segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Com a devida vénia ao autor e ao Jornal Público, tomo a liberdade de aqui publicar um texto interessante sobre a comunicação em inglês  e a não aprendizagem de uma nova Língua.


Deixem- -nos falar*
Por Miguel Esteves Cardoso
Um dia arranjo coragem para dizer qualquer coisa. Acontece muito, eu assisto e fico calado, a ferver. Um estrangeiro está a fazer o esforço de falar português com um português. Pode até estar a pedir ajuda com o vocabulário. Em vez de o ajudar o português começa logo a falar inglês. E a conversa é feita em inglês, geralmente atroz de um lado e doutro. Os estrangeiros que querem aprender a falar a nossa língua deveriam ser recebidos de braços abertos. Quanto mais hesitam e perguntam, mais nós devíamos ter a boa educação de os encorajar e ajudar a praticar e mentir simpaticamente sobre a qualidade do português deles.
A língua portuguesa é difícil de aprender, mas o melhor lugar para a aprender é nos países onde se fala português. Como em Portugal toda a gente que trabalha em hotelaria sabe falar inglês é em inglês que se fala. Já se vêem muitas ementas só escritas em inglês e os portugueses que não sabem falar inglês que se lixem.
Por esta razão cada vez há mais estrangeiros que não se dão ao trabalho de aprender uma palavra de português. É pena, porque um dos prazeres de viajar é sentir o sabor das línguas estrangeiras quando tentamos falá-las.
Os meus amigos estrangeiros que vivem cá sentem-se frustrados de não poderem praticar o português só porque os portugueses querem exibir o rigor e a fluência com que falam inglês. 
Parece que estamos numa má comédia do século XIX passada numa colónia inglesa em que nós os indígenas nos atropelamos para falar inglês com os nossos patrões.
*In “Público” de 26.09.2018 (Nº 10385)

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