Enquanto na China se aprende a Língua
portuguesa...Cabo Verde tenta paulatinamente banir o seu uso quotidiano e a sua
oralidade...
Uma
tristeza oceânica atinge-me ao pensar no que acima escrevi!
Pois
bem, ao ver – em programas televisivos, ao ler textos estatísticos - o
crescente interesse dos chineses em aprender a nossa língua; fico extasiada e
feliz. Mas logo de seguida, sou
assaltada por uma espécie de mal-estar ao pensar no malefício que
auto-infligimos, ao desprezar nas escolas, este veículo linguístico, o mais
importante para a devida escolarização e cultura das nossas crianças e
adolescentes.
Centrando
um pouco no interesse da Língua portuguesa na China, gostaria de acentuar que
não é numa parte qualquer da China que mais se revela este crescente interesse,
mas sim, em zonas, regiões ou províncias das mais desenvolvidas daquele grande
mundo. Em Xangai, (em escolas primárias,
liceus e em mestrados da Universidade de Relações Internacionais) em Pequim,
idem. São nessas zonas e em outras similares, onde existem de facto, uma
demanda crescente do ensino e da frequências às aulas da Língua portuguesa.
Quanto
a nós, aqui nas ilhas, continuamos deliberadamente, ou não, a perder esta
incomensurável riqueza de que somos também donos: a Língua portuguesa uma das
mais antigas línguas latinas e de todo, das mais belas e cultas, em grande expansão no mundo global.
Estamos a perdê-la sem parar para pensar no mal profundo que se está a provocar
nos estudos, no desenvolvimento técnico, científico do País.
Diria
que nos comanda um sentimento maligno de auto-destruição linguística.
Os
resultados catastróficos, estão à vista: alunos cada vez mais mal preparados,
por professores que não sabem falar e nem redigir em português e ainda por
cima, muito pouco cultos no geral.
Ninguém
faz alguma coisa para inverter o hediondo crime lesa-língua, que se está a
cometer nestas ilhas ? Neste país que merecia melhor sorte nas escolas?
E não bastando tudo isto, teimosamente, continuamos
a enviar alunos, alguns, com rótulo de “bons alunos” a formar em Universidades
de Língua portuguesa. Infelizmente, a maioria dos nossos alunos não sabe nem
escrever e muito menos falar, expressar-se na Língua comum. São –regra geral- mal sucedidos,
porque não compreendem o que os professores lhes dizem nas aulas e não
compreendem também os conceitos explicados nos livros.
Quando
assim sucede, é o fracasso da formação pretendida. Eles e elas, tentam esconder
a sua frustração, o seu desvio de um programa de futuro, de vida, entrando e
engrossando a considerável emigração clandestina. Assim vai, com excepções é
certo, o perfil dos estudantes que enviamos para os Politécnicos e para as
Universidades portuguesas.
Ora
bem, Estamos a querer comemorar, celebrar os 40 anos de ensino superior
nacional. Sim, seria de louvar, teria razão de ser se a evolução fosse
comparativa e gradualmente (com o passar do tempo) positiva. Mas para mal, e
para o agravamento dos nossos pecados, a formação nacional universitária tem vindo
a ficar muito aquém daquilo que é expectável
num patamar académico superior.
Vamos
a um pequeno jogo: suspendamos uns segundos no tempo, e pensemos por instantes,
num “setemanista” ou, num aluno do 1º- e 2º- anos do curso complementar do
passado dos liceus cabo-verdianos, e num formado actual e intitulado "licenciado" “mestre”
ou “doutor” das universidades
cabo-verdianas. Façamos uma "sabatina" imaginária. Não tenho a menor dúvida sobre qual deles recairia
a vitória. É muito confrangedor, mas é a pura e a dura realidade. Haverá
excepções. Repare-se: excepções, apenas isso!...exagero? caricatura?...antes fosse.
Minha
gente: a nossa aposta presente e futura deve ser nas escolas, com a língua
veicular do ensino em plenitude, porque é através da Língua comum, a portuguesa,
que os conceitos vêm escritos e descritos em manuais de Leitura, em manuais de
aprendizagem científica, técnica e filosófica. Sejamos minimamente pragmáticos e objectivos!
Quando
ouço, na comunicação social, professores a falarem em crioulo porque não sabem
expressar-se em português, e para piorar a situação, através de uma linguagem
pouco elaborada, paupérrima, e nada abonatória em termos do saber e da cultura de um
docente; digo para os meus botões: “o País retrocedeu! O País está a
retroceder...”
0 comentários:
Enviar um comentário