Sou
muito céptica e fico à partida desconfiada quando, para me introduzirem questões estruturantes do país, como são a
saúde e a educação, estas já vêm apresentadas, subordinadas e precedidas por
“slogans,” algo pomposos e aliás, diga-se de passagem, muito ao gosto de países
de regimes comunistas, totalitários ou similares do antanho.
O
caso que trago para este escrito é o da Educação. Copiei – os slogans - do
Editorial do Jornal «Expresso das Ilhas» de 10 de Outubro do ano em curso, cujo texto teve como propósito a defesa da
incontornável questão no ensino, que é: “Não há inclusão sem qualidade” O seu
autor Humberto Cardoso, trouxe à colação, os diferentes “slogans” que
acompanharam (ou não) os três últimos anos-lectivos.
Ei-los:
2016
– “Todas e Todos Sem Distinção de Nenhuma Ordem, Têm Direito a Uma Educação de
Qualidade”
2017
– “Educação: um compromisso para o presente e para o futuro”
2018
– Mais Educação, Mais Inclusão.”
Ora
bem, dou por garantida a boa intencionalidade destes conteúdos. Transmitem - creio que com sinceridade - os
desejos dos responsáveis. Não coloco
nisso qualquer dúvida.
Mas
permitem-me a interrogação, como acreditar num ponto de partida, sem garantia de estarem reunidas condições
para ser objectivado em resultados palpáveis, ao se atingir o ponto de
chegada? Isto é, o final do ano-lectivo?
Sim,
como “tomar à letra” estes louváveis propósitos anunciados à cabeça, sem outro
aval visível neste sector - porque os não há - sector que é de vital importância para este
pequeno e arquipelágico país?
Teremos
professores à altura? capazes de satisfazer os pedidos contidos nos referidos
slogans?
Faço-me
entender, a pomposidade frásica fica rapidamente esvaziada, quando olhamos em
volta e pensamos, para exemplificar, no caso da falta de qualidade e de
preparação gritantes do professor. Agente e elemento preponderante do sistema educativo,
mas cujo profissionalismo, empenho em bem ensinar, brio cultural e científico estão na hora actual muito aquém do
almejado pela sociedade cabo-verdiana.
Podem
crer, que é bem a contra-gosto que assim me expresso. Pertenci e pertenço a
esta classe sócio-profissional. Algo de que me orgulharei sempre.
Daí
que seja também sempre com imensa tristeza que me refira nestes termos aos
actuais colegas em exercício.
Tal como o leitor, acredito nas excepções que
felizmente existem.
Mas
a verdade é que se escuta a sociedade, a verdade é que se avalia o estado do
saber do aluno cabo-verdiano; a verdade é que se verifica a forma como se
apresenta o professor actual perante a
turma, diante do público, frente à comunicação
social, a propósito de matéria relacionada com a escola, com a disciplina que
ministra e que se fica boquiaberto com tamanhos dislates proferidos e sobretudo
com uma linguagem paupérrima, sem o cuidado por um conteúdo elaborado e
contextualizado, com aquilo sobre o qual ele/ela vai discorrer....
Apenas
recordar que os seus antecessores, eram antigamente reconhecidos como agentes
de cultura. Os professores
cabo-verdianos de hoje, são assim reconhecidos?...
Com
efeito, existe nisto tudo, um patamar de saber e de cultura, um perfil
profissional legitimamente exigidos pela sociedade, pelos pais e encarregados
de educação e aos quais o professor deve estar apto a corresponder, mas que
infelizmente, não se verifica de todo...
O sistema educativo não se suporta e
nem se apoia em perfis de excepção. A regra é aqui fundamental para que o
ensino funcione no geral, com equilíbrio e com qualidade.
Daí,
o grande desfasamento entre os “belos
lemas” contidos nos “slogans” acima
transcritos e a realidade actual do ensino nacional.
Termino
não sem antes convidar o leitor, a ler o Editorial sobre a Educação do
«Expresso das ilhas» de 10/10 /2018 e já aqui mencionado.
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