Vem isto à baila ou ao terreiro, como
popularmente se dizia, por ter ouvido, ou lido, há já algum tempo decorrido, uma
entrevista, creio que do então presidente do CA do BAD, (Banco Africano do
Desenvolvimento) afirmando que a instituição havia ultrapassado o já
proverbial: “afro pessimismo.” Acredito que sim. Pois que se trata de uma
instituição financeira com e de capital. Claro que está próspera. Não duvido.
O problema em termos de afro-pessimismo que muitos de nós reconhece e que vem aumentando na nova geração,
não é tanto sobre a capacidade financeira, económica do Continente africano.
Tem muito petróleo, tem muita riqueza no subsolo, etc, etc...Só que a gestão, a
distribuição de riqueza, a cidadania, o respeito pelos direitos do cidadão, a
educação, a saúde, o desenvolvimento e o bem-estar da população, andam na maior dos países ricos de Africa, pelas "ruas
da amargura". Isto é que dói, envergonha e faz aumentar o tal afro-pessimismo.
Eu sou afro-pessimista, quando vejo
que a preocupação da maior parte dos altos dirigentes dos países do Continente
negro é o de se manter a todo o custo na cadeira do poder – através de
guerras civis, (os Golpes de Estado, parece que vêm diminuindo de frequência)
da eliminação da população, de adversários, de alteração a bel-prazer da Lei
fundamental; a não acatar o veredicto das urnas, entre outras ilegalidades e barbáries, à luz do nosso entendimento.
Sou afro-pessimista quando leio que na
Nigéria, o país mais rico desta banda de Àfrica, 60% da sua população vive
abaixo do limiar da pobreza. O meu afro-pessimismo advém também do triste
espectáculo, que se acaba por saber, do desenfreado amealhar de riqueza por
parte de altos dirigentes. Algumas dessas riquezas conseguidas, com menção quase
que expressa de que ninguém, num determinado país, poderá ser mais rico do que
o Presidente da República. Logo, o mais alto dignitário da Nação com direitos
pessoalizados sobre toda os ricos recursos do país, como se de herança paterna
se tratasse. Reparem agora no povo, é vê-lo ou, grande parte dele, mal nutrido,
com curta esperança de vida, com pouca escolaridade, sem acesso aos cuidados
básicos de saúde e a demonstrar patamares bem grandes de retrocesso
civilizacional.
O meu afro-pessimismo aumenta quando
hoje vejo as mortes - de senegaleses e de muitos outros países africanos - no
mar, em demanda do “eldorado” da Europa (com testemunhos, ouvidos e vistos, em documentários
televisivos) e os responsáveis dos países de origem, fingem nada ter que ver com
esta tremenda tragédia! Num completo desprezo (assim parece) pela vida desses
seres humanos, patrícios fugidos da miséria da terra natal, à procura de
sobrevivência que não chegaram a ter..
Esta é a minha dor de Africa do século
XXI!
Por favor, não intentem trazer para estas
ilhas, com bastos problemas estruturais, os péssimos exemplos do Continente vizinho! De forma alguma. Já nos
bastam os empecilhos endógenos que nos atrasam o desenvolvimento. Também
tivemos e continuamos a ter a nossa emigração, mais do que secular, em busca de
vida melhor noutras paragens do mundo.
Admiro imenso os artistas que cantam a
Àfrica, louvando-a. Eu creio que os que
assim procedem, louvam-na ou a pensar num futuro melhor do que o que os tempos
hodiernos auguram ou, assim a cantam possuídos de alguma nostalgia sobre algo
em que acreditaram anteriormente… Só desta forma, logro perceber algumas das
canções e os seus poemas nos tempos actuais. Outros, cantam-na “chorando.”
Escutem-se para exemplo - grande e significativa parte - as letras das canções
guineenses actuais (desde a independência a esta parte). Quando cantam a terra amada, são lamentos e
mais lamentos, num autêntico choro.
Querem mais afro-pessimismo do que
isto? Vindo dos seus próprios artistas, poetas e compositores? Creio que a certificação
do mal assim espelhado, ratifica infelizmente, o que o meu escrito quis dizer.
3 comentários:
É mesmo, Ondina, os artistas africanos são os que mais genuinamente podem falar desse pessimismo. E exprimem-no bem através da música, da literatura, do canto ou do pincel. E até da escultura. Lembro-me do surrealismo da pintura de Malangatana, com as suas figuras fantasmagóricas a retorcerem-se angustiosamente, como que sufocando-se num imenso grito de dor e… interrogação. A música e o canto são, de facto, a exteriorização mais directa e apreensível desse imenso sofrimento que perpassa toda a terra africana. Mesmo sobrando temática para o enaltecimento da mãe-natureza onde ela ainda conserva alguma da sua originalidade primeva, mesmo aí a alma do artista africano não raro resvala entre o embevecimento e a dor incontida. Talvez porque sinta que o sofrimento percorreu todas as escalas possíveis, restando apenas a fuga para o desconhecido ou para a morte. Como aliás vemos frequentemente nesse cemitério em que se tornou o Mediterrâneo.
Eu iria dizer que não há solução para os problemas do continente africano se não me ocorresse agora que na crónica da minha autoria aqui postada, insinuo que escapa ao homem a própria solução para o planeta. Portanto, se calhar, mais do que um afro-pessimista, sou um global-pessimista.
Leio o que também penso com muita tristeza. Comentando alguns artigos não deixo de lembrar que o continente vai piorando cada dia. Vivi no Senegal antes e um pouco depois da independência. Da tribuna profissional onde estive, mas mais por interesse pessoal, pude observar e continuo a me interessar o suficiente para dizer que quase nada têm que nos possa servir de exemplo.
Leio o que também penso com muita tristeza. Comentando alguns artigos não deixo de lembrar que o continente vai piorando cada dia. Vivi no Senegal antes e um pouco depois da independência. Da tribuna profissional onde estive,mas mais por interesse pessoal, pude observar e continuo a me interessar o suficiente para dizer que quase nada têm que nos possa servir de exemplo.
Enviar um comentário