Natural da Ilha do Fogo e Herói da 2ª Grande Guerra Mundial

sábado, 1 de junho de 2013


Esta é a sua a história, a do nosso herói de nome, Manuel Ernesto da Silva Araújo Avelino que se tornou herói – para a Europa Aliada nesse grande conflito bélico provocado pela Alemanha e – particularmente para a Holanda, país onde viveu, trabalhou e morreu em 1980, aos 81 anos de idade.

Mas para que todo o ritual do querer contar uma história seja cumprido, devemos começar pelo princípio.

Manuel Ernesto era filho de Manuel André Avelino e de Luzia da Silva Araújo Avelino, naturais e residentes no Fogo nos idos e finais do séc. XIX e inícios do séc. XX. Nasceu em S. Filipe, na ilha do Fogo a 16 de Setembro de 1898 e foi baptizado na igreja de N.ª Sr.ª da Conceição.

Como quase todas as crianças daquela época, Manuel Ernesto brincou, jogou e correu arco nas ruas e nos becos da então Vila de S. Filipe. Aí também frequentou a escola primária. Aprendeu a nadar e enfrentava com denodo, as ondas bravias e altivas das praias de «Fonte Bila», «Praia de Nossa Senhora» e da «Barca-Baleeira», tornado mais tarde, cais Vale dos Cavaleiros.

Abro aqui um pequeno parêntesis, para reiterar o que costumo dizer amiúde, que é o seguinte: quem aprendeu a nadar naquele beira-mar de respeito e naquelas vagas alterosas e desafiadoras da ilha do Fogo, se aprendeu de facto, fica bom nadador para o resto dos seus dias. Fecho o parêntesis.

Destemido e corajoso desde muito miúdo, assim o descreveu – à filha Anita, a minha informante, sobrinha de Manuel Ernesto e sobre quem adiante falarei – a irmã do herói, a D. Maríinha, Maria Martina Avelino de Pina já falecida e a mais nova dos irmãos.

Todos membros da família Avelino Henriques, bem conhecida no Fogo.

Manuel Ernesto Avelino cedo ficou órfão, primeiro do pai e logo a seguir da mãe. Tal como os outros irmãos foi criado por familiares, tias do lado materno que deles cuidaram e, no caso de Manuel Ernesto, quando completou 14 anos de idade, seguiu para Lisboa ao cuidado de um tio, o comandante Guidão Avelino.

Mais tarde, o irmão mais velho mandou-o para a Holanda. Ali fixado, trabalhou a bordo de um barco de marinha mercante Colômbia da Companhia de navegação holandesa KNSM.

Com o advento da 2ª Grande Guerra Mundial, e em 1941, o barco Colômbia foi requisitado, transformado e equipado como barco de guerra. Manuel Ernesto transformou-se também em marinheiro de guerra. O barco servia de transporte de armamento para os submarinos holandeses que lutavam contra os agressores e invasores alemães.

Ora bem, aconteceu que na primavera de 1943, em plena viagem da antiga Ceilão, Sri Lanka, para a África do Sul e já perto da cidade do Cabo, o barco Colômbia foi atacado com torpedos por um submarino alemão que o destroçou, afundando-o, mas antes, uma corveta inglesa veio em socorro e conseguiu fazer debandar o submersível atacante. A tripulação em perigo de naufrágio consegue baixar apenas uma das baleeiras salva-vidas em que embarcou também o nosso patrício. A meio caminho, Manuel Ernesto olhou para trás e viu que os companheiros que ficaram naquilo que ainda restava do enorme Colômbia, não conseguiam fazer descer – porque demasiado amarradas, emaranhadas e com o barco já em processo de afundamento – as restantes baleeiras salva-vidas. Sem hesitar, ele regressou a bordo, ajudou as manobras com sucesso, embarcou quase todos os colegas inclusivamente o comandante, e saltou para o mar no último minuto antes do barco submergir por completo no oceano. Nadou um pedaço de mar frio, mas os colegas vieram apanhá-lo numa das baleeiras.

Regressado à Holanda e tornado publico o acto heróico de Manuel Ernesto Avelino, pois conseguira salvar mais de 300 tripulantes; a rainha Guilhermina, na altura exilada por causa da guerra, na Inglaterra, reconheceu-lhe o feito e condecorou-o ainda em 1943, com a Cruz de Mérito através do Decreto-Real nº 21. Posteriormente, em 1947 e já com a Europa em paz, foi-lhe conferida a Cruz de Guerra da Holanda.

Estes são os factos notáveis da história deste foguense que casou com uma holandesa em 1929 e a quem foi dada a nacionalidade holandesa em 1947. Teve três filhos e viveu na cidade de Brielle, onde faleceu a 8 de Julho de 1980.

Em 2013, a cidade holandesa que o acolheu, atribuiu o nome de Manuel Ernesto Avelino a uma praça através de uma placa alusiva a este herói holandês de origem cabo-verdiana.



Nota Final – Afinal, como chegou ao meu conhecimento esta história tão bonita? Uma tarde destas veio visitar-me a minha amiga e familiar Anita – de seu nome completo, Nilda Anita Avelino de Pina Delgado, como já referi sobrinha de Manuel Ernesto Avelino e sanfilipense de quatro costados. Foi quem me contou a história do tio e foi quem também me lançou o desafio de fazermos aqui nas ilhas alguma divulgação da história de vida desse seu ascendente pelo lado materno e que a cidade-berço de um herói da Segunda Grande Guerra Mundial, pudesse assim também lembrá-lo através de algum topónimo (rua ou largo) e até sugeriu o Largo conhecido em S. Filipe como “Meia-laranja”, pois aí se encontrava a casa onde terá nascido Manuel Ernesto. Aliei-me à iniciativa com imenso prazer onde se juntou também algum orgulho antigo e muito vulcânico!

A minha amiga Anita trouxe com ela alguns documentos retirados do “Blogue” «Arrozcatum» de Zito Azevedo a quem mais uma vez agradeço os dados que lançou para a blogosfera, permitindo assim, o conhecimento para muitos de nós leitores, com a divulgação que fez da história deste generoso e valente cabo-verdiano.

Fica o repto lançado à edilidade da S. Filipe que nos quer parecer ser agora mais inclusiva e menos complexada em relação aos filhos e às figuras ilustres de S. Filipe de outrora.

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