Em 2013, mais precisamente a 6 de Julho,
publiquei no “coral-vermelho.blgspot.com” um artigo intitulado “Para quê facilitar se pode
complicar?”. Referia-me à mediocridade e à “perversidade” da nossa administração. Era
um texto relativamente extenso em que, de entre outras ocorrências, contava a
minha odisseia nos labirintos administrativos da Câmara Municipal da Praia.
Passados estes cinco anos, pensei que, com a crescente
informatização dos Serviços, os melhoramentos seriam exponenciais e verifico,
com algum desapontamento e muita, mas muita pena, que apenas são logarítmicos (o
inverso do exponencial). Mal se sentem! Mas não em tudo, felizmente, porque nos
balcões, o tratamento é agora simpático e cordial e o Gabinete Técnico mais
acessível, mas nem por isso com suficientes eficiências.
É só isso, que, convenhamos, é muito pouco! Algumas
diligências tornaram-se absurdas e surrealistas!!! A lógica e a sensatez
desapareceram para darem lugar às mal disfarçadas mesquinhez e ganância ou à
manifesta incompetência.
É
preciso ter-se sempre presente que a Administração Pública visa única e
simplesmente trabalhar em defesa do interesse público bem como da salvaguarda dos
direitos e interesses dos indivíduos que estão sob a sua tutela. E para isto os
cidadãos contribuem, para além do cumprimento de outros deveres inerentes à
cidadania, com os seus impostos e taxas.
Na
defesa do interesse público está, obviamente, a defesa da natureza, do
ambiente. E neste capítulo a administração da Câmara da Praia é completamente
negligente e incapaz. Ou indiferente?! E não me estou a referir à polémica “calcetamento
ou betão – betuminoso ou hidráulico – na pavimentação do espaço público urbano”.
Um capítulo em que é balançado, sopesado, quando o é, o ambiente e o conforto,
havendo, querendo, espaço para as duas situações, o que na CMP só tem um
sentido. Não sou um fundamentalista do “ambiente”, mas estou, seguramente,
muito longe de ser o seu inimigo como parece serem os Serviços Administrativos
da Câmara Municipal da Praia com a sua utilização perdulária de papel.
Usei,
neste texto, alguns adjectivos que poderão parecer desadequados para qualificar
os procedimentos administrativos da CMP. Procurarei, em breves linhas, justificá-los.
De entre muitas situações que podia apontar, escolhi apenas uma e sua
decorrência, a que me é mais próxima e recente:
Ao submeter para apreciação e aprovação um
projecto de remodelação de um rés-do-chão, a funcionária que simpaticamente me
atendeu deu-me um formulário para preencher onde constava vários itens
relativos ao projecto e à identificação do dono da obra e, no meu caso, do
procurador. Preenchido o formulário, juntei-lhe a procuração e o Projecto e
entreguei. A funcionária analisa o “dossier” e diz-me:
− Falta a Planta de Localização. Tem de entregar
a Planta de Localização.
Tem uma, a que serviu de base para a
elaboração do Projecto, na primeira página do Caderno que tem em mãos,
disse-lhe de imediato. Olha para a cópia a cores e diz-me: Tem de ser original.
E olhando mais demoradamente acrescenta: E actualizada. Perguntei: mas não são
vocês que passam e actualizam a Planta de Localização?
− Sim. E prestimosamente se oferece para
ajudar: O Senhor dê-me os seus dados, e eu dou-lhe um número para pagar na
Tesouraria. Mas também vai precisar da certidão matricial para poder ter a
Planta de Localização. É fácil! E depois “levanta-as” aqui.
Mas não era assim tão fácil… O pagamento
permitia apenas o agendamento de uma visita técnica para efeitos de “elaboração”
(nada tinha mudado!) da Planta de Localização cuja validade é de um ano,
ignorando eu, o critério da aplicação deste parâmetro: Porquê um ano e não seis
meses ou três anos?
Mas então retorqui: Isto é absurdo! Os
Senhores pedirem-me um documento – um não, dois - que são vocês mesmo a passar?
Não faz qualquer sentido! A actualização é uma responsabilidade totalmente
vossa! Não é que não deva pagar os serviços… Mas os vossos arquivos devem estar
sempre actualizados. E não por “encomenda” dos cidadãos.
− Mas tem que ser assim! respondeu-me a
funcionária enquanto exibia um cândido sorriso.
Deu-me, num pedaço de papel, um número, que
apresentei na Caixa que me passou um recibo (em papel) para permitir o tal
agendamento do qual me escuso a comentar por respeito e consideração aos
técnicos. Da certidão matricial também não falo porque seria repetir-me.
Com os documentos exigidos (tudo em papel − ignoram que o uso dele
– o papel – consta dos itens do combate para a preservação da natureza, do
ambiente) em meu poder, juntei-os ao Projecto e entreguei o processo.
A funcionária inventariando os documentos do
processo, diz-me: Ainda falta a fotocópia do Bilhete de Identidade.
Aqui passei-me com tanto descabimento e com
tanta inutilidade e repliquei: Fotocópia do Bilhete de Identidade não é documento!
E ela, vendo o meu estado de indignação, como se para me aplacar a ira e se
demarcar da aberração, respondeu-me esboçando um sorriso: Mas, é necessária!
– Para quê, perguntei eu. A sua exigência é
uma prepotência da Câmara. Já tem os dados todos registados no formulário que
preenchi e confirmados por si através do BI. O processo não vai para o Gabinete
Técnico? Para que querem os técnicos a fotocópia do BI.? A confirmação dos
dados pessoais por si, não é válida? Não confiam em si?... Ou terão que ver a
cara do requerente para saber como hão-de avaliar o Projecto?
– Não sei… é exigida!
– O que deve ser exigido, avancei eu – é o
pedido de autorização para fotocopiar o meu documento (pessoal e
intransmissível) de identificação. É assim nas sociedades respeitadoras dos
dados pessoais… E acrescentei: Se são vocês que precisam da fotocópia porque não
a fazem vocês; aliás, não é assim que procedem as instituições bancárias? Eu
autorizaria – mais calmo, achei espaço para brincar. E não a fazem aqui? Eu
pago, concluí.
– Não, não fazemos aqui fotocópias. Tem que
ser o senhor, lá fora. É perto. Aí a uns 500 metros encontra uma reprografia,
disse-me querendo ser simpática.
Lá fui eu, mais uma vez, à procura de uma
reprografia para gastar o meu precioso tempo e trazer mais um papel inútil porque dispensável.
Agora sim! – diz-me ela, com um sorriso triunfal
nos lábios enquanto conferia, em voz alta, os documentos do processo: Certidão
matricial; Planta de Localização (passadas pela própria Câmara!!!), fotocópia
do BI e o Projecto. Está tudo!
– Então, quando é que eu terei uma resposta?
– Normalmente, se estiver tudo correcto, é
uma semana. Venha daqui a uma semana!
Lá fui várias vezes, durante quase três
semanas, depois de passada a primeira semana de prazo. E foi preciso a
intervenção de um amigo meu – mesmo estando tudo em conformidade – que lá
conhece gente, para que o assunto fosse resolvido.
E agora pergunto: Não é absurdo ou mesmo
surrealista que uma instituição exija para a elaboração de um processo que lhe
será entregue os documentos que ela própria produz? Será ganância, irracionalidade,
desorganização ou incompetência?
Ainda uma outra pergunta: Não é, por mesquinhez,
indolência ou vontade expressa de complicar, que uma instituição não faz uma fotocópia,
– que diz precisar, não se sabe bem para quê – de um documento do qual tem (ou
pode ter) todos os dados? e que não lhe custaria, caso a fizesse, mais do que
uns escassíssimos 10 escudos?
A questão não pode ser apenas dinheiro, em
que uma taxa única onde todos os serviços são incorporados numa estrutura única
de custo seria uma solução simples e eficaz que evitaria o vergonhoso chico-espertismo
ou a esperteza saloia que se apoia em absurdas e irracionais pedidos de
documentos que a própria instituição passa. É também indolência, vontade
expressa de complicar, algum sado-masoquismo à mistura, numa manifestação de
indiferença perante o ambiente e de sadismo em relação ao munícipe obrigando-o a
expedientes dispensáveis e sacrificando a natureza, o ambiente, com papéis desnecessários e inúteis. Os
documentos internos, repito, devem estar disponíveis, pelo menos, na rede
interna, no sistema… O que se passa é simplesmente ridículo! Não se informatiza
para continuar com o espírito de FAIMO!
Mas que ninguém se admire ou estranhe! É assim
que vai o País! A CMP é a escola-piloto da nossa governação. Em tudo…
Daí que a administração e a gestão da CMP
são, de certa forma, a imagem canónica da governação do País. Um País que vem
sendo administrado e governado por gente sem qualquer sentido de Estado e do
interesse público. Gente que em vez de servir, serve-se… tentando fazer confundir
o jurídico com o político; o amiguismo com a competência; o legal com o
legítimo; o verdadeiro interesse público, com o interesse meramente pessoal no
desempenho de funções públicas; a negociação com negociatas; o acordo com a
cedência humilhante e suspeitosa; o servilismo e a subserviência com o respeito
e a admiração; o silêncio com o consentimento e o conformismo; o útil com o
fútil.
Desenganem-se!... Se a oposição faz de conta
e abstém-se em assuntos cruciais e importantes tornando-se cúmplice; e esfrega
as mãos de contente por ver as suas políticas mais polémicas realizadas, para
depois fingir-se contra, fora dos órgãos do Estado e na Comunicação Social, ou então
calar-se; nós estamos todos bem atentos e não embarcamos nessas viagens
fantasiosas e deslumbrantes… Conhecemos-lhes os custos e mesmo os seus mais
esconsos objectivos.
A.
Ferreira
0 comentários:
Enviar um comentário