio, mas um forte apelo à inacção e à resignação da vítima.  Acresce-se a tudo isto o facto da vítima, a quem foram subtraídos objectos, alguns até de alto valor afectivo,  seja incomodada − o ladrão já gozou da sua “safra”, continua impune e seguro a farejar a próxima casa para assaltar - com uma intimação em termos violentos − sob ameaça de que se não comparecer na Procuradoria da Comarca, será detida, multada num valor que pode chegar a dezenas de contos −   para ser ouvida por um Procurador, no dia tal, às tantas horas. Bem sei que me dizem que se limitam a copiar os termos e a linguagem que vêm exarados no Código Penal. Mas convenhamos, tratar a vítima como um criminoso? Não haverá por aí um teor menos ameaçador e intimidante para quem já foi espoliado no seu património? …

Tudo isto em termos que mais sugerem de que o transgressor foi o queixoso e não quem violou a residência para roubar, é que cometeu um crime. Como escreveu o poeta Augusto Gil: “que quem já é pecador, sofra tormentos, enfim! //mas as crianças (neste caso, substituir “as crianças” por: vítimas dos roubos) Senhor porque lhes dais tanta dor? Porque padecem assim? (…)”

 E o ladrão? Será que a polícia o procurou? Onde pára ele? … os pertences a esta altura já não existem. Estarão seguramente nas mãos dos receptadores desconhecidos pela Polícia numa cidadezinha com a dimensão e a população da nossa Praia.

Ou não será isso, enviar os processos, contra desconhecidos para a Procuradoria, um estratagema para serem evitadas queixas sobre furtos e assaltos?

 Nos termos em que é feita a notificação judicial, é-se levado a assim pensar – redução estatística das queixas, iludindo e contrariando a realidade.

É neste quadro que se propala o desenvolvimento do turismo. Será mesmo que querem turistas a visitar-nos? Como? Se o cartão de visita mais visível ou o mais percepcionado que temos para lhes apresentar, são os meliantes que assolam a urbe num perfeito à-vontade?

E para terminar este pequeno desabafo de grande indignação, registar uma informação que não parece de todo, despiciente: a Procuradoria da Comarca da Praia, onde trabalham  cinco Procuradores, segundo ouvi dizer, cada um deles já tem à sua jurisdição cerca de 6 mil processos contra património, isto é, sobre roubos e assaltos a residências e outros locais da cidade. Ora, cerca de 6 mil processos neste início de ano ainda, já perfazem 30 mil. Soube também, que no ano passado, tiveram no final do ano, à volta de 43 mil processos contra património, roubos e assaltos nesta nossa urbe. Logo, tudo indica que a criminalidade não dá mostras de diminuir, pelo contrário, volto a repetir, está num crescendo desesperante para os moradores.

 

 

 

 

 

 

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