Sempre que releio a parte do evangelho bíblico que exorta o amor ao próximo sensibilizo-me fortemente e mais me convenço de que os fundamentos do cristianismo que Jesus pregou nas suas parábolas, ao tempo predicantes – porque inseridas em ambiência historicamente de muita injustiça e de violência – assentam pilares exactamente nisso: no amor, através de dois dos seus maiores mandamentos.
É sabido e pacífico de que os dez mandamentos são preceitos que vinham já da célebre e antiga Tábua de Moisés e que eram a Lei para os judeus. No entanto, os dois mandamentos sobre o amor e a aceitação do próximo ganharam (na boca do Nazareno) nova interpretação, uma releitura mais enfatizada. Para além de renovada persuasão e reiteração à sua prática interiorizada, fez também depender deles, subordinando, os restantes preceitos inseridos na mesma tábua.
Daí que, ao comparar o que sobre isso nos informaram e foram transcritas para o documento magno, a Bíblia, os quatro evangelistas maiores: João, Lucas, Marcos e Mateus, impulsionaram a escrita deste pequeno texto.
Como transmissores que foram da doutrina e do legado deixado por Cristo, assemelham-se naturalmente no conteúdo, diferindo embora, na forma e no estilo de os recontar. Observemos pois os diversos matizes, da mesma realidade:
Na mesma linha, o evangelista S. Marcos (Mc 12, 28-34) reconta este trecho da vida de Jesus: « Aproximou-se dele um escriba que os tinha ouvido discutir e, vendo que Jesus lhes havia respondido bem, perguntou-lhe: «qual é o primeiro de todos os mandamentos?» Jesus respondeu: (…) amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças. O segundo é este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes.» (…)
São Lucas, que segundo os biógrafos, fora “médico e seguidor de Paulo, teria um evangelho mais próximo da mentalidade do homem moderno” pontua neste capítulo através da seguinte versão (Lc 10, 25-28):
. «Levantou-se então, um doutor da Lei e perguntou-lhe para o experimentar: – Mestre, que hei-de de fazer para possuir a vida eterna? – Disse-lhe Jesus: – Que está escrito na Lei, Como lês?
O outro respondeu: – Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. Disse-lhe Jesus: - Respondeste bem; faz isso e viverás.»
São João remata com “chave de ouro” a sua versão, pois que acaba por fazer uma simbiose, uma fusão dos dois mandamentos sobre o amor, num único.
Eis o que nos diz (Jo 14, 34-36): «Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros; que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei. Por isto, é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros».
A juntar tudo isto, ouso interrogar se não foi também a influência da prática e da sensibilidade afectiva mais perceptível na mulher, e sabemos historicamente, que os ouvintes, os seguidores, mais constantes, mais atentos e que mais rodearam JC foram exactamente mulheres e que Ele as ouviu também. Se isso não terá acrescentado à sua formação espiritual, maior consistência para destacar e considerar de entre os preceitos em vigor, o Amor partilhado entre os Homens, como pilar da religião que deixou.
Não haverá muito mais a acrescentar, na pretensão deste escrito. As interpretações são e serão sempre leituras diferentes de sujeitos diferentes e até, leituras outras do mesmo sujeito, em períodos diversos da sua formação e da sua vida.
Daí que, para concluir, diria que da minha leitura, sobre o amor nas parábolas bíblicas em termos de conceito e de prática requeridos e acentuados por Jesus é que fizeram e continuam a fazer a grande diferença. Não apenas a cronológica – entre o AC (Antes de Cristo) e o DC (Depois de Cristo) – mas também do reforço de um entendimento mais ontológico do ser-se cristão.
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