Transmitida
na RTC, (televisão nacional) a conversa entre a aluna do 12º- Ano que obteve a média de 19,5 valores
e uma Jornalista (para o que se segue convém referir que a Jornalista reportou
em português, o conteúdo da entrevista).
A
aluna teve Bolsa de Mérito, naturalmente. Até aqui tudo bem. As minhas
felicitações.
A
Bolsa de Mérito é dada para medicina a ser feita em Portugal. Òptimo!
Agora
a parte a um tempo hilariante e
revoltante, a nossa menina, não se expressa em Língua portuguesa. Foi
significativa a amostragem que disso ficou registado no programa televisivo em que
ela foi entrevistada. Expressou-se apenas em crioulo.
Fiquei
preocupada com o que vi e ouvi e coloquei a mim própria as seguintes questões:
1 – Como é possível que a melhor aluna do
ensino secundário de Cabo Verde, chegue ao final dos 12 anos de estudos, com a
média de 19,5 valores e não saiba expressar-se em Língua portuguesa? (pelo
menos foi isso que ficou demonstrado na entrevista da RTC, num dos Jornais da noite de Domingo, do mês em
curso). Simplesmente constrangedor!
2 –
Como é possível que os responsáveis da Educação de Cabo Verde, cientes e mais
do que sabidos sobre aquilo que se passa com o ensino nas escolas aqui nas
ilhas, seleccionem e enviem alunos para Portugal, para cursos como medicina e outros,
sabendo que eles não se expressam na língua de ensino que doravante irão
enfrentar?
Assim
feito, não será condená-los “ab initio”
ao fracasso, à frustração, à emigração clandestina, logo no 1º- Ano dos estudos universitários?
3 –
Será que esta candidata a médica e mais ainda, melhor aluna de Cabo Verde no ano-lectivo
transacto, estará apta a escutar e a descodificar o que dirão nas aulas
teóricas e práticas, os seus professores
da Faculdade de Medicina?
4 -
Dito isto, não estou a culpá-la. Ela é a menos culpada de todos. É a nossa
Língua oficial e de ensino, a Língua portuguesa que devia ter sido estudada e
falada na escola, pelos seus professores e por ela, aqui em Cabo Verde.
A
culpa está na escola, está nos professores que ela teve e que a não expuseram suficientemente à
língua portuguesa, a qual, até sinal contrário, continua a ser a língua
veicular do ensino em Cabo Verde. (consultem senhores professores, a Lei de Bases
do Ensino).
Chegados
a este ponto, peço-vos senhores professores que me expliquem como é que a vossa
aluna, recentemente saída da escola onde ensinais, vai dialogar com os colegas?
Tirar dúvidas com os professores? Será em Crioulo? Sim, como é que ela estudará
em livros mais complexos conceptual e cientificamente, se não foi exposta à
língua que se pratica – oral e escrita - na Faculdade de medicina portuguesa,
que irá frequentar?
Deixo
aqui manifesta a minha indignação veemente! Não há direito! Estar já a condenar
ao fracasso, (infelizmente já vem sendo recorrente em Portugal com alunos universitários
oriundos de Cabo Verde) uma jovem cheia de sonhos e de expectativas, na
realização dos seus estudos universitários.
Outrossim,
isto é chocante pois que daquilo se trata, diz respeito à nossa Língua também. A
Língua portuguesa. Ausente e esquecida
na escola cabo-verdiana.
Pois
bem, a nossa escola precisa ser denunciada publicamente. O que se está a passar
e na minha opinião, é um verdadeiro
crime sem aspas, que o ensino nacional está a cometer actualmente com os nossos
jovens que atingem o 12-º ano do ensino secundário, sem serem capazes de se
expressarem minimamente, em Língua
portuguesa, a língua segunda e oficial deste país - e isto para não falar também dos fracos
conhecimentos das cadeiras científicas com que muitos terminam o ensino
secundário - e que querem prosseguir no
exterior os estudos universitários,
sobretudo em Portugal, país para o qual ganha bolsa e/ou vaga, de uma
maneira geral, o aluno com melhor média atingida no 12º Ano.
Reitero
o que aqui escrevi em tempos, sabemos todos que as notas estão altamente
inflaccionadas, que os professores mal
ensinam - excepções hão-de existir, estou certa. Mau seria se assim não
fosse... - Logo, a equação bom
aluno/melhor média das notas, nem sempre corresponde à realidade do que se passa nas
escolas secundárias do País. Uma verdadeira falácia!
Na
hora actual, e ao ponto a que a falta de qualidade de ensino, entre nós chegou
tudo isso é um autêntico logro! Uma fraude cometida pela escola pública cabo-verdiana aos alunos.
Para
terminar, desejo que a jovem que obteve a Bolsa de Mérito de Cabo Verde e que
para Portugal se dirige, aprenda rapidamente e fale com à-vontade - lendo, ouvindo, escutando rádio vendo tv;
conversando com jovens portugueses, com colegas lusófonos; indo ao teatro,
entre outras formas de contacto e de aprendizagem de uma língua viva, de que ela vai necessitar com
premência. Só assim conseguirá resultados positivos nos seus estudos de
medicina.
Boa sorte!
1 comentários:
É pena, Dona Ondina Ferreira, que não consigo compartilhar este seu "Recado Aberto"
De facto é lamentável aquilo que tem passado com o nosso sistema de ensino, particularmente em relação à língua Portuguesa. Na minha modesta opinião, ela se esta a reflectir, de certa forma, no comportamento e na atitude duma certa "elite", a mais culta e com responsabilidade na nossa sociedade, e que devia ser exemplo a seguir.
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