Ao
meu ilustre amigo Arcádio Monteiro, acérrimo defensor do uso da Língua portuguesa nestas ilhas do Atlântico.
Finalmente o Bom Senso!...
Finalmente
voltou o bom senso ao Ministério da Educação, aos altos responsáveis pelo
ensino em Cabo Verde! Gostei de ouvir a declaração feita pela Ministra da
Educação. Nesta altura dos acontecimentos tenho de a felicitar por algo que nos
devia ser intrinsecamente natural. Mas não foi mau, antes pelo contrário, ter
sido a mais alta responsável pela Educação a anunciá-la nos media, pois todos nos regozijámos com
tal notícia.
Não
deixa de ser um passo significativo na educação linguística e cultural das
crianças, o começar-se com o português desde os Jardins de Infância.
De
momento, e no estado a que a língua portuguesa em Cabo Verde se encontra, só o
facto de o governo assumir a importância do ensino da LP nas escolas, é de «per
se» motivo de alegria, para nós cidadãos que sofríamos com o silêncio, no
mínimo, cúmplice, de governos recentes.
Que
venha e será bem-vinda. tomaremos como certa de que a sua prática nas escolas
seja feita através das novas metodologias do ensino de línguas vivas. Logo, bem-haja a titular da pasta da Educação e a sua equipa.
Mas
teremos, ou de mudar os professores, os monitores, pois eles são os grandes
responsáveis pelo descalabro do não saber português dos alunos; ou de os meter, a quase todos, num curso
intensivo do português escrito e oral, da didáctica do ensino da Língua
veicular, nos diferentes níveis de escolaridade.
Primordial seria que na formação inicial de
professores, nas instituições nacionais, fosse reservada uma extensa e cuidada
aprendizagem da língua portuguesa, como língua viva e de comunicação oral e
escrita.
Infelizmente,
e manda a verdade que seja dita, conhecemos o perfil dos alunos que no término
do ensino secundário, procuram a formação para o professorado nas instituições
universitárias de Cabo Verde. Regra geral, são os alunos de média geral de
aproveitamento bem fraca, com deficiente preparação escolar no seu histórico
académico, aqueles cuja média não os faculta a uma vaga ou a uma bolsa no exterior e sem
qualquer aptidão vocacional, é que demandam os cursos para se tornarem os
professores das escolas secundárias do país. Com semelhante quadro que esperar
da qualidade do nosso ensino?
Aproveito
esta oportunidade para recordar o que disse a filóloga e insuspeita Dulce
Almada Duarte a propósito do tratamento
que deve ser dado à língua portuguesa
e o lugar que deve ocupar na hierarquia das línguas nossas e as que nos são
necessárias. Passo a transcrever:
“Agora vejamos:
Sendo o português a língua oficial em Cabo Verde, é claro que
não se pode aprendê-lo exactamente como se se tratasse de uma segunda língua,
como se aprende o francês ou o inglês, por exemplo. Tem-se de o aprender de tal
modo que se possa utilizá-lo como se fosse língua materna. Por isso, o ideal
seria que as crianças cabo-verdianas começassem a aprender o português por
volta dos três ou quatro anos, na idade do Jardim de Infância. Nessa idade
poderiam aprendê-lo como aprenderam o crioulo um ou dois anos antes: como
língua materna.
Não sendo possível aprender o português na idade do Jardim de
Infância, seria desejável que as crianças entrassem para a escola primária
conhecendo, pelo menos, os rudimentos da língua oral, o que se faria no ensino
pré-primário, por volta dos cinco ou seis anos. É uma idade em que as crianças
ainda assimilam com extrema facilidade uma língua desconhecida ou pouco
conhecida.”
Dulce Almada Duarte In
“Bilinguismo ou Diglossia?” Pág. 215 – Edições Spleen, 1998
Ou
seja, a língua de ensino ser de “facto e de jure” a língua portuguesa como há
séculos vinha sendo leccionada nas ilhas e que infelizmente nos últimos anos
andava a ser torpedeada pelas confusões feitas à volta de um falso - pois que
se acreditaria nisso se o português tivesse também lugar - e muito suspeito
bilinguismo.
Apenas
um aparte, uma recordação interessante: Aqui há uma vintena e mais de anos, ainda se perguntava à entrada, em
certos Jardins, escolinhas da cidade da Praia, em que língua (português ou
crioulo) queríamos que se falasse nas actividades com os nossos filhos.
Depois…acabou. E assim também, perdemos o direito a ser bilingues. O crioulo
passou a dominante em esferas onde o português coexistia.
Pois bem, retomando a notícia agora dada a
estampa, acrescentarei que já tardava esta tomada de posição. Mas valeu a
reparação, pois muitos de nós, indignados e exasperados andávamos com o que se
passava nas escolas públicas cabo-verdianas. Como nós, e por maioria de razão,
muitos pais e Encarregados de Educação deste país já se tinham apercebido do
tão baixo nível de aproveitamento e a quase dislexia cultural e linguística que
se instalou nos estabelecimentos de ensino público que frequentam os filhos e
educandos.
É
bom que fique claro que a abordagem do português curricular e veicular não deve
ser feita tal como se de uma língua estrangeira se tratasse. Se não corremos o
risco de desvirtuar a história linguística e cultural das ilhas. Acontece
porém, que ao ponto a que as coisas chegaram nesta matéria em Cabo Verde, os
estragos feitos, os rombos e a confusão, já atingiram tal monta, que se torna
igualmente relevante uma séria reflexão sobre o que queremos com a chamada
língua segunda, nossa língua oficial e veicular nos curricula escolares e as metodologias que se vão adoptar no seu
ensino. Quais os métodos a seguir nos Jardins-de-infância, entre outros
parâmetros a ponderar para que os objectivos preconizados a médio e a longo
prazo sejam alcançados.
Para
terminar, e tal como comecei, manifestar a minha enorme satisfação, por ter
voltado o bom senso aos altos responsáveis pela Educação em Cabo Verde.
Concorde-se ou não, com a abordagem feita. Este governo, ao menos. pôs à
discussão a questão da Língua portuguesa.
Que o Governo e o Parlamento se empenhem nisso
são os meus votos. Que volte a florescer a língua portuguesa, no ensino
público, entre nós, como um alto desígnio dos seus falantes, são também os meus
votos.
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