Recado aberto, urgente e amigo para a Escola Secundária da melhor aluna 2017/2018 de Cabo Verde

segunda-feira, 17 de setembro de 2018



Transmitida na RTC, (televisão nacional) a conversa entre a aluna do 12º- Ano que obteve a média de 19,5 valores e uma Jornalista (para o que se segue convém referir que a Jornalista reportou em português, o conteúdo da entrevista).
A aluna teve Bolsa de Mérito, naturalmente. Até aqui tudo bem. As minhas felicitações.
A Bolsa de Mérito é dada para medicina a ser feita em Portugal. Òptimo!
Agora a parte a um tempo hilariante e revoltante, a nossa menina, não se expressa em Língua portuguesa. Foi significativa a amostragem que disso ficou registado no programa televisivo em que ela foi entrevistada. Expressou-se apenas em crioulo.
Fiquei preocupada com o que vi e ouvi e coloquei a mim própria as seguintes questões:
 1 – Como é possível que a melhor aluna do ensino secundário de Cabo Verde, chegue ao final dos 12 anos de estudos, com a média de 19,5 valores e não saiba expressar-se em Língua portuguesa? (pelo menos foi isso que ficou demonstrado na entrevista da RTC,  num dos Jornais da noite de Domingo, do mês em curso). Simplesmente constrangedor!
2 – Como é possível que os responsáveis da Educação de Cabo Verde, cientes e mais do que sabidos sobre aquilo que se passa com o ensino nas escolas aqui nas ilhas, seleccionem e enviem alunos para Portugal, para cursos como medicina e outros, sabendo que eles não se expressam na língua de ensino que doravante irão enfrentar?
Assim feito, não será condená-los “ab initio” ao fracasso, à frustração, à emigração clandestina,  logo no 1º-  Ano dos estudos universitários?
3 – Será que esta candidata a médica e mais ainda, melhor aluna de Cabo Verde no ano-lectivo transacto, estará apta a escutar e a descodificar o que dirão nas aulas teóricas e práticas, os  seus professores da Faculdade de Medicina?
4 - Dito isto, não estou a culpá-la. Ela é a menos culpada de todos. É a nossa Língua oficial e de ensino, a Língua portuguesa que devia ter sido estudada e falada na escola, pelos seus professores e por ela, aqui em Cabo Verde.  
A culpa está na escola, está nos professores que ela teve e que a não expuseram  suficientemente à língua portuguesa, a qual, até sinal contrário, continua a ser a língua veicular do ensino em Cabo Verde. (consultem senhores professores, a Lei de Bases do Ensino).
Chegados a este ponto, peço-vos senhores professores que me expliquem como é que a vossa aluna, recentemente saída da escola onde ensinais, vai dialogar com os colegas? Tirar dúvidas com os professores? Será em Crioulo? Sim, como é que ela estudará em livros mais complexos conceptual e cientificamente, se não foi exposta à língua que se pratica – oral e escrita - na Faculdade de medicina portuguesa, que irá frequentar?
Deixo aqui manifesta a minha indignação veemente! Não há direito! Estar já a condenar ao fracasso, (infelizmente já vem sendo recorrente em Portugal com alunos universitários oriundos de Cabo Verde) uma jovem cheia de sonhos e de expectativas, na realização dos seus estudos universitários.
Outrossim, isto é chocante pois que daquilo se trata, diz respeito à nossa Língua também. A Língua portuguesa. Ausente e esquecida  na escola cabo-verdiana.
Pois bem, a nossa escola precisa ser denunciada publicamente. O que se está a passar e na minha opinião,  é um verdadeiro crime sem aspas, que o ensino nacional está a cometer actualmente com os nossos jovens que atingem o 12-º ano do ensino secundário, sem serem capazes de se expressarem minimamente, em Língua portuguesa, a língua segunda e oficial deste país  - e isto para não falar também dos fracos conhecimentos das cadeiras científicas com que muitos terminam o ensino secundário -  e que querem prosseguir no exterior os estudos universitários,  sobretudo em Portugal, país para o qual ganha bolsa e/ou vaga, de uma maneira geral, o aluno com melhor média atingida no 12º Ano.
Reitero o que aqui escrevi em tempos, sabemos todos que as notas estão altamente inflaccionadas, que os professores mal ensinam - excepções hão-de existir, estou certa. Mau seria se assim não fosse... -  Logo, a equação bom aluno/melhor média das notas, nem sempre corresponde à realidade do que se passa nas escolas secundárias do País. Uma verdadeira falácia!
Na hora actual, e ao ponto a que a falta de qualidade de ensino, entre nós chegou tudo isso é um autêntico logro! Uma fraude cometida  pela escola pública cabo-verdiana aos alunos.
Para terminar, desejo que a jovem que obteve a Bolsa de Mérito de Cabo Verde e que para Portugal se dirige, aprenda rapidamente e fale com à-vontade  - lendo, ouvindo, escutando rádio vendo tv; conversando com jovens portugueses, com colegas lusófonos; indo ao teatro, entre outras formas de contacto e de aprendizagem de uma  língua viva, de que ela vai necessitar com premência. Só assim conseguirá resultados positivos nos seus estudos de medicina.
  Boa sorte!

1 comentários:

zeca soares disse...

É pena, Dona Ondina Ferreira, que não consigo compartilhar este seu "Recado Aberto"
De facto é lamentável aquilo que tem passado com o nosso sistema de ensino, particularmente em relação à língua Portuguesa. Na minha modesta opinião, ela se esta a reflectir, de certa forma, no comportamento e na atitude duma certa "elite", a mais culta e com responsabilidade na nossa sociedade, e que devia ser exemplo a seguir.

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