Este
texto insere-se na homenagem (centenário do seu nascimento, Novembro de
1916) que se presta ao grande cientista Humberto Duarte Fonseca, ilustre
cabo-verdiano que cedo e com constância, se preocupou, estudou e abordou munido
de uma dedicada e sapiente persistência – em textos publicados e trabalhos
legados – com atenta e indesmentível seriedade científica, alguns dos graves
problemas que atormentaram durante séculos as ilhas atlânticas de Cabo Verde.
De entre eles, a seca, as estiagens e o ciclo irregular das chuvas, os ciclones
que nos fustigavam e fustigam, o vulcanismo, entre outros males e causas naturais
que afrontavam e afrontam o Arquipélago.
Humberto
Duarte Fonseca, era natural da ilha de S. Vicente, onde nasceu a 20 de Novembro
de 1916, oriundo de uma família pertencente à chamada classe média da cidade de
Mindelo, composta por sete irmãos. Todos
estudaram e singraram bem nas respectivas carreiras profissionais. O pai,
Torquato Gomes Fonseca também nascido em Mindelo, era filho de santantonenses. Estudou
no Seminário-Liceu de S. Nicolau e foi funcionário dos Correios, tendo chegado
a Director de Serviço. Exerceu outros cargos de relevo em Mindelo e na Praia. A
mãe, Leopoldina Duarte Fonseca, igualmente mindelense, cuja ascendência proveio
da ilha de S. Nicolau, foi uma educadora de mérito da sua numerosa prole,
tendo-lhe transmitido valores em que o estudo, o trabalho, a honestidade, a
seriedade e a honra foram traços fundamentais e dignificadores, na formação
humana dos seus filhos.
Ora
bem, é nesse ambiente de família bem estruturada que nasceu e cresceu Humberto
Duarte Fonseca.
Humberto
Duarte Fonseca fez os estudos primários e secundários em Mindelo. Uma nota
interessante: o pai, Torquato, exigia que os filhos repetissem – “mesmo que se tratasse do melhor aluno da sala” (Transcrito
de «Notas Biográficas sobre Humberto Duarte Fonseca» de Maria Adélia de Barros
Fonseca) – a quarta classe, que à época era o 2º grau da instrução
primária. O progenitor considerava que era o ano escolar charneira e por isso,
ano-chave na aquisição de bases sólidas para a continuação do outro patamar, o
do ensino liceal. Presumo que mais tarde, esta repetição foi pedagogicamente
reconhecida e “formalizada” como “admissão aos liceus”.
Humberto
D. Fonseca dedicava muitas horas do seu tempo à ginástica, ao desporto –
futebol e, sobretudo, natação – só se revelando aluno distinto a partir dos 15
anos. Quando terminou o Liceu, convidaram-no para ser professor do mesmo
estabelecimento de ensino. Aí se manteve alguns anitos, até seguir para
Portugal onde prosseguiu com brilhantismo o curso de Ciências Matemáticas na Faculdade
de Ciências de Lisboa. Em Lisboa já se encontravam outros irmãos – ele é o 4º
de entre eles – que faziam os seus respectivos estudos universitários e que o
apoiavam. Mercê das muitas explicações de matemática que dava, enquanto
estudante, cedo prescindiu da mensalidade que o pai com manifesto sacríficio
enviava de S. Vicente para os filhos, estudantes em Lisboa.
Portanto,
auto-sustentou-se e ei-lo a completar com alta classificação o curso. Formou-se
mais tarde, sempre com altas notas, como engenheiro geógrafo e fez também o
curso de Geofísica.
Quadro
distinto dos serviços meteorológicos e geofísicos, onde desempenhou em Portugal,
Cabo Verde e Angola, funções de chefia.
Posto
isto, gostaria de entrar agora na faceta que o tornaria conhecido – o de cientista,
investigador e inventor.
Humberto
D. Fonseca muito cedo se revelou um curioso e um estudioso dos problemas que
afligiam estas ilhas, como já foi referido. O problema das secas e das
estiagens devastadoras e visitantes frequentes e indesejadas do Arquipélago de
Cabo Verde, com o seu cortejo de mortandades e de miséria, fizeram parte das
suas inquietações e preocupações de pesquisador.
Igualmente
cedo se interessou em como tirar-se proveito daquilo que hoje, se convencionou chamar
“energias renováveis”. Foi sempre um ambientalista, um ecologista, num tempo
que isso era pouco conhecido e falado entre nós.
De
forma interessante explica a esposa, Maria Adélia de Barros Fonseca, autora de:
«Notas Biográficas sobre Humberto Duarte Fonseca» apresentadas em Mindelo em
1993, no fórum alusivo ao décimo aniversário da morte desse insigne
cabo-verdiano. A determinada altura, informa-nos M. Adélia Fonseca que: “Humberto Fonseca começou, desde muito
pequeno a revelar interesse e curiosidade pelos fenómenos da natureza e a sua
atenção era frequentemente despertada para os efeitos do vento e do sol, para a
enregia das ondas do mar e para outros efeitos semelhantes. Contam os irmãos
que, muitas vezes, ao ter de travar o moinho de vento que, na habitação de seus
pais, captava água para encher um tanque que servia de piscina para a sua turma
de rapaziada, lastimava que toda aquela energia se perdesse ingloriamente
quando poderia ser aproveitada por engenhos adequados; não lhe escapava,
também, o facto de o vento soprar forte, em S. Vicente, cerca de 300 dias por
ano; pelo facto de passar muitas horas junto da praia e da orla marítima exprimia
a sua contrariedade pela falta de aproveitamento da energia que emanava das
ondas do mar. Estes e outros factos semelhantes foram despertando no seu
espírito desde muito jovem”.
Mais
tarde, formado, investigador e inventor com um curriculum rico que espelha e atesta a dimensão do estudioso
aplicado, sério e criativo, Humberto Fonseca, havia de realizar alguns dos seus
muitos sonhos de menino e moço de S. Vicente.
Com
efeito, Humberto Fonseca levou a vida intensamente virada para o estudo e para
a investigação. Algo que começou na
juventude e continuou ao longo do resto de toda a sua vida, em trabalhos de
pesquisa, sobre os elementos da natureza, as variações climatológicas, os
quais, as mais das vezes, pela sua força adversa, maltratavam as ilhas de Cabo
Verde o que preocupava e inquietava esse grande espírito humanista e pensador.
Por
outro lado, também foi-se apercebendo em estudos e reflexões de que a energia
do vento, do mar e do sol podiam ser também viradas positivamente para o
desenvolvimento destas ilhas, e assim vamos tendo nesse laborioso percurso e
nos seus principais inventos, o objectivo pretendido pelo criador:
Barragem
Anemomotriz – 1968 – Medalha de bronze no Salão Internacional de Invenções e
Técnicas Novas de Bruxelas.
Gravímetro
Absoluto Fotoeléctrico de Mercúrio – 1969 – Medalha de ouro com felicitações do
Júri e medalha de Honra da cidade de Bruxelas.
Balizador
Tangencial – 1970 – Medalha de ouro com felicitações do Júri e Taça de cristal
da Boémia. Bruxelas.
Teleondâmetro
de Impulsos – 1971 – Medalha de ouro com felicitações do Júri. Bruxelas.
Fluxicóptero
– 1971 – Medalha de ouro. Bruxelas.
Dispositivo
de Aceleramento da Evaporação de soluções salinas para a indústira do sal –
1978 (co-inventor) – Medalha de ouro no Salão internacional de Genéve.
Barragem
Ecológica – 1978 – Medalha de ouro no Salão internacional de Genéve.
Anjo
Eólico – 1981 (co-inventor) – Medalha de ouro no Salão Internacional de Genéve.
Para
além dos inventos premiados internacionalmente, Humberto Duarte Fonseca é
criador de outros engenhos e de mais aparelhos, que não foram apresentados
internacionalmente. São eles:
Patim
Bengala – 1977;
Saco
Termo-Solar – 1978;
Estação
Telegravimétrica Automática – 1979;
Também
em Portugal, obteve numerosos outros prémios dos quais se destacam:
1951
– Prémio Junta de Investigação do Ultramar;
1958
– Prémio de Física do Instituto de Angola;
1971
– Prémio Peixoto Correia da Fundação Cuca;
1972
– Prémio Salão de Invenções da FIL. (Feira Internacional de Lisboa);
1983
– Medalha de Ouro de Mérito da Cidade de Lisboa;
Deixou
muitos ensaios/teses escritos e publicados em revistas científicas e em
separatas. Foi colaborador assíduo do antigo Boletim «Cabo Verde» 1949/1964,
publicado na cidade da Praia.
Gostaria
de nesta oportunidade trazer ao leitor uma passagem de um artigo de H. Fonseca –
seja aqui acrescentado que Humberto D. Fonseca escrevia muito bem e possuía o
dom da palavra e, consequentemente, muita facilidade de falar em público, com à-vontade,
e de improviso, que nós, os seus sobrinhos, e toda a família admirávamos.
Ora
bem, a páginas tantas de um dos artigos, ele escreveu o excerto que se segue e que,
no nosso entender, definia o que ele era na realidade:” (...) Nós, homens e mulheres oriundos de uma terra pobre como esta,
temos de estar permanentemente vinculados à dramática problemática da promoção
social da nossa gente, e onde quer que estejamos e seja qual fôr a actividade
que nos ocupe, o cordão umbilical que nos liga à terra, deve funcionar, não só
sob uma mera forma platónica do culto da morna ou da saudade, mas sim
procurando dar um contributo válido para o progresso geral da pobre terra”.
Devo
confessar que me socorri da boa memória do meu mano mais novo, o Hugo, que o
decorou, memorizou-o quando leu esta passagem da mensagem do tio. Excerto
aliás, que Hugo Fonseca Rodrigues, mais tarde, havia de transcrever, como se de
prefácio se tratasse (numa homenagem ao tio Humberto), para o seu livro de
poemas: «Burcan» publicado em 1974.
Retomando,
não vá sem acrescentar que os campos de interesse deste cientista, não se
confinaram apenas ao mundo da ciência – pura e aplicada. Não. Ele demonstrava interesse
por quase tudo que a Cabo Verde dissesse respeito. Um desses centros de interesse
era a Literatura cabo-verdiana. Não sei
se publicado, ou não, sei que ele escreveu, nos anos 60 do século passado, um
excelente texto: «Saudação ao poeta Jorge Barbosa» creio que lida numa
homenagem feita ao grande poeta, na ilha do Sal ou, em Lisboa. Não me
certifiquei do local. Além disso, e por ocasião da morte do poeta Daniel Filipe
(Boa Vista, 1925, Lisboa, 1964) ele enviara um texto/mensagem ao antigo e prestigiado
Boletim «Cabo Verde» – texto transcrito neste Blogue (vide “Daniel Filipe, o
poeta da solidão e do exílio” de 10 de Abril de 2016) em que H. Duarte Fonseca anunciava
a morte prematura do poeta e pedia ao Director, Dr. Bento Levy, que a revista que dirigia não deixasse passar
em branco, tal notícia e que homenageasse
tão insigne figura e qualificado poeta
que teve vida breve. De facto, Daniel Filipe mereceu nesse número da revista
uma destacada lembrança, pois que para além do texto/carta do promotor da
homenagem ao poeta luso-cabo-verdiano, também apareceu uma evocação ao poeta, «Apenas um Búzio» da escritora Maria
Rosa Colaço, bem como poemas de Daniel Filipe.
E
a propósito da colaboração escrita e das muitas intervenções, muitas mesmo,
deste querido conterrâneo, protagonista deste escrito, refiram-se as do
«Colóquio Cabo-verdiano» realizado em 1961, de que H. Duarte Fonseca foi um dos
mais notáveis impulsionadores e activo co-organizador.
Sobre
o «Colóquio cabo-verdiano», transcrito no Boletim «Cabo Verde», nº 142, de
Julho de 1961, um texto de sua autoria em que rectifica a notícia transcrita
das Actas do Colóquio, nomeadamente o seu ponto nº 8 sobre o grogue de Santo
Antão. Acérrimo defensor da produção da boa aguardente da ilha das montanhas,
de cuja qualidade tanto enaltecia que ele se orgulhava de a oferecer a
paladares requintados deste tipo de bebida. De igual modo, reconhecia ele que a
produção da aguardente de cana constituía uma fonte de rendimento para os seus
agricultores e, como tal, devia ser incentivada. Isto porque se apercebeu a
certa altura, de que poderia estar em marcha alguma “manobra” encoberta no
sentido de se acabar com o cultivo da cana sacarina, a pretexto de substituí-la
pelo da banana. Vai daí, em extenso artigo, publicado no citado número do «Cabo
Verde», tecer considerandos sobre a ausência de lógica, explicitada na
conclusão mas que ele aceitava que até poderia ter sido um erro na redacção da
Acta, para aquele ponto, dado que, tal como redigido, expressava um autêntico contra-senso.
Para ele, o problema colocava-se da seguinte maneira: “Há regiões onde a cana se produz bem e banana mal, sendo aí
anti-económica a sua substituição(...)” Mas Humberto Fonseca não se quedou
nesses considerandos. Escreveu logo a seguir um belo artigo em defesa dos
produtores da aguardente da ilha de Santo Antão, com uma força emotiva tal, e
um argumentário assaz lógico e assertivo, que nos faz pensar que se alguma
intenção houvera, da parte das autoridades da época, em acabar com o cultivo da
cana, ela não se verificou da forma como deixava antever. No texto, o autor
convida em tom irónico, a quem pensasse em atirar pedras aos “pobres produtores da riquíssima aguardente
de Cabo Verde” com manifestos prejuízos económicos, mas que antes de tal
acto praticarem que o seguissem numa viagem imaginária a países, onde, com
cuidados e com real e abrangente lógica mercantil, se produzia aguardente. “(...) Antes de apedrejarmos os fabricantes
da aguardente de Cabo Verde, passemos às regiões do Minho e Douro e apedrejemos
os vinhateiros; apliquemos a mesma pena aos fabricantes de aguardentes várias
da metrópole (bagaceira, macieira, medronhos, etc ) depois passemos à Espanha
munidos de pedras, pois temos muito que fazer (o belíssimo Fundador, D. Carlos
I, Pedro Domecq, etc); prossigamos através dos Pirenéus e lapidemos os homens
de Champanhe, Bordeaux e tantas outras regiões alcoogénicas da França; atiremos
pedras também aos do Reno e aos cervejeiros alemães, holandeses, etc, etc.
Depois disso – e enquanto viajamos para Cabo Verde, meditando nos graves e
injustificáveis prejuízos económicos causados às populações daquelas tão ricas
e cativantes paisagens europeias – preparemos pedras a atirar aos pobres
produtores da riquíssima aguardente de Cabo Verde (...) terra cuja
produtividade flutua ao sabor da lotaria das chuvas de Outubro; terra onde todos
os produtos ricos devem ser acarinhados, valorizados, industrializados e
lançados sob protecção da nossa diplomacia económica, nos mercados
internacionais” (Julho de 1961)
Era
assim, o perfil deste filho das ilhas. Sempre muito atento e oportuno na defesa
e/ou na condenação de matérias que mexessem com as ilhas. E isso não importava
a que coordenadas geográficas ele se encontrava.
Contava
ele que o facto de passar férias, jovem, nos anos 40 do século XX, nos
Mosteiros, na ilha do Fogo, em casa da irmã mais velha, Celina, (nossa mãe)
casada com um foguense (nosso pai, Hugo Rodrigues) permitiu-lhe o contacto com
um ambiente eminentemente rural, agrícola, e despertou-lhe um enorme interesse
pelos problemas próprios do meio agrícola, com particular acuidade para a
questão da cultura do milho, da forma como era dependente das chuvas que ora
vinham, ora não vinham, tendo ele chegado a defender e a recomendar, o cultivo
de um tipo de milho menos exigente de água.
Nota
interessante é que Baltazar Lopes da Silva, no número da revista «Ponto &
Vírgula» de Abril/Setembro de 1985, na rubrica que assinava: “Vária Quedam” a
propósito das chuvas e da economia agrária das ilhas, anotou sobre Humberto
Duarte Fonseca o seguinte: “(...) Claro
que nem todos atribuirão as chuvas que caem nesses dias à intercessão dos
santos que neles são especìficamente cultuados. E o problema que então se põe
será o de saber que alterações meteorológicas e/ou cósmicas estão na raiz de
tais precipitações. Cá está matéria
digna de investigação e da perspicácia dos homens de estudo da nossa terra
(...) de um sei eu certo que, se a morte
o não tivesse levado tão cedo, se teria dedicado ao problema com o entusiasmo
cabo-verdiano e a responsabilidade científica que o caracterizavam. Refiro-me a
Humberto Fonseca (...) era um dos maiores e mais úteis valores que tão
necessários seriam à nossa terra.” (o negrito é nosso)
Por
ocasião do décimo aniversário da morte de H. Duarte Fonseca, em 1993, um grupo
de Quadros cabo-verdianos, ligados à meteorologia, ao ensino e à pesquisa,
enquadrados pela Associação para o Desenvolvimento e para o Ambiente ADAD
presidida pelo Dr. Januário Nascimento, prestou-lhe uma homenagem
significativa, organizando na altura um fórum: “Humberto Duarte Fonseca, o
Homem e o Cientista”, realizado na cidade do Mindelo, no salão nobre da Câmara
Municipal da ilha de S. Vicente.
Não
corro perigo algum de qualquer exagero, afirmar ser, Humberto Duarte Fonseca, o
cabo-verdiano que mais medalhas e distinções obteve (até ao momento em que escrevo
estas linhas) por notáveis trabalhos científicos.
Trabalhou
até morrer, escrevendo e criando sempre, mesmo acamado, nos períodos de
melhoras que a doença lhe proporcionava. Lúcido e criador até fechar os olhos
para sempre.
Viveu
com simplicidade e tinha um grande desprendimento, nada afectado, pelos bens
materiais. Aliás, ele era conhecido entre os colegas como o “Bom Pastor.”
Generoso, acudia da sua algibeira e com as suas palavras, quem necessitado de
ajuda estivesse. Quando sentiu que a morte já o queria, pediu à mulher que
fosse enterrado em “caixão de pinho”. Entenda-se o simbolismo do pedido: o mais
simples e o menos oneroso, pois que isso fazia jus à forma como ele passara
pela vida. As vaidades mundanas e o mundo do parecer, pouco, ou quase nada, lhe
diziam.
Passados
agora 100 anos sobre o seu nascimento, a viúva, os filhos, os familiares, os
amigos, antigos colegas e algumas instituições e associações com as quais,
Humberto Duarte Fonseca trabalhou e colaborou; todos eles, em boa hora, prestam-lhe
uma merecida homenagem na cidade de Lisboa, a 19 de Novembro próximo.
A
seguir, de forma resumida e abreviada a sua vasta folha curricular de
brilhantes serviços e obras deixadas.
Biografia
de Humberto Duarte Fonseca
(coligida
e adaptada da brochura: «Notas biográficas sobre H. Duarte Fonseca» obra
citada, de autoria de Maria Adélia de Barros Fonseca, viúva do biografado)
1916
– Nascimento na cidade do Mindelo, ilha de S. Vicente, Cabo Verde
Filiação
– Torquato Gomes Fonseca, nascido em Mindelo, de pais oriundos da ilha da Santo
Antão e de Leopoldina Duarte Fonseca, nascida em Mindelo, de pais oriundos da
ilha de S. Nicolau.
1923/1927
– Estudos primários na escola central do Mindelo.
1928/1936
– Estudos liceais no Liceu Infante D. Henrique, mais tarde Liceu de Gil Eanes
em S. Vicente.
!937/1940
– Professor liceal em Mindelo, das disciplinas de Matemática, Ciências
Naturais, Higiene e Educação Física.
!941/1946
– Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Frequência e conclusão da
licenciatura em Ciências Matemáticas (17 valores).
1946
– Presidente da Associação Académica da Faculdade de Ciências de Lisboa.
1946/48
– Presidente da Casa dos Estudantes do Império C.E.I. (Nota com interesse: um ano antes, em 1945, Humberto Fonseca e
Aguinaldo Veiga, ambos membros da Direcção da CEI, intervieram e pugnaram para
que o jovem setemanista, recém-chegado a Lisboa, vindo de S. Vicente, Amílcar
Lopes Cabral, obtivesse uma Bolsa de Estudos, com a qual cursou Agronomia,
embora o beneficiado não fosse “natural” de Cabo Verde como mandavam os
critérios para a atribuição da referida Bolsa de Estudos).
1947/48
– Curso de Geofísica, na mesma Faculdade, com a classificação final de 16
valores.
1948
– Meteorologista do Serviço Meteorológico Nacional (SMN).
1949/1950
– Concluiu com a nota final de 16 valores, o curso de Engenheiro Geógrafo,
também feito na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
1950
– Director do Observatório Meteorológico de Mindelo, ilha de S. Vicente, Cabo
Verde.
1951
– Membro da expedição científica à erupção do vulcão da ilha do Fogo, Cabo
Verde. Foi Humberto Duarte Fonseca quem denominou os dois montes surgidos com a
erupção de «Monte Rendall», (Luís Silva Rendall, Administrador do Concelho do
Fogo e incansável no socorro à população afectada) e, «Monte Orlando» (Prof.
Orlando Ribeiro, chefe da expedição científica ao vulcão do Fogo).
1953/54
– Bolseiro da Junta de Investigação do Ultramar – Paris.
1958/60
- Delegado à Comissão Meteorológica Marítima da Organização Meteorológica
Mundial.
1959
– Chefe do Departamento de Geofísica do Serviço Meteorológico de Angola. Chefe
da expedição científica ao Iona – Angola.
1960
– Vice-Presidente da Sociedade Cultural de Angola – Luanda.
1961/62
– Bolseiro da Junta do Ultramar – Cabo Verde.
1967
– Chefe do Serviço Meteorológico de Cabo Verde.
1968
– Chefe do Departamento de Estudos do Serviço Meteorológico de Angola, como
Meteorologista-Inspector.
1970/75
– Presidente da Associação Portuguesa de Inventores – Luanda.
1972/73
– Membro convidado do Júri Internacional do Salão de Invenções de Bruxelas.
1973
– Representante do Serviço Meteorológico de Angola na Subcomissão Nacional do
Meio Ambiente.
1974/76
– Membro do Júri Internacional do Salão Internacional de Invenções e Técnicas
Novas – Genéve, Suiça.
1975
– Representante de Portugal e de Angola ao Congresso Meteorológico Mundial –
Genéve. Subdirector do Serviço Meteorológico de Angola e Professor da Cadeira
de Meteorologia da Universidade de Luanda.
1976/79
– Presidente da Assembleia Geral e Director do Centro de Invenção da Associação
Portuguesa de Criatividade (APC) – Lisboa. Coordenador de Departamento do
Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica em Lisboa.
1979
– Director do Serviço de Geofísica do INMG. Lisboa. Director da Revista
Inventiva da APC. Delegado de Portugal ao Congresso Meteorológico Mundial –
Genéve.
1980
– Reeleito Presidente da APC – Associação Portuguesa de Criatividade. Lisboa
1983
– Faleceu em Lisboa, no ano em que completaria 67 anos de idade, por doença.
P.
S. Agora a minha nota pessoal, do muito afecto que lhe tive em vida e de
memórias boas que guardo desse tio querido e padrinho muito estimado. Estima
aliás, que toda família lhe expressava, pois que para além de sabedor e de
alguém naturalmente professor, com atitudes permanentemente pedagógicas, era
também pessoa cativante na sua forma de estar e de falar connosco; o tio
Humberto era acima de tudo, um familiar em quem esta definição assentava bem,
pois que ele demonstrava e distribuía amizade por todos os seus parentes, dos
mais próximos aos mais afastados, mesmo àquele que ele tivesse acabado de
conhecer. Ele era assim, de natureza e de feitio. É uma das memórias que dele
guardo, para além dos muitos ensinamentos, quer de teor científico, quer de
teor humano que dele ouvi e interiorizei.
3 comentários:
Emocionou-me a leitura desta evocação. Em Cabo Verde, não abundam os exemplos de tanta sabedoria científica, humanismo e devoção ao torrão natal reunidos na mesma pessoa. Tanta falta sentimos hoje de homens do calibre do Eng. Duarte Fonseca!
Infelizmente, deixou-nos numa idade em que muito teria ainda a dar.
Li com muito apreço e emoção esta biografia do engº Humberto Duarte Fonseca e não posso deixar de sentir uma admiração por um homem tão talentoso e, simultaneamente tristeza por ter falecido quando muito ainda podia dar ao seu país.
Sou investigadora precisamente da geração que esteve na direcção da CEI nos anos 40-50 e procuro dados sobre um estudante, Jorge Duarte Fonseca, que se suicidou precisamente nas instalações da CEI.
Será que pertencem à mesma família?
Deixo aqui o meu email: juliacoutinho@gmail.com
e ficaria muito grata se pudessem ajudar-me.
Muito obrigada.
julia coutinho
Obrigada pelo comentário feito sobre o artigo ao meu querido e inesquecível tio Humberto. Morreu cedo, é verdade, (um cancro osséo) e tinha ainda muito para dar...
Outro assunto: Jorge Duarte Fonseca, irmão de Humberto, ambos meus tios ,porque manos da minha mãe, era dos mais novos, estudou no Instituto Superior de Agronomia,em Lisboa. Após a licenciatura, que a fez com boas classificações, pôs termo à vida em 1949, ainda bem jovem. Um desgosto amoroso, conduziu a tragédia. A família Duarte Fonseca, originária de Mindelo, ilha de São Vicente, era de uma casa ( a dos meus avós) de estudantes (7 filhos) brilhantes no Liceu Infante D. Henrique, posteriormente Liceu de Gil Eanes do Mindelo, e que prosseguiram os estudos superiores em Portugal, nos finais dos anos 30/40.
Educados de forma quase “espartana”muito contida em bens materiais, mas alargada em bens para o espírito com valores, por uma mãe doméstica e verdadeira educadora e por um pai, funcionário público dos CTT de Cabo Verde, com estudos feitos no antigo Seminário-Liceu da ilha de São Nicolau e que chegou a Director de serviço.
Eis pois, prezada Doutora Júlia Coutinho, alguns parcos informes, sobre estes meus dois tios.
Reiterando os agradecimentos pelo seu sentido comentário, envio um abraço:
Ondina
Enviar um comentário