As ideologias podem
definir-se grosso modo como sistemas de pensamento abstracto concebidos para
interpretar a realidade social e encontrar soluções para os problemas das
comunidades humanas. Os partidos políticos organizam-se em função de uma ideologia,
que, em princípio, deverá pautar a sua concepção sobre a sociedade e a
governação da coisa pública.
Mas, nos tempos que correm, há quem pense que a ideologia está a ser substituída por ideias feitas produzidas
por uma determinada corrente da economia. Ou seja, por uma visão monolítica
veiculada por uma globalização de cariz neoliberal, pouco aberta a encarar
variantes de pensamento racional no seu seio. É certo que todo o sistema
económico é legítimo detentor de uma ideologia, mas o problema é quando ele se
julga inatacável nas suas razões, nos seus propósitos e nos seus fins. Em boa
verdade, esse monolitismo, salvaguardadas as diferenças, tende a ser do mesmo
jaez do que caracterizava a ideologia marxista-leninista, que se subordina rigidamente
às relações de dominação entre as classes sociais, pouca margem de maleabilidade
consentindo na sua dialéctica.
Estando
a ideologia marxista-leninista aparentemente na mó de baixo, a palavra de ordem
vem agora de uma ideologia de sentido contrário, e de coloração única, em que o
credo do mercado sob a égide do capitalismo liberal mais ortodoxo se impõe em
toda a linha condicionando a vida dos povos.
E
qual é o resultado desta evidência? Desde logo, uma vez induzida uma única
visão da realidade, a Ideologia, na sua pluralidade, deixa de catalisar a
discussão e o confronto político, ficando assim coarctada a liberdade de
pensar, criar e inovar. E a democracia é praticamente assassinada porque só um
livre escrutínio eleitoral pode ditar a escolha maioritária da ideologia
vencedora ou dos acordos políticos gerados pelo confronto de pensamentos
diferentes ou opostos. Só nessa condição a Ideologia é trave mestra na definição
dos parâmetros orientadores das soluções governativas. Ora, se falece essa
possibilidade, ou se estiola a virtude que lhe está subjacente, cai-se na
alienação e na consagração de um pensamento único, via aberta para a
autocracia.
De facto, a ausência da discussão e do confronto de visões distintas abre
caminho para a aridez mental que propicia a manipulação de consciências. Por
trás, instalam-se então de pedra e cal poderes invisíveis que se obstinam nos
seus processos e nos fins a atingir. No nosso país como em outros mais, os
instrumentos dilectos da sua estratégia de manipulação são órgãos de
comunicação e políticos domesticados e desprovidos de ideologia.
Sim, políticos domesticados e desprovidos de ideologia, disse eu. Infelizmente,
é o que mais abunda nas pseudo democracias da actualidade. Políticos que nunca
se sentiram tocados por um lampejo do ideal de servir a comunidade e que apenas
ingressaram numa formação partidária para assegurar um modo de vida cómodo que
nunca almejariam mercê das suas capacidades profissionais e competindo no mundo
do trabalho.
Muitos
deles se diziam da extrema-esquerda na sua juventude para mais tarde se
metamorfosearem hipocritamente em sociais-democratas ou liberais, como ilustram
vários exemplos. Mas em todos os casos sem um verdadeiro substrato ideológico enraizado
no seu espírito. São dos tais que mudam de partido como quem muda de casaca ou
que abdicam de cargos políticos para que foram eleitos mal vejam o aceno de um
lugar privilegiado numa superestrutura supranacional ou a oferta de um cargo
bem estipendiado no tal mercado que hoje manipula e tutela as nossas vidas. De
resto, para eles o cargo político é apenas um trampolim para outros voos. Sem
ideologia propriamente dita na ossatura do seu pensamento ou nas fímbrias da
sua consciência, desconhecem o significado da palavra Ética e espezinham a
palavra Moral se algo de incómodo surge no trajecto das suas conveniências
pessoais.
A
União Europeia foi outrora um paradigma de valores e princípios que outros
povos gostariam de emular. Hoje, o seu destino parece estar nas mãos de gente
sem ideias, pouco escrupulosa e de escassas virtudes.
Tomar, 23 de Setembro de 2016
Adriano Miranda Lima
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