Questão de Pormenor?...

sexta-feira, 12 de outubro de 2018



Sou muito céptica e fico à partida desconfiada quando, para me introduzirem  questões estruturantes do país, como são a saúde e a educação, estas já vêm apresentadas, subordinadas e precedidas por “slogans,” algo pomposos e aliás, diga-se de passagem, muito ao gosto de países de regimes comunistas, totalitários ou similares do antanho.
O caso que trago para este escrito é o da Educação. Copiei – os slogans  -  do Editorial do Jornal «Expresso das Ilhas» de 10 de Outubro do ano em curso,  cujo texto teve como propósito a defesa da incontornável questão no ensino, que é: “Não há inclusão sem qualidade” O seu autor Humberto Cardoso, trouxe à colação, os diferentes “slogans” que acompanharam (ou não) os três últimos anos-lectivos.
Ei-los:
2016 – “Todas e Todos Sem Distinção de Nenhuma Ordem, Têm Direito a Uma Educação de Qualidade”
2017 – “Educação: um compromisso para o presente e para o futuro”
2018 – Mais Educação, Mais Inclusão.”
Ora bem, dou por garantida a boa intencionalidade destes conteúdos.  Transmitem - creio que com sinceridade - os desejos dos responsáveis. Não coloco  nisso qualquer dúvida.
Mas permitem-me a interrogação, como acreditar num ponto de partida,  sem garantia de estarem reunidas condições para ser objectivado em resultados palpáveis, ao se atingir o ponto de chegada?  Isto é, o final do ano-lectivo?
Sim, como “tomar à letra” estes louváveis propósitos anunciados à cabeça, sem outro aval visível neste sector - porque os não há -  sector que é de vital importância para este pequeno e arquipelágico país?
Teremos professores à altura? capazes de satisfazer os pedidos contidos nos referidos slogans?
Faço-me entender, a pomposidade frásica fica rapidamente esvaziada, quando olhamos em volta e pensamos, para exemplificar, no caso da falta de qualidade e de preparação gritantes do professor. Agente e elemento preponderante do sistema educativo, mas cujo profissionalismo, empenho em bem ensinar,  brio cultural e científico estão na hora actual  muito aquém do almejado pela sociedade cabo-verdiana.
Podem crer, que é bem a contra-gosto que assim me expresso. Pertenci e pertenço a esta classe sócio-profissional. Algo de que me orgulharei sempre.
Daí que seja também sempre com imensa tristeza que me refira nestes termos aos actuais colegas em exercício.
 Tal como o leitor, acredito nas excepções que felizmente existem.
Mas a verdade é que se escuta a sociedade, a verdade é que se avalia o estado do saber do aluno cabo-verdiano; a verdade é que se verifica a forma como se apresenta o professor actual  perante a turma, diante do  público, frente à comunicação social, a propósito de matéria relacionada com a escola, com a disciplina que ministra e que se fica boquiaberto com tamanhos dislates proferidos e sobretudo com uma linguagem paupérrima, sem o cuidado por um conteúdo elaborado e contextualizado, com aquilo sobre o qual ele/ela vai discorrer....
Apenas recordar que os seus antecessores, eram antigamente reconhecidos como agentes de cultura.   Os professores cabo-verdianos de hoje, são assim reconhecidos?...
Com efeito, existe nisto tudo, um patamar de saber e de cultura, um perfil profissional legitimamente exigidos pela sociedade, pelos pais e encarregados de educação e aos quais o professor deve estar apto a corresponder, mas que infelizmente, não se verifica de todo... 
O sistema educativo não se suporta e nem se apoia em perfis de excepção. A regra é aqui fundamental para que o ensino funcione no geral, com equilíbrio e  com  qualidade.
Daí, o grande desfasamento entre os “belos lemas” contidos nos “slogans”  acima transcritos e a realidade actual do ensino nacional.
Termino não sem antes convidar o leitor, a ler o Editorial sobre a Educação do «Expresso das ilhas» de 10/10 /2018 e já aqui mencionado.

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