Com
a devida vénia ao autor e ao Jornal Público, tomo a liberdade de aqui publicar
um texto interessante sobre a comunicação em inglês e a não aprendizagem de uma nova Língua.
Deixem-
-nos falar*
Por Miguel Esteves Cardoso
Um dia arranjo coragem para
dizer qualquer coisa. Acontece muito, eu assisto e fico calado, a ferver. Um
estrangeiro está a fazer o esforço de falar português com um português. Pode
até estar a pedir ajuda com o vocabulário. Em vez de o ajudar o português
começa logo a falar inglês. E a conversa é feita em inglês, geralmente atroz de
um lado e doutro. Os estrangeiros que querem aprender a falar a nossa língua
deveriam ser recebidos de braços abertos. Quanto mais hesitam e perguntam, mais
nós devíamos ter a boa educação de os encorajar e ajudar a praticar e mentir
simpaticamente sobre a qualidade do português deles.
A língua portuguesa é
difícil de aprender, mas o melhor lugar para a aprender é nos países onde se
fala português. Como em Portugal toda a gente que trabalha em hotelaria sabe
falar inglês é em inglês que se fala. Já se vêem muitas ementas só escritas em
inglês e os portugueses que não sabem falar inglês que se lixem.
Por esta razão cada vez há
mais estrangeiros que não se dão ao trabalho de aprender uma palavra de
português. É pena, porque um dos prazeres de viajar é sentir o sabor das
línguas estrangeiras quando tentamos falá-las.
Os meus amigos estrangeiros
que vivem cá sentem-se frustrados de não poderem praticar o português só porque
os portugueses querem exibir o rigor e a fluência com que falam inglês.
Parece que estamos numa má
comédia do século XIX passada numa colónia inglesa em que nós os indígenas nos
atropelamos para falar inglês com os nossos patrões.
*In “Público” de 26.09.2018 (Nº 10385)
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