Quando num dos meus escritos aqui publicado, me referi à forma descontextualizada e sem mesura com que o nosso Primeiro Ministro usou o Crioulo no seu discurso na Assembleia-Geral da ONU, fi-lo com os dados que tinha no momento em que escrevi o texto.
Posteriormente, em contacto com entidades ligadas à CPLP, nomeadamente de Angola, Brasil e Portugal, pude perceber o porquê da reacção pouco positiva dos nossos parceiros deste grupo.
Se não vejamos:
1 – Depois de muitas “batalhas” do grupo CPLP, para que a Língua portuguesa seja de facto – ela já é de há muito, e oficialmente, uma das línguas desse grande fórum mundial – um dos idiomas realmente assentes no plenário das Nações Unidas;
2- Não vá sem acrescentar que esta vontade cada vez mais reiterada da CPLP relativamente à Língua comum, tem vindo a acontecer igualmente em muitas outras organizações e em outros fóruns internacionais, com alguns resultados muito encorajadores;
3 - No momento em que os “holofotes” da ONU estavam virados para Dilma Rousself, a Presidente do Brasil, que fez um globalizante discurso de abertura em português, o que fez que acontecesse, de alguma forma, o “momentum” da Língua Portuguesa;
4 - Quando na mesma direcção se seguiram os discursos de Angola, Moçambique, e outros, eis que surge isoladamente, como que “caído de uma galáxia distante” Cabo Verde a discursar em Crioulo o que configurou uma contrariedade a essa afirmação.
Ora bem, quem já andou em fóruns internacionais, conhece as regras – os diplomatas e os políticos fazem concertações constantes ao longo das sessões, entre si e com os grandes ou, pequenos grupos de países a que estão ligados por diversos motivos, ou interesses, para atingirem determinados objectivos. Normalmente giza-se uma estratégia de grupo. E desta vez com o brilharete da Presidente do Brasil, seria a hora da consagração, da afirmação e da consolidação da nossa Língua comum. E parece ter sido a isto a que faltou e falhou precisamente ao nosso representante orador na Assembleia-Geral da ONU. Ficou isolado. Daí que alguns da CPLP tenham abandonado a sala, seguramente descontentes com a prestação de Cabo Verde no contexto.
Na verdade o PM cabo-verdiano não cometeu nenhum “crime” com isso. Nada disso se tratou. Mas que foi inoportuno e descontextualizado e que configurou algum menosprezo, ou alguma menos valia pelos termos de pertença de Cabo Verde à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, creio que dúvidas não sobram. Igualmente, não existem dúvidas, de que ele não soube reger a finalidade importante da nossa língua segunda que é exactamente para a comunicação exterior /internacional.
Como defensora acérrima do bilinguismo, faço votos que da próxima vez, saiba o nosso PM distinguir o espaço e o contexto para a utilização de cada uma das nossas duas línguas.
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