A escola e o saber para a vida

quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Cabo Verde de uma maneira geral, sempre se orgulhou, da escola que teve sobretudo no passado. Lembremo-nos das instituições académicas que ainda hoje são referências para nós. Refiro-me ao Seminário – Liceu de S. Nicolau, ao Liceu de Gil Eanes de Mindelo. Gostaria de incluir neste rol, o também antigo liceu “Adriano Moreira” ou como foi chamado antes: “Liceu Nacional” da Praia dos anos 60 do século vinte, que hoje reclamo de bom liceu. Acontecia que nelas, as instituições aqui referidas, se falava e se comunicava em língua portuguesa, e, sobretudo se processavam os conhecimentos que os alunos adquiriam neste mesmo veículo linguístico que actualmente estamos a descurar e a querer renegar como nosso. Ora podem contra argumentar que ao tempo tudo isso era obrigatório, (a obrigação, os deveres e a disciplina sempre fizeram parte de qualquer escola que se preze e de toda a família com função de educar) mas a verdade é que basta comparar o aluno médio de hoje do 12º ano do ensino secundário, na sua forma de expressar, na cultura e no saber académico que revela para percebemo-nos que o não podemos comparar com o aluno do antigo 7º ano dos liceus, quer do Mindelo, quer da Praia. São duas situações e duas realidades, que mesmo salvaguardados o tempo e as diferenças, quem sai a perder nesta hipotética comparação é o actual aluno, finalista do secundário.
A escola na nossa cultura funcionou (já hesito dizer que “funciona”, colocando o verbo no presente) também como um local de iniciação, de descoberta de preceitos sociais, para além de noções científicas e culturais. Na verdade é ou foi durante a fase da escolarização, nesse hiato importantíssimo da vida é que a socialização é feita de forma mais intensa e mais constante. Depois…cada um partiu ou parte para sua vida (e este “sua” entendida aqui de forma bem individualizada e pessoal).
De facto é nessa fase, que se dão ou se deram as mais fortes e por vezes decisivas interacções entre o “eu”, o “nós”, e os “outros”, cujas marcas nos acompanharão para o resto das nossas vidas e é também nessa fase que se adquirem as “ferramentas” básicas para uma mais equilibrada integração social. Creio que na vida dos homens, e para aqueles que o fizeram, o serviço militar obrigatório, também acabam por comungar dos mesmos reflexos ou efeitos no seu comportamento cívico posterior.
Ora quem entra para o mundo adulto – do trabalho e da família – munido dessas ferramentas, à partida, terá naturalmente vantagens acrescidas.
Mas como obter essas ferramentas a partir da escola hoje neste país se nem os seus principais – os professores – agentes estão devidamente preparados?
Quando falo com alguns formandos – futuros professores – em preparação para a apresentação e a defesa do trabalho de fim de curso, reparo com muita tristeza, as lacunas gritantes no modo de expressão da linguagem que espelha a aquisição cultural que deveria diferente e mais substantiva nesta etapa de escolarização e de formação, e que ficou irremediavelmente perdida se calhar porque etapas não preenchidas adequadamente ao longo da vida escolar/académica.
Assim sendo o que esperar em termos de desempenho didáctico-pedagógico deste agente de ensino face a uma turma de alunos?
Mas teremos de chamar de volta o antigo orgulho que tínhamos da nossa escola pública e que tranquilizava os pais em matéria de aquisição de saber dos filhos. A sociedade civil, os pais e os encarregados de educação devem ser mais activos, mais participantes e até mais exigentes com a instituição escolar que frequentam os filhos. O manterem-se informados regularmente do aproveitamento e do comportamento dos seus educandos, acaba por ser uma forma eficaz de controlo sobre o que se está a ministrar nas disciplinas curriculares e de chamar a atenção da escola para o que está bem e para o que não está bem na instituição no seu todo.
Haja determinação de todos para se mudar este paradigma fundamental que é a educação, em que a escolar funciona também como um saber para a vida.
Mas para que tudo isso aconteça no meio de nós será preciso a presença e o envolvimento da família nuclear do educando ou quem faça as vezes disso. Sem esse sério contributo – o da família – estamos a comprometer negativamente o futuro da nossa sociedade.

0 comentários:

Enviar um comentário