Sobre a Apresentação de um livro

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

A propósito da recente apresentação do livro de Daniel dos Santos, «Amílcar Cabral – Um Outro Olhar» recebemos de alguém muito amigo e não menos crítico, uma apreciação que achámos muito interessante e oportuna para ser aqui publicada.
O que chamou a nossa atenção, no texto que se segue é a maneira como o autor do comentário “classifica” o tipo de “Apresentante” e a “responsabilidade” que lhe atribui.
Leia e repare como pode ser também fina, subtil e algo irónico, a percepção do ouvinte, do participante numa apresentação pública de um livro.

“Caríssimo Armindo
(…)
Bom, quanto à apresentação do livro.
Da minha modesta experiência como participante nestes eventos – mantenho um certo culto por apresentações de livros que me interessem – costumo distinguir 3 modelos de intervenção dos apresentantes (claro que há mais):
1. Aquilo a que eu chamo os apresentantes "mestres de cerimónia" – muitas vezes não leram o livro, tendo-lhe dado, quando muito, uma vista de olhos. Fazem da apresentação um mero evento pouco menos do que social. Conheço alguns – e aí não me apanham;
2. O apresentante interessado em mostrar que leu atentamente o livro e, não obstante, com avisada distância e passividade, resumindo ali, sublinhando acolá, considera que cumpriu o mandato – a partir daí o leitor que faça pela vida.
3. O apresentante envolvido que leu e sobretudo sentiu a "história" do livro, que, para também envolver os ouvintes, nela não receia assumir mais ou menos protagonismo e mesmo riscos, ora fazendo o papel de advogado de deus, ora o de advogado do diabo, sublinhando e até apimentando as partes mais controvertidas e polémicas e mesmo, porventura, lançando ali e acolá dúvidas sobre certos aspectos (factuais ou outros) ou conclusões do autor. Na apresentação de um livro gosto de sentir que os ouvintes ficam como que a "salivar" pelo seu recheio, fruto de uma intervenção apelativa, controversa, desalinhada do seguidismo, não pacífica, provocatória, até. A tua apresentação de um livro como o que te coube – até pela figura (quando se trata de uma "vaca sagrada", sans offense, é sempre mais problemático) e a sua circunstância que aborda – constitui uma excelente manifestação deste modelo, de que gosto particularmente. Parabéns por isso.”




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