Vamos por partes, melhor dizendo, por peças.
Primeira
peça.
No passado dia 16 do corrente, passou na
RTP1, a hora já adiantada da noite, talvez não por acaso, um documentário
intitulado BILDERBERG, O FILME. Trata-se de um trabalho sobre as origens, a
natureza e a expansão articulada de uma das organizações mais elitistas e
secretas da actualidade: o Grupo Bilderberg. O seu autor é o arguto jornalista
de investigação Daniel Estulin, lituano, que escreveu também o livro A
Verdadeira História do Clube de Bilderberg; no documentário são vários os
testemunhos e as intervenções de personalidades internacionais do jornalismo,
da historiografia e da análise política, que se constituem em vozes insurgentes
contra uma nova “Ordem” que parece estar na forja.
Integrando as individualidades mais poderosas,
mais influentes e mais ricas do planeta, este Grupo constitui o escol no campo
dos negócios, das finanças, dos meios de comunicação e da política. O
documentário explica bem que esta oligarquia transatlântica financeira e política
está por trás das crises petrolíferas e financeiras, da manipulação dos
mercados, de golpes de estado, de quedas de governos e do fomento de guerras
regionais convenientes. Em nome de uma ideia de governação mundial que suprima
o estado-nação e converta o mundo numa grande empresa, com as riquezas e o
poder de decisão concentrados nas mãos de um grupo de pessoas, são congeminadas
estratégias e decisões que se repercutem na vida de todos nós, em todas as
latitudes do planeta. Não se pretende promover a felicidade humana olhando-a
como um fim supremo; a intenção é gerir a comunidade mundial valorizando mais o
instinto animal do homem (um ser simplesmente consumista) do que a centelha de
liberdade e criatividade espiritual que o distingue das outras criaturas e
confere verdadeiro sentido à sua existência.
As reuniões do Grupo Bilderberg são sempre da
ordem de 150 a 200 personalidades, e para elas são convidados jovens ambiciosos
que se revelam ou iniciam na política ou no mundo das finanças. É neste
contexto que se explica a entrada de Durão Barroso para a presidência da
Comissão Europeia, a avaliar pela revelação de Daniel Estulin quando declara
que as suas fontes lhe confirmaram que Henry Kissinger, um membro permanente de
Bilderberg, terá dito sobre o político português: “É indiscutivelmente o pior
primeiro-ministro na recente história política. Mas será o nosso homem na
Europa”. O acesso às reuniões é vedado aos mass
media, mas proprietários de redes de comunicação seleccionadas são convidados
a assistir, não para proporcionarem uma informação livre, mas para colherem
directrizes subliminares com vista à formatação de uma opinião pública mundial favorável
aos desígnios desta poderosa e influente oligarquia.
Segunda
peça.
É óbvio que o sucesso da “Geringonça”,
contrariando todas as previsões do FMI e da UE, e demonstrando quão discutível era
a inevitabilidade da receita da “Troika”, está ao arrepio das conveniências
daqueles organismos. Podem agora elogiar os bons resultados alcançados, mas
certamente que o farão com um sorriso constrangido ou voz sumida. De facto, não
lhes interessa o sucesso de outra via que não seja a consagração da receita de
má memória que foi para centenas de milhares de criaturas que perderam os seus
empregos, que viram os seus ordenados e pensões arbitrariamente cortados, que
ficaram sem as suas casas, que tiveram de emigrar ou ficar dependentes das sopas
da caridade pública. Deve preocupar à oligarquia que a “Geringonça” ganhe foros
de um “case study” ou se torne fórmula para soluções governativas europeias
onde as forças da Esquerda se fragmentam com os seus dissídios ideológicos. Em
suma, a “Geringonça” está a provar que há uma alternativa para a receita
imposta pelos mercados, está a pôr em causa a matriz ideológica patrocinada
pelo Grupo Bilderberg.
Terceira
peça.
O principal partido da Oposição nunca se
conformou com a solução governativa encontrada no Parlamento, tanto que o seu
líder mais de uma vez anunciou que tarde ou cedo viria o Diabo acertar contas
com o país, esperando depois retomar o poder em clima de apoteose. Certamente
que ele se referia a um novo resgaste em face de uma aguardada falência da
política financeira e económica do governo. Mas, enfim, o diabo assume as
formas que quisermos e, de tanto ser invocado nos salões do poder, em vez de
esconjurado nos átrios das igrejas, pode surpreender-nos com as manifestações
mais inesperadas. Pois, há quem diga que o Diabo ouviu a voz tonitruante de
Passos Coelho e mostrou a sua arma dilecta – o fogo – ceifando este ano vastas
áreas florestais do país e levando no seu vórtice mais de uma centena de vidas
humanas. A compaixão e a dor até nos podem levar a conceder se não teria sido
preferível um novo desacerto nas nossas contas a troco das vidas humanas,
porque estas nenhum resgate as repõe. Mas quedamo-nos interrogativos sobre as
verdadeiras causas dos incêndios que neste ano, sobretudo os últimos, assolaram
de forma tão instantânea como aparentemente concertada o território nacional.
Caberá à Justiça averiguar e concluir se os 160 incendiários identificados
agiram simplesmente do seu livre arbítrio ou estiveram, pelo menos alguns
deles, a soldo de uma organização criminosa com fins económicos ou políticos.
Sim, porque nem sempre é fácil distinguir a linha separadora entre a motivação
económica e a política; e essa busca remete-nos forçosamente para a natureza e
os propósitos do Grupo Bilderberg.
Por outro lado, não me convenço da existência
de um nexo de causalidade entre a pessoa concreta da ministra recém-demitida,
Constança Urbano de Sousa, e a fragilidade ou insuficiência do nosso sistema de
prevenção e combate a incêndios florestais. O problema é de fundo e é
estrutural e compromete todos, mas rigorosamente todos os governos das últimas
quatro décadas, e envolvendo também a agora empertigada Assunção Cristas, que,
sem pudor, não se questiona pelo que fez ou deixou de fazer no domínio das
florestas, enquanto ministra da agricultura. Por isso, ocorre perguntar se no
lugar da ministra demitida, ela teria feito mais, melhor ou diferente. Costuma-se
dizer que presunção e água benta, cada qual usa a que quer. É nítido, pois, que
para a Oposição os incêndios florestais deste ano são uma espécie de bóia de
salvação, sem pejo nenhum em colher dividendos políticos por algo que lhe caiu
do céu, com artefactos e prodígios do Diabo. Não deixa de causar repúdio a
qualquer consciência esclarecida que a Oposição queira exultar-se com
presumidos ganhos políticos à custa de uma tragédia nacional, ao invés de
congraçar-se com as melhores soluções para um problema que imbrica
necessariamente com toda a colectividade nacional.
Quarta peça.
É estranho mas talvez não surpreendente
que a nossa comunicação social se mostre quase toda ela afinada por um mesmo
diapasão, dando a ideia de domesticada por algo que está na sombra mas imanente
e incontornável. Salvo raras e honrosas excepções, o tratamento das notícias é
pouco digno de uma imprensa livre, limpa e honrada, como o demonstra, entre
outras tristes evidências, a ignóbil a tentativa de explorar até à exaustão a
desgraça alheia, sem outra finalidade que não seja produzir um eco social desfavorável
ao governo. Jornalistas, repórteres e fazedores de opinião devidamente
seleccionados parecem autênticas marionetas. O discurso é genericamente ambíguo,
redondo, vazio, certamente para não arriscar entrar em disrupção com o
paradigma instalado.
Vindo ao encontro do que eu penso, no blogue
“AS PALAVRAS SÃO ARMAS”, o general da Força Aérea na reserva Vítor Cunha, em
texto de 16 de Outubro do corrente, afirmou que: “Começa a ser muito difícil
olhar para estes fogos como se fossem todos eles produto de causas naturais ou
de incendiários loucos ou doentes. A coisa tem, inclusivamente, contornos
demasiado odiosos para ser obra do chamado lobby dos fogos. Não, por mim deixei
de ter dúvidas, isto faz-me lembrar os incêndios às sedes do PCP por esse país
fora (sobretudo a Norte, também), no Verão quente de 1975, com o intuito de
enfraquecer e derrubar o poder político da época. Repito: não tenho hoje
grandes dúvidas que estes fogos são obra de gente a soldo de quem está
interessado em derrubar este poder político. Não sejam ingénuos, as pessoas são
extremamente activas nestas actividades, sobretudo quando não lhes restam
grandes alternativas no plano da luta política”. Prosseguindo, o general
afirma: “Se o leitor ainda achar que estou a exagerar, note apenas o seguinte:
este fim-de-semana, atendendo à chuva prevista para os próximos dias e à
chegada de tempos mais húmidos e com menores temperaturas, era a última
oportunidade de provocar danos físicos graves e, eventualmente, danos políticos
na "geringonça”. Viu-se o que aconteceu, acha o leitor que foi apenas
coincidência? E então, vamos continuar a fingir que todos estes fogos não são
acções inimigas do actual poder político? Vamos continuar a ter medo de chamar
os bois pelo nome?”.
Ora, o autor do texto faz uma especulação com
propósito e toda a liberdade lhe assiste nesse sentido. E poderia ainda ter
sublinhado que a estranha e devastadora guerra incendiária deflagrada em 15 de
Outubro seguiu-se a uma pesada derrota eleitoral do principal partido da
oposição, sentenciando a morte política do seu líder.
Juntando as peças do meu discurso, há
razão para crer que misteriosos cordelinhos entrelaçam uns e outros,
comunicação social, o mundo dos negócios e políticos obedientes e domesticados ao
serviço de uma causa que está para além do interesse nacional. Perante tantas evidências
e coincidências, apetece-me concluir nestes termos: Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay.
Escrevo segundo a antiga ortografia.
Tomar,
23 de Outubro de 2017
Adriano
Miranda Lima
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