Com que então blindados contra crise?!...

sexta-feira, 4 de novembro de 2011
Há já algum tempo alguém com muita responsabilidade na governação, dizia, não me lembro já em que contexto, que Cabo Verde estava blindado (o termo é dessa pessoa) contra a crise.

Fiquei surpreendido porque a afirmação provinha de uma pessoa por quem nutria (e ainda nutro) muito apreço; e também um pouco apreensivo porque a conclusão não coincidia com a percepção que eu tinha (e ainda tenho) da realidade cabo-verdiana e da fragilidade dos seus sistemas económico e financeiro. Na expectativa, em vez de me posicionar como S. Tomé – “ver para crer” – fui obrigado por força das circunstâncias a postar-me como um jogador de póquer – “pago para ver”. E há muito que venho pagando bem caro esta minha curiosidade.

Mas o grave é que, se calhar, é esta posição que deu asas aos disparates e devaneios megalómanos do PM e às suas insensatas promessas. Tinha respaldo…

O caricato agora da situação é a proposta repentina do PM de "reunir consenso para o combate à crise" quando se esperava da parte do Governo, em primeiro lugar, um pedido de desculpa formal e público pelo tremendo e grave logro em que nos fez cair e acreditar. É que a crise não é de hoje e os nossos défices orçamentais continuam a apontar de forma sistemática para o despesismo pondo em perigo o Acordo Cambial com o Euro.

Como nunca é tarde, cá estamos nós prontos a sacrificarmos, pelas imprudências e imprevidências, ou mesmo incompetência, deste governo. Mas o governo se quer austeridade e contenção tem que dar exemplo. E este exemplo passa pela racionalização das suas instituições, a começar pela estrutura do governo.

Assim como ficou provado que o Ministério do Desenvolvimento Social e Família foi um “job for a boy”, portanto dispensável e consequentemente inútil como tal, poder-se-á encontrar ainda outros porque também criados com o mesmo propósito – satisfazer a clientela.

Serão mesmo necessários 3 (três) ministérios para tratar da nossa Educação, Ensino e Cultura? Não estará a mais o Ministério das Comunidades, cujo conteúdo funcional foi sempre assumido pelo Ministério dos Estrangeiros? E quantas direcções gerais têm como dirigente apenas o director-geral? E os vários conselhos de administração com administradores “fantasmas” que só aparecem para receber os salários (normalmente são depositados na conta dispensando as suas presenças) e pôr a cruzinha (assinatura) duas ou três vezes por ano nos “programas”, “orçamentos” e “relatório e contas”?

Comece já por aí porque amanhã poderá ser tarde, Senhor Primeiro-Ministro, e nós então acreditaremos que na realidade quer combater a crise…

AF

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