Sentido de oportunidade linguística é preciso…
segunda-feira, 12 de maio de 2014
Já é a segunda vez que o senhor Primeiro-Ministro, sem o devido contexto e em acto oficial que não profere discurso em língua portuguesa, a nossa Língua oficial, própria e adequada para esse tipo de comunicação, ainda mais em presença de corpo diplomático.
O preocupante é que tal tem acontecido sempre e coincidentemente com um tempo de exaltação e de celebração da Língua oficial de Cabo Verde, da nossa segunda língua e da língua veicular do ensino.
Se não, recordemos: a primeira vez aconteceu na Assembleia-Geral das Nações Unidas, em 2011 e no momento em que os “holofotes” da ONU estavam virados para Dilma Rousself, a Presidente do Brasil que fez o globalizante discurso de abertura em português, o que fez que acontecesse, de alguma forma, o “momentum” da Língua Portuguesa.
Na mesma direcção se seguiram os discursos de Angola, Moçambique, e os dos outros países da Comunidade dos países que fala português.
É bom que fique explicado que os discursos concertados em Língua portuguesa pelos representados dos países da CPLP, surgiram como parte de uma tomada de posição para que a Língua portuguesa seja de facto – ela já é de há muito e oficialmente, uma das línguas desse grande fórum mundial – um dos idiomas realmente assentes no plenário das Nações Unidas;
Não vá sem acrescentar que esta vontade cada vez mais reiterada da CPLP relativamente à Língua comum, tem vindo a acontecer igualmente em muitas outras organizações e em outros fóruns internacionais, com alguns resultados muito encorajadores, dada o aumento da procura e da expansão da Língua portuguesa como idioma de negócios e não só, o que já é visível neste século.
Pois bem, é neste cenário afirmativo da Língua comum que surgiu isoladamente, como que “caído de uma galáxia distante,” Cabo Verde a discursar em Crioulo, o que configurou uma contrariedade a esta afirmação. Daí ter surgido, alguma contrariedade, não expressa, “noblesse oblige” – aqui aplica-se com conteúdo a expressão, uma vez que se trata do meio diplomático – alguma contrariedade, dos outros oradores da língua comum, pela figura isolada, não afinada, que teve e que fez o nosso representante nesse grande fórum mundial.
Mais recentemente, e no momento em que decorrem as celebrações associadas aos 800 anos da Língua portuguesa e às comemorações do Dia da Língua portuguesa e da cultura na CPLP (9 de Maio), apareceu de novo o PM, em cerimónia do Ministério do Ambiente, e perante uma plateia em que estavam diplomatas acreditados no nosso país, a discursar em crioulo.
A coincidência “bisada”… levantou a lebre…
É caso para se dizer: de duas, uma, ou o senhor Primeiro-ministro está sem a adequada orientação linguística para cada ocasião, aqui terão falhado os conselheiros (?) ou tratou-se de recusa da orientação dada por uma opção pessoal (?)...
Custa-me a acreditar que tenha sido um acto de incorrecção e de deselegância deliberadas, para com os representantes diplomáticos, nomeadamente, o de Angola, e o de Portugal, para além dos representantes diplomáticos estrangeiros, acreditados em Cabo Verde, que quando para aqui indigitados, regra geral, são escolhidos entre os que percebem ou já conhecem minimamente, a língua portuguesa.
Convenhamos que está a haver qualquer coisa a funcionar muito mal, em sede do Governo, com a escolha adequada para determinadas ocasiões, de uma das nossas línguas vivas de comunicação, e no caso, de comunicação oficial.
Bom, resta-nos perguntar ao Senhor Primeiro-Ministro se ele quer sair da Comunidade dos países de Língua Portuguesa, a CPLP (?) Se sim, que o faça sozinho, e a título pessoal, pois o falante cabo-verdiano quer conservar o seu património linguístico-cultural que tem acompanhado o desenvolvimento do País, ao longo de séculos.
Se não, então, tomamos a liberdade da lembrar a V. Exa. que deve adequar com propriedade, qual dos nossos dois veículos linguísticos a usar em momentos distintos e em contextos também diferenciados.
O Estado e a nação cabo-verdiana assim o requerem!
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