Considerando
que o assunto é de relevante interesse para os falantes da Língua portuguesa e
com a devida vénia ao Jornalista/autor da boa informação, e ao Jornal «Público« de 28/01/2017, transcreve-se o
texto:
Língua
portuguesa
Nuno Pacheco
As alterações propostas ao acordo
ortográfico são um documento aberto. A Academia das Ciências quer agora
discuti-las.
Depois
de aprovado na Academia das Ciências de Lisboa, na quinta-feira, por 18 votos
contra cinco, o documento Sugestões para o
aperfeiçoamento do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa foi ontem
divulgado à imprensa. Tem três pontos essenciais e estes dizem respeito à
acentuação gráfica, às sequências consonânticas e ao emprego do hífen. A ACL
diz, no documento, que se trata “de um primeiro trabalho”, no sentido de que se
“avance com a sistematização de critérios e orientações visando “uma maior
regulação” e “na defesa de um registo adequado à variante portuguesa.”
O
presidente da ACL, Artur Anselmo, gostaria que este documento servisse de base
a uma discussão mais alargada. “A Academia”, diz ele ao PÚBLICO, “propôs uma
reunião de todas as organizações que trabalham com profissionais da escrita: PEN
Clube, a Associação Portuguesa de Escritores, a Sociedade Portuguesa de Autores
e seria bom que também participassem organismos representativos dos
jornalistas.” Esta reunião, ainda sem data marcada, articula-se, diz, “com a
audição a que eu serei sujeito, e com muito gosto, na Assembleia da República.
Estou à espera que me digam quando.”
As
alterações ao texto do acordo ortográfico de 1990 (AO90) propostas coincidem
com as que já tinham sido parcialmente antecipadas na comunicação social: a
diferenciação de pára e para; pélo (de pelar), pelo e
pêlo; pôr e por; recupera-se a terminação -ámos no
pretérito perfeito para distinguir do presente do indicativo, -amos (ex:
falámos, falamos); aceita-se a dupla acentuação em palavras como oxigénio/oxigênio
ou tónico/tônico, mas com delimitação geográfica clara (uns em Portugal,
outros no Brasil); retoma-se o acento circunflexo na 3.ª pessoa do plural do presente
do indicativo, crêem, lêem, vêem, em lugar do creem,
leem, veem imposto pelo AO90; nas sequências consonânticas
recuperam-se as palavras que eram iguais em Portugal e no Brasil e que mudaram
só em Portugal (concepção, recepção, etc), sugere-se a manutenção
da consoante dita muda em certas palavras “para evitar arbitrariedades” (característica,
por exemplo, em lugar de caraterística) e nos casos onde ela tenha
“valor significativo, etimológico e
diacrítico” (conectar, decepcionado, interceptar), mas
sugere-se que continuem eliminadas em casos como acionar, atual, batizar,
coleção, exato, projeto.
Por fim,
no uso do hífen propõe-se a sua manutenção nas “expressões com valor nominal”,
ou palavras compostas, como maria-vai-com-as-outras, em formas como luso-brasileiro,
em vocábulos onomatopaicos (au-au, lenga-lenga), e propõe-se que
se escreva pára-choques, pára-brisas ou pára-raios,
mantendo-se escritas aglutinadamente palavras como mandachuva, paraquedas
ou paraquedista. Há mais propostas, mas estes tópicos dão já uma
ideia do que a ACL pretende sujeitar à discussão pública.
Artur
Anselmo não tenciona deixar morrer o tema. “Isto é como uma campanha: se se
silencia, cai no esquecimento. Precisamos de avivar a questão fazendo reuniões,
trocando impressões, criando uma onda que vai crescer e perante a qual o poder político
terá de tomar uma posição.” Mas conscientemente, acrescenta: “Tudo o que fizermos
tem de ser feito com muito juízo: firme, mas apoiado na ciência e na cultura.”
nuno.pacheco@publico.pt
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