Vêm
aí as autárquicas. Os candidatos perfilaram primeiro nos bastidores e agora
abertamente. As opções são muitas. Mas a qualidade, esta é muito questionável
quando são os próprios candidatos que se autoavaliam e se oferecem de forma
“despudorada” para exercer as funções electivas. Na verdade o político – regra
geral – é um convencido! A menos que a candidatura seja mais para obtenção de
um bom emprego (compreender-se-á a imodéstia!) do que vocação para o exercício
de um acto cívico.
Surgem,
no panorama político, como meio de decisão, de qualificar os candidatos a
candidato do partido, as sondagens. Embora discorde do método, tolerá-lo-ia se
fosse executado com transparência precedido de esclarecimentos quanto às exigências
do cargo e o perfil traçado pelo partido para a concorrência e feitas neste
quadro por empresas do ramo, idóneas, recrutadas através de concursos públicos
e os resultados tornados públicos com todos os ingredientes que
obrigatoriamente acompanham os resultados das sondagens.
Os
partidos políticos são associações “privadas” mas o facto de terem
responsabilidades públicas, leva-os a assumir determinados actos públicos com a
lógica de instituições públicas sob pena destes configurarem um embuste, uma falsificação,
uma grosseira manipulação.
Ao
contrário do que pretendem os dirigentes políticos de topo, as sondagens para
estas situações demonstram a sua incapacidade de decidir e de assumir as suas
próprias responsabilidades. A apetência para a manipulação é óbvia, sobretudo
numa época em que as redes sociais dominam o marketing do perfil dos
concorrentes e os interesses privados e empresariais sempre presentes quando o
recrutamento não segue as regras públicas.
De
uma forma muito grosseira podem fazer lembrar aqueles programas de radio ou
televisão em que facilmente são assumidas as intervenções telefónicas –
normalmente feitas por um grupo de pessoas com interesses afins – como uma
“amostragem significativa” da vontade popular.
Daqui
se pode perguntar, que dados têm os militantes de base – alvo das sondagens
para a escolha de um candidato – acerca da capacidade de cada concorrente para
o exercício da função? Decidirão apenas pela simpatia? Pelos seus lindos olhos?
Sobre nomes dos quais nunca ouviram falar? Não estarão os dirigentes de topo
(comissão política, conselho/convenção nacional do partido) mais aptos a
decidir quem melhor perfil tem para exercer uma determinada função ou mesmo sob
a lógica intrínseca partidária de perfil para vencer as eleições? O ideal é que
as duas características se concentrassem na mesma pessoa.
Mas
quando assim não é, há que decidir, com a necessária ponderação, qual é o mais
importante num determinado momento. E não são as sondagens que o vão decidir. A
dimensão dos círculos eleitorais em que toda a gente sabe quem está por trás do
telefone de toda a gente – método mais utilizado – as sondagens poderão ser
muito facilmente manipuladas, torcidas e conduzidas “tecnicamente” aos
resultados que se “pretendem”. Exemplos destes não nos faltaram na política, ao
longo destes quinze últimos anos. Eram sempre os mesmos os melhores, os mais
simpáticos, os mais benquistos e depois viu-se que não era bem assim!
Não seria preferível realizar-se uma
espécie de “primárias” nos respectivos círculos” em que os candidatos
apresentariam os seus projectos, os seus programas, os caminhos e meios para os
incrementar? Que cada candidato fosse conhecido e
escolhido pelo conteúdo da sua mensagem, pela sua capacidade técnica e política
e não por maior marketing e meios de divulgação pública. As primárias teriam
regras claras como, por exemplo, restritas ao universo dos militantes da área
objecto de escrutínio e/ou outras que fossem, também elas, alvo de estudo dos
Gabinetes de Estudo dos partidos políticos. Os critérios teriam que ser
definidos com clareza, transparência, rigor e universalidade.
Estamos
a falar de candidatos a candidato a presidente de câmara.
É
que as sondagens, como vêm sendo conduzidas, não configuram outra coisa que um
populismo (consultar bases sem informação adequada) primário com pretensões
“democráticas” ao considerar todos os candidatos em pé de igualdade – quando o
não estão – com capa de uma isenção que não existe. Representam na realidade
falta de coragem para tomar decisão e uma fuga às responsabilidades.
As
sondagens não são em si um fim senão para as empresas de sondagens. Quando
feitas com honestidade e rigor científico são apenas um auxiliar interno de
tomadas de decisão com vista a acautelar os seus riscos e não a decisão em si
mesma. Deixar que as sondagens decidam é irresponsabilizar-se; é delegar
responsabilidade a quem a não deve ter. As sondagens quando bem-feitas são uma
probabilidade condicional e não uma certeza.
A.
Ferreira
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